Movido pela história e por outras paixões
Perfil
Amanga da camisa tapa o braço direito, mas não esconde a alma de Amândio Jorge Morais Barros expressa em tatuagens. Por ali andam os Beatles, “intocáveis”, e o dragão futebolístico que se sobrepõe a todos os compromissos. Tem seis gatos em casa e, como diz nesta entrevista, era capaz de mudar de vida pela música ou pelos felinos. E é um historiador de enorme relevo, em especial no que respeita a história marítima na Época Moderna, que partiu do Porto para uma visão global, ou não fosse esse período, dos descobrimentos e da expansão, uma primeira globalização, passe o eventual anacronismo. Navios, rotas, portos, redes comerciais, comunidades marítimas... poucos saberão tanto desses assuntos como ele. E é um comunicador cativante, tanto quando escreve como quando fala de história, por uma razão que ele sublinha sem necessidade, pois salta aos olhos: é profundamente apaixonado pela história.
Uma paixão que lhe vem de menino, como bem conta na nossa conversa, e que se transformou à medida que os livros de piratas se transformaram nos piratas propriamente ditos, à medida que as caravelas e as aventuras gloriosas receberam os contornos mais duros da realidade. Essa transformação começou na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e aí se consolidou, pois toda a sua carreira está ali alicerçada, embora seja na Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico do Porto, que desenvolve a atividade docente. Tudo no Porto, onde nasceu mesmo a tempo – um dia antes – de festejar a entrada no ano de 1962, em Massarelos. E da Invicta saiu, como dissemos, a investigação que o tem levado ao mundo. Do estudo da Confraria de S. Pedro de Miragaia, com que fez o mestrado, partiu para uma dissertação de doutoramento, defendida em 2004 e aprovada com nota máxima, intitulada “Porto: a construção de um espaço marítimo nos alvores dos tempos modernos”, que lhe valeu o Prémio Almirante Sarmento Rodrigues, da Academia de Marinha, e o Prémio Artur de Magalhães Basto de História da Cidade do Porto, ambos em 2007. Pós-doutorado pelas universidades do Porto e de Valladolid, prepara-se para fazer a agregação, na FLUP.
Além da tese de doutoramento, salientamos, entre os livros que publicou, “A morte que vinha do mar. Saúde e sanidade marítima num porto atlântico (séculos XV-XVII)”, “Forais de Ponte da Barca” ou “A naturalidade de Fernão de Magalhães revisitada”. Coordenou o livro “Os Descobrimentos e as Origens da Convergência Global”, associado à criação de um centro interpretativo do infante D. Henrique no Casa do Infante, no Porto, e integra a equipa que prepara, no Museu Nacional de Soares dos Reis, a exposição evocativa do quinto centenário da viagem de Fernão de Magalhães. É membro efetivo da Academia de Marinha.