Maio de 1940, o mês em que a Segunda Guerra Mundial começou verdadeiramente a ocidente da Alemanha, foi crucial, no terreno e na arena política, para que o conflito não se tornasse no esmagamento total dos Aliados
Num passado recente, a cinematografia britânica debruçou-se, com duas perspetivas distintas, sobre a chamada Batalha de Dunquerque ou a “Operação Dínamo”, um dos momentos mais marcantes da primeira fase da Segunda Guerra Mundial (maio/junho de 1940). Em 2017 estrearam “Dunkirk”, de Christopher Nolan, um olhar sobre os acontecimentos, no terreno, em torno do processo de evacuação que resgatou cerca de 350 mil soldados aliados, salvando-os da ofensiva alemã, e “Darkest Hour”, de Joe Wright, que retratou o processo político em torno desse momento decisivo. Enquanto o primeiro é um filme de guerra puro e duro, passe a generalização (assumidamente errada) que desagradará a cinéfilos, o segundo mostra, assente num brilhante desempenho do ator Gary Oldman, como a chamada de Winston Churchill à chefia do governo britânico foi decisiva – num misto de determinação, hesitação, pressão política e, também, acasos da sorte – para o rumo da Segunda Guerra Mundial. Um rumo que não poderia ter sido tomado se os nazis tivessem esmagado a Força Expedicionária Britânica (FEB), o que esteve muito perto de acontecer.
Maio de 1940 foi, de facto, o mês em que tudo mudou. Tudo o que se iniciara no primeiro dia de setembro de 1939, com a invasão da Polónia pela Alemanha (e, depois, pela União Soviética) e com a subsequente declaração de guerra do Reino Unido e de França ao Terceiro Reich, foi, passe a expressão, o começo oficial da Segunda Guerra Mundial. Porém, até maio de 1940, o conflito começou por ser uma longa bizarria, algo como quando duas equipas de futebol se estudam mutuamente, no início de uma partida excessivamente tática, sem que a bola saia do meio-campo. A analogia poderá parecer demasiado ligeira, mas faz todo o sentido. Resolvida (provisoriamente) a questão a oriente pela invasão da Polónia e pelo pacto de não-agressão germano-soviético (Ribbentrop-Molotov, ver JN História N.º 19), sabia-se que o
plano expansionista de Hitler prosseguiria para ocidente. Porém, ao longo de oito meses, o conflito foi uma espécie de chove-não-molha – passe a expressão brasileira – que ficou conhecido por uma expressão atribuída ao escritor francês Roland Dorgelès: “Drôle de guerre” (guerra engraçada, cómica ou qualquer coisa aí perto).
Uma guerra caricata, portanto, entre duas “equipas” aparentemente temerosas, que mais não faziam do que pequenas escaramuças inconsequentes (depois de um tímido e ineficaz ataque francês, a chamada ofensiva do Sarre, em setembro e outubro de 1939). Aparentemente. Uma das “equipas” esperava o adormecimento da outra para desferir o seu ataque demolidor.
Deixemos as metáforas futebolísticas. Essa “drôle de guerre” (“phoney war” – guerra a fingir, para os britânicos, ou “sitzkrieg” – guerra sentada, para os alemães), ideia que poderá ter resultado de um erro de tradução de Dorgelès, ao tomar a palavra inglesa “phoney” (falso) por “funny” (engraçado), começou logo depois da falhada ofensiva do Sarre, com o exército francês e a Força Expedicionária Britânica refugiados atrás da falsa sensação de
reiras não cobria toda a extensão de fronteira onde a invasão alemã poderia decorrer (o plano implicava também uma linha de defesa desde o Mediterrâneo, para travar uma eventual ofensiva italiana, mas essa é normalmente designada por “Linha Alpina”, ficando “Linha Maginot” reservado ao sistema montado no Nordeste de França). Várias razões concorreram para que assim fosse. Financeiras, claro, pois os custos de implementação eram elevadíssimos, mas, sobretudo, razões resultantes de uma leitura deficiente da ameaça alemã, com a consequente e fatal falha estratégica. A Linha Maginot cobria toda a fronteira com a Alemanha e toda a fronteira com o Luxemburgo, mas só abarcava uma pequena porção da fronteira com a Bélgica, terminando na zona de Sedan, cerca de 80 quilómetros a noroeste de Reims. Pensariam os estrategos franceses que a neutralidade dos Países Baixos e da Bélgica seria respeitada por Hitler? Provavelmente...
