O que dizem os teus relógios?
SE DIZEM QUE OS OLHOS SÃO O ESPELHO DA ALMA SERÁ O RELÓGIO O ESPELHO DA PERSONALIDADE DO DONO?
Talvez seja fácil explicar porque comprámos certo relógio: gostamos da marca e do design, queremos uma peça nova ou diferente… Mas será que a história é assim tão simples? Aliás, será a escolha de um relógio puramente estética? Ou terá apenas em conta a componente prática e funcional? Achámos que o assunto dava pano para mangas e que até havia aqui potencial para uma pequena análise sobre a psicologia por trás da compra de um relógio. O mundo encantado da Internet revela que há mais gente a pensar sobre este assunto e a abordá-lo de diferentes formas – O seu relógio diz mais sobre o seu status do que você pensa (The Wall Street Journal), Estudo mostra que sim, as pessoas que usam relógios são seres humanos superiores (Hodinkee) ou O que o seu estilo de relógio diz sobre si (Esquire) –, mas a história “diz-me que relógio tens no pulso, dir-te-ei quem és” ganha outra dimensão quando a análise é feita por dois especialistas em relógios.
“Há muitas coisas que se podem concluir pela observação do pulso de um homem. Por exemplo: se usa ou não relógio, uma vez que é dos poucos acessórios em que os homens podem usar e abusar, quando se preocupam com a sua apresentação; o tamanho da caixa, que pode estar ligado a um caráter mais discreto ou mais excessivo; o material em que é construída a caixa e/ou a correia, que podem ser reveladores do nível social; se é um vintage ou moderno, já que os relógios antigos podem esconder histórias de família curiosas ou um interesse especial em relojoaria e se é um clássico ou um desportivo, que pode revelar-nos o seu estilo de vida”, conta Marta Torres, CEO da Watchers (o novo nome da bem conhecida Torres Distribuição, que chega no âmbito de um rebranding que pretende reforçar o olhar global da marca).
E se Marta afirma que muito se pode descobrir sobre um homem através do seu relógio, David Kolinski, administrador do grupo Tempus, confirma: “O relógio que um homem escolhe diz muito à mulher sobre o perfil dele. Mas tanto o homem como a mulher geralmente compram um relógio porque se identificam com a peça e não para impressionar outros.” “Acredito que um homem compre um relógio para se impressionar a si próprio em primeiro lugar. Isso explica que para muitos colecionadores cada peça marque um momento importante da sua vida. Em francês usa-se uma expressão: pour se faire plaisir, ou seja, para regozijo pessoal”, acrescenta a frontwoman da Watchers. Tradicionalmente, o relógio ganhava ainda mais papel de destaque por ser o único acessório usado pela maioria dos homens. Se lhe juntarmos um contexto profissional mais conservador em que a liberdade de expressão através da indumentária também era limitada ao uso do clássico fato, o relógio torna-se a peça que dá pistas sobre estilo de vida e status, por exemplo. É talvez por esse motivo que a maioria dos homens estão habituados a reparar quase imediatamente nos pulsos dos pares ( e a extrair daí algumas conclusões). “Muitos homens não o admitem, mas estou convencida de que também o sexo masculino gosta de apreciar a elegância dos congéneres. As principais características dos relógios que saltam à vista são: tamanho, material da caixa e da correia ou pulseira, a cor do mostrador e a existência de complicações relojoeiras. Ah! E se o relógio é verdadeiro ou falso. Acreditem, na maioria dos casos vê-se à distância”, conta Marta.
Faz sentido que os compradores de relógios escolham as peças com que mais se identificam e, principalmente, das marcas com que se identificam e, para isso, são as marcas as responsáveis por criar personagens-tipo e estados de espírito que os consumidores queiram atingir: “As personagens-tipo são construídas pelas marcas para que um determinado target de consumidores se identifique com elas. E quando a estratégia é bem conseguida funciona, resultando algumas vezes na concretização perfeita do estereótipo e outras em que alguém que não pertence ao estereótipo, mas que se identifica com ele, também desenvolve uma ligação forte com a marca. O que é interessante é que não há dúvida de que existe um determinado tipo de pessoas que tem mais a ver com umas marcas do que com outras. Isto é muito importante na análise que as marcas fazem do seu target”, conta Marta Torres.
