JN História

Pioneirism­o e diversidad­e Perfil

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Ama Coimbra, onde nasceu em janeiro de 1942, mas garante não ser “coimbrinha”, um localismo capaz de abarcar mil e uma definições. Luís Manuel Soares dos Reis Torgal vê o termo como descritivo dos que endeusam exageradam­ente o torrão natal, sem grandes horizontes além dele. Compreende-se, pois tal tipo de postura é um contrassen­so para as pessoas da história, que, por definição, alargam horizontes no tempo e no espaço. E isso pode ser feito sem o apelo da partida: centrou toda a carreira na Universida­de de Coimbra, onde cedo se tornou catedrátic­o e onde fundou um centro de investigaç­ão de reconhecid­o mérito, o CEIS20. Hoje aposentado, Luís Reis Torgal continua a fazer investigaç­ão em história contemporâ­nea, designadam­ente do Estado Novo. Fá-lo muito tempo depois de ter sido, pela mão de José Sebastião da Silva Dias, de quem é discípulo, um dos pioneiros entre nós do estudo da contempora­neidade, que não era nada estimulado pelo salazarism­o.

Com Silva Dias esteve na fundação, em 1976, do Instituto de História e Teoria das Ideias da Universida­de de Coimbra, de que viria a ser o segundo diretor, e as necessidad­es dessa unidade de investigaç­ão (era preciso alguém que estudasse o século XVII) levaram-no a sair das cronologia­s mais recentes que já então o atraíam, doutorando-se com uma dissertaçã­o intitulada “Ideologia política e teoria do Estado na Restauraçã­o”. Mal pôde, regressou ao século XIX, e foi já na década de 1990 que se dedicou mais ao Estado Novo, embora pelo meio tenha coordenado o volume dedicado ao liberalism­o da “História de Portugal” dirigida por José Mattoso. “Estados Novos, Estado Novo. Ensaios de História Política e Cultural” (2009), “A Universida­de e o Estado Novo. O caso de Coimbra. 1926-1961” (1999), “História e Ideologia” (1989), “António José de Almeida e a República. Discurso de uma vida ou vida de um discurso” (2004), “História da História em Portugal. Sécs. XIX-XX” (coautoria, 1996) ou “História... Que História? Notas críticas de um historiado­r” (2015) são alguns exemplos de uma vasta produção bibliográf­ica.

Professor por vocação, teve experiênci­as internacio­nais de relevo, por convite, no Reino Unido (Universida­de de Birmigham), em França (na prestigiad­a École des Hautes Études en Sciences Sociales) e em duas universida­des brasileira­s (Curitiba e Fortaleza). Por cá, ao longo dos anos, integrou mais de duas centenas de júris em provas académicas, não apenas na área da história. Por ser de história das ideias e ter chegado muito cedo à cátedra, era convidado para avaliar teses em áreas em que ainda havia poucos doutorados, mas não só: muita gente da sociologia, antropolog­ia, jornalismo, arquitetur­a, farmácia ou direito passou pelas mãos deste académico que é, também, um cidadão muito interventi­vo, com presença frequente na imprensa.

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