Ora, o que os alemães fizeram foi, simplesmente, contornar a Linha Maginot. E por aí chegaremos ao processo que resultou na Operação Dínamo, ou seja, na evacuação de Dunquerque.
O tropeção norueguês
Não apenas para entender a Operação Dínamo, mas também para perceber o que foi o rumo dos acontecimentos nos anos seguintes (o rumo da própria guerra), é necessário intercalar o combate no campo de batalha com o combate político em Londres, que resultou na nomeação de Winston Churchill para o cargo de primeiro-ministro. Uma ambição que ele estabelecera desde a sua entrada na esfera pública, ainda muito jovem, e que mantinha, embora talvez com a menor convicção que os seus 65 anos de idade poderiam aconselhar. Poderíamos dizer que tudo aconteceu em 10 de maio de 1940, pois o dia em que os alemães atacaram foi o mesmo em que o rei Jorge VI chamou o carismático e polémico político para chefiar o seu governo. Claro que as coisas nunca são assim tão simples, até porque, para chegar a Londres, faremos um pequeno desvio pela Escandinávia.
Com a declaração de guerra do Reino Unido à Alemanha, em setembro de 1939, Churchill regressou ao cargo de primeiro lorde do Almirantado, que havia ocupado no início da Primeira Guerra Mundial. E foi nessa qualidade – ministro responsável por uma Royal Navy grande em dimensão mas inadequada e atrasada, face à guerra que se iniciava – que começou por estar envolvido numa operação fracassada, mas desta vez sem as consequências pessoalmente desastrosas que havia tido a campanha dos Dardanelos, em 1915 (ver JN História N.º 26). Falamos da defesa da Noruega face à invasão nazi.
A importância estratégica da Noruega, para a Alemanha, assentava em dois fatores essenciais. Para entender um deles basta olhar o mapa e verificar que a posse do território constituiria
uma vantagem assinalável para o controlo do Atlântico Norte e para o incremento do poderio naval do III Reich.O segundo (apenas nesta enumeração, pois era o fator mais importante) estava relacionado com o minério de ferro sueco, absolutamente essencial para a máquina de guerra germânica. Uma vez mais, olhar o mapa ajuda a perceber a importância da Noruega quando estamos a falar de um recurso sueco. Sobretudo no inverno, o porto norueguês de Narvik, no Norte do país, era o local de escoamento do minério sueco (se procurarmos no mapa Kiruna, que ainda hoje é a maior exploração de minério de ferro no mundo, verificamos a proximidade). Era assim no inverno porque as águas do Báltico, em particular na zona do Golfo de Bótnia, gelavam e deixavam de ser navegáveis.
Evidentemente, não eram só os alemães que tinham necessidade de ferro, e o ataque da União Soviética à Finlândia, no início, de 1940, dava aos Aliados um pretexto para marcar presença na Escandinávia. Ir em auxílio da Finlândia ajudaria a quebrar o óbice decorrente da neutralidade declarada por noruegueses e suecos. Ora, isso incentivou o interesse alemão em invadir a Noruega (o que ajudaria a retardar, também, a pretendida ofensiva contra a Europa ocidental), interesse esse que se manteve depois de finlandeses e soviéticos terem firmado um tratado de paz, em 12 de março de 1940 (foi uma paz altamente penalizadora para a Finlândia, mas, sobretudo, que anulou o tal pretexto justificativo da deslocação de tropas dos Aliados para aquela região). Mantendo-se esse interesse alemão, a preocupação dos Aliados, em particular do Reino Unido, passava a ser impedir a invasão da Noruega pela Alemanha nazi. E é por aí que regressaremos, já adiante, a Winston Churchill e ao que nos interessa para chegarmos ao chamado “milagre de Dunquerque”, afinal de contas o pretexto para este artigo.