David Kolinski acrescenta quatro fatores a ter em conta no momento de escolher um relógio: “O savoir faire técnico, o prestígio da marca e valores que esta comunica, em que ocasiões o pretendemos utilizar – um Vacheron Constantin Patrimoine ou um Breguet Classique são peças icónicas que demonstram solidez, conhecimento e classe para um encontro formal em que queremos transmitir credibilidade e impor respeito – e a continuidade que queremos dar a esse relógio ao nível geracional.” O responsável pela Boutique dos Relógios acrescenta ainda que “um expert procura sempre um elemento técnico ou estético diferenciador. Por isso os modelos mais procurados pelos connaisseurs são aqueles que, quer pela construção, quer pelo design, sejam identificáveis e de alguma forma exclusivos.”
Para Marta, a lista é um pouco mais extensa, destacando que a mais importante é mesmo o budget. “Depois há que ter em conta o contexto em que queremos usar o relógio: é para usar no dia a dia? Qual é o meu estilo de vida? E finalmente o gosto pessoal: tonalidade, tamanho, funções. A partir destas escolhas é possível perceber quais são as marcas e os modelos que se adequam mais a cada pessoa”, explica.
E Marta Torres é a prova mais que provada de que as mulheres estão a conquistar cada vez mais espaço no universo dos relógios – e não falamos apenas das que estão à frente dos grupos relojoeiros. “Felizmente as mulheres têm vindo a conquistar a sua independência, o que veio alterar muito o padrão de consumo de relógios femini
“Acredito que um homem compre um relógio para se impressionar a si próprio. Em francês usa-se a expressão: pour se faire plaisir (para regozijo pessoal)” MARTA TORRES
nos… As mulheres gostam de peças intemporais, elegantes, mas muito práticas. Cada vez dão mais importância ao movimento do relógio e valorizam peças mecânicas. Mas deve ser uma peça que possam usar sem muitas preocupações de segurança ou de estragar o relógio”, conta. David acrescenta: “Uma mulher com um bom relógio sobressai sempre, demonstra sofisticação, conhecimento e, normalmente, bom gosto. O relógio usado por uma mulher comunica muito a personalidade desta, mas, estatisticamente, a prioridade vai para o design, a afinidade com os valores da marca e a afinidade com outras pessoas que usam a mesma marca.”
Acessório central, peça de destaque, espelho de personalidades, estilos de vida, gostos e interesses. Se tivermos estas características em conta, o momento de compra de um relógio ganha toda outra importância. Afinal, se vamos mostrar alguma coisa, convém que seja o mais fidedigno possível, certo? “Na minha opinião o maior erro que se pode fazer é escolher um relógio que não tenha a ver connosco por influência de outros. O relógio é algo muito pessoal e valioso com que cada um estabelece uma relação muito especial e duradoura. Não devemos escolher algo por ser um hype ou baseado noutras influências ou julgamentos. Temos de escolher aquele com que nos identificamos ao nível de design, mecanismo e valores da marca. Um relógio que tenha potencial para ter uma química eterna connosco, como um casamento [risos]”, explica David. E Marta acrescenta: “Devemos sempre comprar relógios em pontos de venda autorizados pela marca em questão. Desta forma evitamos problemas ao nível da origem, da garantia e do estado de funcionamento das peças. Fora isto, não há erros. O mesmo relógio pode assentar que nem uma luva num determinado pulso e noutros ficar medonho. É incrível o poder de adaptação do relógio à pessoa e ao seu estilo. Na minha opinião é cada vez mais sexy ver alguém que saiba escolher um relógio que se adapte à sua personalidade e estilo de vida, em vez de se limitar a seguir o que todos os outros fazem.” ●