DEPOR UM REI INÚTIL PARA AFIRMAR UM REINO
O modo como o conde de Bolonha, depois Afonso III, rei de Portugal, afastou do poder o seu irmão, D. Sancho II, não é edificante; mas permitiu-lhe fazer da monarquia um poder sobre todos os outros
Portugal, Espanha, Península Ibérica… Se observarmos o mapa a partir de uma certa distância, sem olhar a condicionantes geográficas de maior detalhe que, também, explicam que a divisão política tenha evoluído como evoluiu, poderá parecer óbvio que este grande quadrado de terra, cosido pelos Pirenéus ao resto da Europa, estaria mesmo a pedir para ser um só país. Não o é por variadíssimas razões. Talvez simplesmente não tenha de ser. Mas é certo que sempre existiu, entre portugueses, castelhanos e espanhóis, quem sonhasse com a união ibérica. Tal como continua a haver, em Espanha, fortes movimentos sequiosos de secessão, mas isso é outro assunto. No que à uniformização da península respeita, e do lado português, a mais apaixonada visão do iberismo será a que nos deu Antero de Quental, no último quartel do século XIX, mas do lado espanhol encontramos sentimentos anexionistas fortes bem mais recentes, no seio do franquismo. Ora, esses desejos existem desde que há Portugal. Se com D. Afonso Henriques surgiu um novo reino no extremo ocidental da Península Ibérica, tal não significa que isso fosse um assunto arrumado. Os reinados que se seguiram não representa
ram a afirmação imediata de um país, e foi preciso esperar pelo quinto monarca que governou Portugal, D. Afonso III, para obter duas coisas: a consolidação da monarquia portuguesa e, com a conquista do Algarve, a fixação praticamente definitiva das fronteiras do reino, que viriam a ser acertadas, quase como se mantêm até hoje, já no reinado do senhor que se seguiu na dinastia de Borgonha, D. Dinis, com a celebração do tratado de Alcanizes.
Momento de charneira
Foi a conquista do Algarve, em 1249, um extraordinário feito militar? Não foi. Deduz-se isso facilmente da documentação, não por haver relatos de grandes batalhas ou falta deles, mas por indícios muito claros, como o facto de diplomas régios, subscritos por Afonso III, em fevereiro de 1249, mostrarem que o monarca estava em Ourém, e no mês seguinte já surgirem documentos por ele assinados em Faro. Coisa rápida, logo pouco problemática, o que leva a que José Mattoso oscile entre chamar conquista e ocupação ao sucesso que marca o fim da Reconquista em território português. Atentando na “História de Portugal” de Alexandre Herculano, de quem se pode dizer que introduziu a historiografia de natureza científica entre nós, vemos que só vai até ao reinado deste homem,