A queda de Chamberlain
Resumindo muito a questão norueguesa, a estratégia franco-britânica passava, no essencial, por bloquear o acesso marítimo a Narvik, onde era embarcado o minério extraído em Gällivare (então o principal centro mineiro no Norte da Suécia). Como atrás notámos, a Royal Navy, apesar de tecnologicamente atrasada, era detentora da maior frota de guerra do planeta, metade da qual foi destacada para a Campanha da Noruega. E o fracasso dessa campanha foi, sobretudo, naval, pelo que poderia resultar em novo afastamento de Churchill, o que, como sabemos, não aconteceu. Longamente pensada, a invasão da Dinamarca e da Noruega pelos alemães (Operação Weserübung) foi desencadeada em 9 de abril, um dia depois da data que os Aliados haviam determinado para lançar a Operação Wilfred, que culminaria na minagem do porto de Narvik. Por essa altura, o primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, dissera que Hitler havia “perdido o autocarro” (“Hitler missed the bus” foi a declaração original, embora haja traduções portuguesas, como a da obra de Martin Gilbert sobre a Segunda Guerra Mundial, em que a frase é adaptada para o mais comum, entre nós, “perder o comboio”), referindo-se à invasão dos países nórdicos. Chamberlain não poderia estar mais errado: usando os princípios da
os alemães tomaram rapidamente os pontos mais estratégicos da Noruega (Oslo, Stavanger, Bergen, Trondheim e Narvik), assumindo o controlo de todas as estruturas portuárias e aeroportuárias. A título de exemplo do mau planeamento que marcaria toda a campanha, por banda dos Aliados, assinale-se o dia 13 de abril, em que os britânicos ainda chegaram a desembarcar em Narvik, mas sem tempo para mais do que destruir algumas instalações portuárias. Como nota o biógrafo de Churchill Andrew Roberts, “os navios de abastecimento tinham sido carregados de tal maneira que, embora tivesse sido possível desembarcar armas, as munições estavam noutras embarcações”.
Daí para a frente, os fiascos sucederam-se, sendo notória uma total descoordenação entre ministérios, entre comandos militares, entre todos. E nada disto pode ser dissociado da luta política em Londres. Há analistas que especulam com a possibilidade de Churchill ter forçado a campanha norueguesa para afastar Chamberlain, o que, sem base documental que o ateste, não é uma conjetura desprovida de sentido (mesmo que, durante a própria campanha da Noruega, Chamberlain tenha dado a Churchill a coordenação política de toda a guerra). Mas seria necessário? As vozes que davam Winston
Churchill como o único homem capaz de liderar o Reino Unido em tempo de guerra já se ouviam há muito. E vinham sendo cada vez mais audíveis face às hesitações e ao desgaste político do primeiro-ministro. Os dias decisivos, porém, seriam aqueles em que a Câmara dos Comuns debateu a campanha norueguesa. Os dias 8 e 9 de maio de 1940, ou seja, imediatamente antes do ataque alemão que pôs fim à “drôle de guerre”.
Churchill, ministro de Chamberlain, não teve nesse debate nenhum dos seus melhores momentos de oratória. Nem poderia ter tido. Ali, o papel dele era, mesmo não o defendendo de facto, não hostilizar o primeiro-ministro, ao lado de quem permanecia sentado.
Outros havia, com ligações de proximidade a Churchill, dispostos e preparados para o fazer. E os apoiantes de Chamberlain, que pressentiam o ataque, tinham de poupar Churchill nas suas intervenções, pois não podiam atacar um membro do governo. Terá o ainda primeiro lorde do Almirantado montado a armadilha perfeita ao primeiro-ministro? A ideia não pode ser posta de parte, mas também não é razoável afirmá-lo como uma certeza. E a chegada de Winston a Downing Street não era um dado adquirido nesses dois dias em que tudo se decidiu. É certo que, para ele, o debate parlamentar sobre a Noruega correu da melhor maneira possível, justamente porque o
alvo era Chamberlain e os principais oradores foram elementos próximos de Churchill. Nem os conservadores que contra ele mantinham rancores antigos (sendo ele de novo membro do Partido Conservador, mas não era isso que o punha a salvo) o atacaram. Roberts resume bem o que se passou em Westminster: “É de extrema ironia que, sendo Chamberlain o mais criticado pela derrota na Noruega, tenha sido a pessoa mais diretamente responsável por ela – Churchill – quem mais beneficiou do debate”.
