GQ (Portugal)

O que dizem os teus relógios?

SE DIZEM QUE OS OLHOS SÃO O ESPELHO DA ALMA SERÁ O RELÓGIO O ESPELHO DA PERSONALID­ADE DO DONO?

- POR ANA SALDANHA

Talvez seja fácil explicar porque comprámos certo relógio: gostamos da marca e do design, queremos uma peça nova ou diferente… Mas será que a história é assim tão simples? Aliás, será a escolha de um relógio puramente estética? Ou terá apenas em conta a componente prática e funcional? Achámos que o assunto dava pano para mangas e que até havia aqui potencial para uma pequena análise sobre a psicologia por trás da compra de um relógio. O mundo encantado da Internet revela que há mais gente a pensar sobre este assunto e a abordá-lo de diferentes formas – O seu relógio diz mais sobre o seu status do que você pensa (The Wall Street Journal), Estudo mostra que sim, as pessoas que usam relógios são seres humanos superiores (Hodinkee) ou O que o seu estilo de relógio diz sobre si (Esquire) –, mas a história “diz-me que relógio tens no pulso, dir-te-ei quem és” ganha outra dimensão quando a análise é feita por dois especialis­tas em relógios.

“Há muitas coisas que se podem concluir pela observação do pulso de um homem. Por exemplo: se usa ou não relógio, uma vez que é dos poucos acessórios em que os homens podem usar e abusar, quando se preocupam com a sua apresentaç­ão; o tamanho da caixa, que pode estar ligado a um caráter mais discreto ou mais excessivo; o material em que é construída a caixa e/ou a correia, que podem ser reveladore­s do nível social; se é um vintage ou moderno, já que os relógios antigos podem esconder histórias de família curiosas ou um interesse especial em relojoaria e se é um clássico ou um desportivo, que pode revelar-nos o seu estilo de vida”, conta Marta Torres, CEO da Watchers (o novo nome da bem conhecida Torres Distribuiç­ão, que chega no âmbito de um rebranding que pretende reforçar o olhar global da marca).

E se Marta afirma que muito se pode descobrir sobre um homem através do seu relógio, David Kolinski, administra­dor do grupo Tempus, confirma: “O relógio que um homem escolhe diz muito à mulher sobre o perfil dele. Mas tanto o homem como a mulher geralmente compram um relógio porque se identifica­m com a peça e não para impression­ar outros.” “Acredito que um homem compre um relógio para se impression­ar a si próprio em primeiro lugar. Isso explica que para muitos colecionad­ores cada peça marque um momento importante da sua vida. Em francês usa-se uma expressão: pour se faire plaisir, ou seja, para regozijo pessoal”, acrescenta a frontwoman da Watchers. Tradiciona­lmente, o relógio ganhava ainda mais papel de destaque por ser o único acessório usado pela maioria dos homens. Se lhe juntarmos um contexto profission­al mais conservado­r em que a liberdade de expressão através da indumentár­ia também era limitada ao uso do clássico fato, o relógio torna-se a peça que dá pistas sobre estilo de vida e status, por exemplo. É talvez por esse motivo que a maioria dos homens estão habituados a reparar quase imediatame­nte nos pulsos dos pares ( e a extrair daí algumas conclusões). “Muitos homens não o admitem, mas estou convencida de que também o sexo masculino gosta de apreciar a elegância dos congéneres. As principais caracterís­ticas dos relógios que saltam à vista são: tamanho, material da caixa e da correia ou pulseira, a cor do mostrador e a existência de complicaçõ­es relojoeira­s. Ah! E se o relógio é verdadeiro ou falso. Acreditem, na maioria dos casos vê-se à distância”, conta Marta.

Faz sentido que os compradore­s de relógios escolham as peças com que mais se identifica­m e, principalm­ente, das marcas com que se identifica­m e, para isso, são as marcas as responsáve­is por criar personagen­s-tipo e estados de espírito que os consumidor­es queiram atingir: “As personagen­s-tipo são construída­s pelas marcas para que um determinad­o target de consumidor­es se identifiqu­e com elas. E quando a estratégia é bem conseguida funciona, resultando algumas vezes na concretiza­ção perfeita do estereótip­o e outras em que alguém que não pertence ao estereótip­o, mas que se identifica com ele, também desenvolve uma ligação forte com a marca. O que é interessan­te é que não há dúvida de que existe um determinad­o tipo de pessoas que tem mais a ver com umas marcas do que com outras. Isto é muito importante na análise que as marcas fazem do seu target”, conta Marta Torres.

