Viagens no tempo e a Relatividade no Cinema
A ETERNA CURIOSIDADE DO HOMEM LEVA A IMAGINAÇÃO A GANHAR ASAS PARA ESCREVER AS HISTÓRIAS MAIS FANTÁSTICAS, FAZER OS FILMES MAIS ALUCINANTES OU CONSTRUIR DOCUMENTÁRIOS QUE NOS DÃO UM VERDADEIRO NÓ NA CABEÇA.
Todos os filmes e séries que conseguem explorar o tema de viagens no tempo e manipulações da dimensão do espaço-tempo de uma forma cativante, quase que, automaticamente, entram para a lista de favoritos e deixam uma vontade de os rever com o objetivo de voltar a tentar compreender na totalidade todos os seus segundos. Porque é que há então um fascínio tão grande pelo tempo? A ficção científica e a teoria geral da relatividade são temas que se apoderam do nosso pensamento mesmo sem nos apercebermos de quão fascinados ficamos e, ironicamente, do tempo que perdemos a pensar sobre isso. Mas, na realidade, muitos destes filmes e séries que ganham tanta popularidade, no que toca a precisão científica, estão um pouco longe de estar 100% corretos ou de serem fiáveis.
A Teoria da Relatividade Geral de Einstein tem mais de 100 anos, mas não deixa, por isso, de se tornar algo complexa e difícil de entender, sendo uma das favoritas dos argumentistas de Hollywood. Esta teoria estabelece a existência de um universo com quatro dimensões, em que o espaço e o tempo não estão separados, mas ligados formando uma espécie de tecido chamado espaço-tempo que é alterado pela presença dos corpos celestes, como os planetas e as estrelas.
Apesar de muitos se desviarem da precisão científica para fins dramáticos, há outros filmes que ficam muito perto daquilo que se poderá tornar uma realidade no futuro. Exemplos como Interstellar (2014), de Christopher Nolan, e Contacto ( Contact, 1997) de Robert Zemeckis, estão entre os melhores filmes que retratam a teoria da relatividade geral e a física envolvida nos buracos negros. Este último é uma adaptação do bestseller de 1985 com o mesmo título do cientista Carl Sagan. Coincidência ou não, em ambos os filmes se consultou o cientista, Kip Thorne. São obras em que a exposição de factos científicos é rigorosa e feita com grande pormenor.
Poder controlar e manipular o tempo para nosso proveito é muito tentador. Talvez por isso o tema das viagens no tempo seja tão apelativo, mais ainda quando surge nos nossos filmes, séries ou livros favoritos. Quando mergulhamos num bom filme ou começamos a ler um livro que não conseguimos pou
Muitos dos filmes que ganham popularidade, no que toca a precisão científica, estão um pouco longe de estar cem por cento corretos ou de serem fiáveis.
sar, o que mais queremos é escapar à nossa realidade e a ideia de ser possível viajar no tempo não pode ser mais oposta ao que é a nossa realidade.
Existem duas teorias de como funciona a viagem no tempo. Numa, a linha do tempo já está estabelecida, podemos viajar para o passado, mas não conseguimos alterar o curso dos acontecimentos. A segunda defende que a linha do tempo é maleável e que as perturbações que causarmos no passado levarão a um futuro diferente e, provavelmente, a uma alteração na nossa própria existência. O filme Doze Macacos ( Twelve Monkeys, 1995), de Terry Gilliam, desenvolve-se à volta da primeira teoria. Nesta ficção científica, a personagem de Bruce Willis viaja atrás no tempo, mas apercebe-se de que não pode alterar o curso da história. Por outro lado, clássicos como O Exterminador Implacável ( The
Terminator, 1984) e Regresso ao Futuro ( Back to the Future, 1985) fazem proveito da possibilidade de fazer alterações à linha do tempo.
No universo das comédias românticas, também se faz uso das potencialidades que viajar no tempo acrescenta às histórias de amor. No entanto, os factos científicos são retratados de um modo mais simples e menos correto. No filme de 1993 O Feitiço do Tempo (Groundhog Day), a personagem de Bill Murray fica presa a repetir o mesmo dia inúmeras vezes até mudar o suficiente as suas atitudes e ações para poder quebrar o ciclo. Em Dá Tempo ao Tempo ( About Time, 2013), a clássica história de amor entre rapaz e rapariga, torna-se influenciável perante as ações que Tim decide ir alterando no passado para poder melhorar ou conseguir algo no futuro. Basicamente, este filme é uma sucessão de segundas oportunidades e repetições em favor do protagonista. E quem não deseja uma segunda oportunidade em certos momentos na vida?
Atualmente a Netflix já tem grandes apostas em séries de diferentes línguas que se desenvolvem à volta de viagens no tempo. A série alemã Dark é um dos melhores exemplos da complexidade e das infinitas possibilidades que existem em diferentes linhas temporais. Dizer que é uma série difícil de ver é um eufemismo, mas é também muito compensador quando finalmente entendemos tudo. Talvez nunca se cheguem a entender todos os pormenores, mas o constante cruzar entre passado, presente e futuro adicionado a um mistério que acontece a cada 33 anos, é um enigma no mínimo cativante. Disclaimer: é preciso um bloco de notas quando se assiste a cada episódio desta série. ●