Mitos bons e maus debatidos na ESE
Encher um auditório com professores de história, ajudando-os a rasgar horizontes para além das rotinas condicionadas por programas escolares por vezes anquilosados, é uma iniciativa importante, mesmo que pouco badalada. Assim fez a Escola Superior de Educação (ESE) do Politécnico do Porto, na “Conferência Internacional de Educação Histórica e Patrimonial, promovida pela unidade técnicocientífica de Estudos Culturais e Sociais do estabelecimento. Mas os preconceitos que possa haver a respeito dessa desadequação de práticas e programas nem sempre são assisados, na medida em o ensino, nos níveis etários mais baixos, requer uma estabilidade contrária ao ritmo vivo da investigação científica.
“Não é automática a obrigação de estar a incluir cada avanço na investigação em programas para miúdos de 11 anos”, frisou o historiador Luís Miguel Duarte, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, numa mesa redonda intitulada “Mitos da história e novas interpretações historiográficas”, que partilhou com Amândio Barros e Carla Ribeiro, ambos docentes da ESE.
O tema é como tudo: entronca no bom senso. E a questão dos mitos em história tanto pode e deve ser combatida, nuns casos, como suscitar complacência, noutros. É certo que, como notou Amândio Barros, para usar um tema atual, “a história dá jeito às cidades e ao turismo”. Deu como exemplo o caso da Invicta – “este Porto cosmopolita é um Porto culturalmente mentiroso” –, lançando um apelo aos docentes: “Estamos à mercê dessa produção de conhecimento histórico que vos cabe filtrar”.
Mas também é certo que alguns mitos, como notou Luís Miguel Duarte, não fazem mossa. Exemplo? Há no Museu Militar do Porto um artefacto apresentado como “a espada de D. Afonso Henriques”, que na verdade é muito mais recente. Que lhe fazer? Sentencia o historiador: nada, pois “para seduzir vale quase tudo”. É maior o ganho de cativar os mais novos, que a seu tempo saberão pôr as ideias no sítio. Ou a discussão insanável em torno da naturalidade de D. Afonso Henriques, que só serve para afrontar as gentes de Guimarães.
Mas há problemas graves identificados, como a preponderância do “achismo”. É o caso de curiosos que, sem qualquer fundamentação científica, pretendem descobrir a pólvora em torno de questões que os historiadores há muito deram como assentes (por exemplo, o debate em torno da naturalidade de Cristóvão Colombo), publicando teorias que contaminam o público, em especial por serem muito mediatizadas.