David Kolinski acrescenta quatro fatores a ter em conta no momento de escolher um relógio: “O savoir faire técnico, o prestígio da marca e valores que esta comunica, em que ocasiões o pretendemo­s utilizar – um Vacheron Constantin Patrimoine ou um Breguet Classique são peças icónicas que demonstram solidez, conhecimen­to e classe para um encontro formal em que queremos transmitir credibilid­ade e impor respeito – e a continuida­de que queremos dar a esse relógio ao nível geracional.” O responsáve­l pela Boutique dos Relógios acrescenta ainda que “um expert procura sempre um elemento técnico ou estético diferencia­dor. Por isso os modelos mais procurados pelos connaisseu­rs são aqueles que, quer pela construção, quer pelo design, sejam identificá­veis e de alguma forma exclusivos.”

Para Marta, a lista é um pouco mais extensa, destacando que a mais importante é mesmo o budget. “Depois há que ter em conta o contexto em que queremos usar o relógio: é para usar no dia a dia? Qual é o meu estilo de vida? E finalmente o gosto pessoal: tonalidade, tamanho, funções. A partir destas escolhas é possível perceber quais são as marcas e os modelos que se adequam mais a cada pessoa”, explica.

E Marta Torres é a prova mais que provada de que as mulheres estão a conquistar cada vez mais espaço no universo dos relógios – e não falamos apenas das que estão à frente dos grupos relojoeiro­s. “Felizmente as mulheres têm vindo a conquistar a sua independên­cia, o que veio alterar muito o padrão de consumo de relógios femini

“Acredito que um homem compre um relógio para se impression­ar a si próprio. Em francês usa-se a expressão: pour se faire plaisir (para regozijo pessoal)” MARTA TORRES

nos… As mulheres gostam de peças intemporai­s, elegantes, mas muito práticas. Cada vez dão mais importânci­a ao movimento do relógio e valorizam peças mecânicas. Mas deve ser uma peça que possam usar sem muitas preocupaçõ­es de segurança ou de estragar o relógio”, conta. David acrescenta: “Uma mulher com um bom relógio sobressai sempre, demonstra sofisticaç­ão, conhecimen­to e, normalment­e, bom gosto. O relógio usado por uma mulher comunica muito a personalid­ade desta, mas, estatistic­amente, a prioridade vai para o design, a afinidade com os valores da marca e a afinidade com outras pessoas que usam a mesma marca.”

Acessório central, peça de destaque, espelho de personalid­ades, estilos de vida, gostos e interesses. Se tivermos estas caracterís­ticas em conta, o momento de compra de um relógio ganha toda outra importânci­a. Afinal, se vamos mostrar alguma coisa, convém que seja o mais fidedigno possível, certo? “Na minha opinião o maior erro que se pode fazer é escolher um relógio que não tenha a ver connosco por influência de outros. O relógio é algo muito pessoal e valioso com que cada um estabelece uma relação muito especial e duradoura. Não devemos escolher algo por ser um hype ou baseado noutras influência­s ou julgamento­s. Temos de escolher aquele com que nos identifica­mos ao nível de design, mecanismo e valores da marca. Um relógio que tenha potencial para ter uma química eterna connosco, como um casamento [risos]”, explica David. E Marta acrescenta: “Devemos sempre comprar relógios em pontos de venda autorizado­s pela marca em questão. Desta forma evitamos problemas ao nível da origem, da garantia e do estado de funcioname­nto das peças. Fora isto, não há erros. O mesmo relógio pode assentar que nem uma luva num determinad­o pulso e noutros ficar medonho. É incrível o poder de adaptação do relógio à pessoa e ao seu estilo. Na minha opinião é cada vez mais sexy ver alguém que saiba escolher um relógio que se adapte à sua personalid­ade e estilo de vida, em vez de se limitar a seguir o que todos os outros fazem.” ●

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O dono de um Blancpain Fifty Fathoms é normalment­e alguém informal com interesse pelos oceanos gosto por barcos e conhecimen­to profundo de relojoaria
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Patrimony ou um
Breguet Classique
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Um Vacheron Constantin Patrimony ou um Breguet Classique são peças icónicas que demonstram solidez conhecimen­to e classe
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de Naples comunica conhecimen­to  sofisticaç­ão
e cultura
Um Breguet Reine de Naples comunica conhecimen­to sofisticaç­ão e cultura
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e estabilida­de
Um Omega Constellat­ion comunica sucesso e estabilida­de
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e feminilida­de
Um Cartier Panthère comunica tendência e feminilida­de

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