ATLAS HISTÓRICO DE ÁFRICA - DA PRÉ-HISTÓRIA AOS NOSSOS DIAS
Malyn Newitt não é um desconhecido dos temas da história de Portugal. Professor do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros do King’s College, em Londres, foi o primeiro detentor da cátedra Charles Boxer (criada em homenagem a uma referência incontornável da nossa história marítima) e já deu à estampa mais de vinte títulos dedicados a Portugal. Neste caso, o estudo (ou a síntese) que nos propõe foca a última dinastia reinante de Portugal, que, a partir de 1822, foi também a única família reinante no Brasil. É, sobretudo, um livro sobre pessoas, sobre uma família que vai de D. João IV a D. Manuel II, ou, no caso da ramificação brasileira, ao imperador D. Pedro II. É um livro sobre uma família que, surgida enquanto força de poder num contexto de Antigo Regime, procurou reinventar-se como entidade tutelar de monarquias constitucionais, soçobrando à onda republicana de ambos os lados do Atlântico. É um livro de boa leitura, sem dúvida, mas aqui e ali carente de revisão científica da tradução, que corrigiria pequenos lapsos que a historiadores portugueses seriam indesculpáveis.
Mary del Priori, historiadora brasileira, interessa-se por D. Maria I com os olhos de quem vê na longa travessia da Corte de Lisboa para o Brasil, em 1808, uma espécie de prólogo da independência que veio a ocorrer 14 anos mais tarde. Assim nasce mais uma biografia da rainha, que atravessou o Atlântico mas já não governava, por ser considerada louca, embora a autora esteja convencida, pelo cruzamento da sintomatologia descrita com os conhecimentos científicos atuais, de que padecia de depressão severa, uma doença infelizmente comum nos tempos que correm, tratável e em nada confundível com o rótulo de loucura que o saber de então colava facilmente às pessoas, assim dando os casos por resolvidos. É esse o principal traço distintivo deste estudo, que tenta uma abordagem mais intimista de Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança e Bourbon, chegando a uma conclusão com mais de triunfo da investigação do que de aparente trivialidade: “Eu sabia muito pouco dela... Conhecia apenas ‘a louca’. Hoje conheço uma mulher. E mulher como tantas de nós”.
Um vasto leque de autores, apoiados no trabalho de um historiador/cartógrafo (Guillaume Balavoine), oferecem-nos, de forma evidentemente sintética mas rigorosa, a difícil caminhada de África através dos tempos, algo que as questões conjunturais que têm impedido o desenvolvimento pleno de historiografias locais dificultam. Mas não só. Como notam os organizadores deste precioso livro, “não é tanto o
de história que caracteriza o nosso conhecimento do passado de África, mas sim a sua farta diversidade”. E estas páginas permitem, com clareza expositiva e metodológica, perceber muito bem essa “farta diversidade”, dos “vários berços da humanidade” às migrações internas e externas que marcam o presente daquele grande continente. Neste volume encontra-se tudo (não apenas – mas também – aspetos ligados à presença europeia, como o tráfico de escravos ou o colonialismo dos séculos XIX-XX) o que, ao longo de milénios, contribuiu localmente para chegar às realidades do nosso tempo, E isso dá-nos uma preciosa ajuda para que as tentemos comprender com maior solidez.