Era ponto assente que a situação de guerra exigia a formação de um governo unitário, que contasse também com os trabalhistas, e isso com Chamberlain revelara-se uma impossibilidade. Porém, o sucessor natural seria o conde de Halifax, Edward Wood, um ex-vice-rei da Índia que ocupava o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros. Era essa, inclusivamente, a preferência do rei Jorge VI. Mas foi o próprio Halifax, no âmbito de um processo político cuja complexidade aqui não cabe (e estamos a falar de dois dias, ou a complexidade maior seria), quem decidiu afastar-se da sucessão de Chamberlain naquele momento. A presença de Churchill no governo, em tempo de guerra, era incontornável. Ora, mesmo pensando Halifax que teria um papel importante para moderar os ímpetos de Winston, logo percebeu que seria ofuscado por este enquanto a guerra durasse, o que seria humilhante para um primeiro-ministro. E foi assim, poderão alguns entender que por patriotismo de Halifax (que se manteve no
deu conta de todos os aeródromos belgas e holandeses. Ainda a partir dos céus, 16 mil paraquedistas tomaram Roterdão, Haia, Leyden. Furtivamente, aterrando com planadores quando o Sol começava a despontar, uma centena de soldados perfeitamente treinados para a missão haviam assegurado a defesa de todas as pontes do Canal Alberto (uma via aquática que liga Antuérpia a Liège, ou os rios Mosa e Escalda, numa extensão de aproximadamente 130 quilómetros). O tempo de reação dos Aliados, que teriam de entrar em território belga, por mais rápido que fosse, seria sempre resumido em duas palavras: demasiado tarde.
Num dia, os alemães (com o estímulo adicional do Pervitin, uma metanfetamina que era administrada aos soldados) tinham tomado a supostamente impenetrável fortaleza de Eben-Emael, acabada do construir cinco anos antes, justamente para conter uma eventual invasão germânica. Como escreveu Martin Gilbert, “os comandantes militares alemães rivalizavam uns com os outros, ao longo desse dia 11 de maio, para ver quem avançava mais”. No dia 13, a 7.ª Divisão Panzer, liderada pelo famoso Erwin Rommel, seria a primeira a transpor o Mosa, junto à cidade belga de Dinant. Horas depois, as tropas do general Heinz Guderian atravessavam o mesmo rio junto a Sedan, sendo as primeiras (a esta escala – excluam-se as escaramuças dos meses precedentes) a entrar em território francês. Nos Países Baixos, enfrentando mais resistência do que esperavam, os alemães intensificaram a ação, levando a cabo os primeiros bombardeamentos. O objetivo era a ponte sobre o Reno em Roterdão, funcionando a sua destruição como apoio à ofensiva em terra, aniquilando a resistência holandesa e forçando o recuo do exército holandês, mas o efeito produzido foi a destruição completa da zona histórica (medieval) da cidade, causando a morte de 814 civis holandeses e desalojando mais de 80 mil pessoas. Para os alemães, esta ação, que ficou conhecida como o “Blitz de Roterdão”, além de servir para elevar o moral das tropas, passou automaticamente a funcionar como ameaça para levar à rápida rendição dos holandeses. E a verdade é que esta foi declarada no próprio dia do ataque – 14 de
maio – ao fim da tarde, sendo a capitulação assinada na manhã seguinte.
Outro efeito sentiu-se do lado dos Aliados, cujas máquinas de propaganda ampliaram o já de si duro balanço de Roterdão, para acentuar o horror da ameaça nazi. Mas o que conseguiram, sobretudo, foi agudizar o medo junto das populações ameaçadas, particularmente entre os franceses.
Em Londres, a ameaça de invasão da Grã-Bretanha pelos alemães era, evidentemente, a preocupação maior, e em torno dessa iminência estavam em choque a visão de homens como Chamberlain ou Halifax, que ainda admitiam uma negociação com Hitler, para evitar a destruição do Reino Unido e o comprometimento total do futuro, e a visão que haveria de prevalecer, personificada por Churchill. Esta disputa, que está no cerne do filme “Darkest Hour”, a que atrás aludimos, foi tendo, à medida que os dias passaram, um ingrediente crucial, por trás de todas as hesitações: a necessidade de proceder ao resgate da Força Expedicionária Britânica, no momento em que esta ficou encurralada em Dunquerque. Mas isso seria só nos últimos dias de maio e nos primeiros de junho. Enquanto a Holanda era martirizada, Churchill estava firme na decisão de enfrentar os alemães, plasmada em tiradas que ficaram para a posteridade, como a seguinte: “Perguntam-me qual é a minha política, e eu vos digo qual é. É promover a guerra no mar, na terra e no ar, com toda a nossa energia e com toda a força que Deus nos der; promover a guerra contra uma tirania monstruosa, nunca ultrapassada no negro e deplorável catálogo dos crimes humanos. É essa a nossa política”.
