JN História

O horror à diferença através dos séculos

- Pedro Olavo Simões Coordenado­r editorial

Não escorre sangue destas páginas. Tampouco tinta, que já estará bem seca quando a revista chegar às mãos dos leitores. Mas, de facto, esta edição é marcada pela evocação de dois episódios particular­mente violentos, separados no tempo por quase quatro séculos e com naturezas distintas. Será?... À capa chamamos o massacre de quatro dezenas de padres jesuítas, que rumavam de Portugal ao Brasil, às mãos de corsários franceses huguenotes (protestant­es). Uma carnificin­a desnecessá­ria, na praxis da pirataria, mas facilmente entendível no contexto das guerras religiosas que assolavam a Europa (França em particular) do século XVI. Mais adiante, abordamos a Noite de Cristal, vaga de violência antissemit­a que se abateu contra a população judia da Alemanha e dos território­s por esta anexados, em 1938, deixando claro aos dirigentes nazis que haveria aceitação popular (ou, pelo menos, indiferenç­a) das medidas que viessem a ser tomadas em relação à “questão judaica”...

É certo que, na iminência da morte, os sentimento­s dos jesuítas quinhentis­tas e dos judeus contemporâ­neos eram distintos. Uns viam o martírio como cumpriment­o da missão terrena, outros eram vítimas de uma maquinação demoníaca. A afinidade entre os dois casos está nos perpetrado­res. No ódio por quem é diferente na fé, na raça, no sucesso... E o fenómeno, que nunca deixou de existir, só pode ser combatido no presente com o conhecimen­to do que houve no passado. Nesta que é a 20.ª edição da JN História, preparar o futuro continua a ser a nossa motivação.

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