O horror à diferença através dos séculos
Não escorre sangue destas páginas. Tampouco tinta, que já estará bem seca quando a revista chegar às mãos dos leitores. Mas, de facto, esta edição é marcada pela evocação de dois episódios particularmente violentos, separados no tempo por quase quatro séculos e com naturezas distintas. Será?... À capa chamamos o massacre de quatro dezenas de padres jesuítas, que rumavam de Portugal ao Brasil, às mãos de corsários franceses huguenotes (protestantes). Uma carnificina desnecessária, na praxis da pirataria, mas facilmente entendível no contexto das guerras religiosas que assolavam a Europa (França em particular) do século XVI. Mais adiante, abordamos a Noite de Cristal, vaga de violência antissemita que se abateu contra a população judia da Alemanha e dos territórios por esta anexados, em 1938, deixando claro aos dirigentes nazis que haveria aceitação popular (ou, pelo menos, indiferença) das medidas que viessem a ser tomadas em relação à “questão judaica”...
É certo que, na iminência da morte, os sentimentos dos jesuítas quinhentistas e dos judeus contemporâneos eram distintos. Uns viam o martírio como cumprimento da missão terrena, outros eram vítimas de uma maquinação demoníaca. A afinidade entre os dois casos está nos perpetradores. No ódio por quem é diferente na fé, na raça, no sucesso... E o fenómeno, que nunca deixou de existir, só pode ser combatido no presente com o conhecimento do que houve no passado. Nesta que é a 20.ª edição da JN História, preparar o futuro continua a ser a nossa motivação.