Encurralados pela Alemanha Indiferentes às disputas políticas britânicas, a que já voltaremos, os alemães continuavam a executar sem contemplações o plano gizado pelo general Erich von Manstein. No mesmo dia do bombardeamento de Roterdão, o controlo alemão da região francesa em redor de Sedan (ou seja, acima do limite setentrional da Linha Maginot) aumentou substancialmente. A partir da penetração em território francês liderada pelo general Guderian, os alemães criaram aquilo a que no jargão militar se chama uma testa de ponte, ou seja, uma posição avançada em território inimigo, a partir da qual lançariam o ataque definitivo sobre as tropas aliadas. Como assim? Porque os Aliados, na ânsia de responder rapidamente à invasão da Bélgica e da Holanda, no dia 10, haviam deslocado o grosso dos seus exércitos estacionados na região para território belga. Assim, ficavam praticamente cercados, face ao avanço alemão a leste e, devido a este novo posicionamento da Wehrmacht, a sul e a ocidente. Ou seja, restar-lhes-ia, como possível escapatória, o Canal da Mancha.
No início, a Royal Air Force ainda tentou atacar as posições germânicas na dita testa de ponte, mas os alemães estavam mais do que preparados, além de o poderio aéreo britânico estar longe de ser o desejável: por ação dos caças da Luftwaffe e das baterias antiaéreas em terra, foram abatidos 40 dos 71 bombardeiros britânicos envolvidos no ataque. Em simultâneo, as tropas francesas eram incapazes de aguentar as suas posições face aos ataques alemães. Com isso, a Força Expedicionária Britânica ficava quase cercada e, por outro lado, Hitler via as suas tropas com uma “autoestrada” aberta rumo a Paris. Enquanto tudo isto acontecia, os Aliados ainda tinham de lidar com o resgate de tropas que tinham na Noruega. Só para complicar um pouco mais as coisas.
Centremo-nos em França, onde os panzers alemães tinham um objetivo a cumprir antes de partirem à conquista de Paris. Esse objetivo, poderá dizer-se, estava centrado na ideia de esmagar a Força Expedicionária Britânica, condição que facilitaria, mais tarde, o objetivo de ocupação da Grã-Bretanha, mas não necessariamente. Enquanto a tomada de França era absolutamente prioritária, invadir a Grã Bretanha não o era, naquele momento. Hitler queria devolver aos franceses, em dose reforçada, a humilhação do Tratado de Versalhes, de 1919, bem como recuperar os territórios de que a Alemanha se dizia espoliada desde séculos antes, designadamente a Alsácia-Lorena (território conquistado pelos franceses no século XVII, na sequência da Paz de Vestfália, devolvido à Alemanha em 1871, após a Guerra Franco-Prussiana, reintegrado na República Francesa após a Primeira Guerra Mundial). Já
com os britânicos, a ideia era forçá-los a negociar a paz, mediante a devolução à Alemanha das possessões coloniais que esta perdera também com a Primeira Guerra Mundial. Claro que as negociações de paz, do ponto de vista de Hitler, não eram mais do que manobras dilatórias, como veio a perceber-se bem, por exemplo, quando em 1941, lançou a Operação Barbarossa, invadindo a União Soviética ao arrepio do pacto de não agressão de 1939.
Ora, para esmagar (ou apenas pressionar, na perspetiva de haver negociação) as tropas britânicas, as colunas alemãs, quando já tinham a tal “autoestrada” aberta até Paris, avançaram em sentido contrário, rumando a noroeste. No dia 20 de maio, seguiram o Rio Somme para jusante, passando Amiens e chegando a Abbeville, consumando aí o cerco às tropas britânicas (maioritariamente britânicas, entenda-se). Não só estas ficavam definitivamente isoladas do exército francês, como, ainda por cima, perdiam totalmente o acesso às suas bases, na França ocidental, ou seja, a qualquer tipo de abastecimento. Enquanto isso, em Londres, Churchill já tinha entre as mais urgentes preocupações a necessidade de traçar um plano para resgatar a FEB de França.
A situação era em todos os aspetos favorável a Hitler. Os britânicos temiam que, a qualquer momento, a Alemanha pudesse atacar a sua ilha do modo que fizera nos Países Baixos, com paraquedistas e tropas aerotransportadas. Em Paris, os franceses estavam apavorados com a iminência do avanço de tanques alemães pelas ruas da cidade-luz, e os ministérios já só se preocupavam em destruir documentos. Pelo meio, Bruxelas havia já ficado sob a sombra da suástica. Um bombardeamento levado a cabo pela Royal Air Force em território alemão, na região do Ruhr, foi um completo fiasco, e a aviação britânica estava longe de estar bem equipada. Havia comprado aos Estados Unidos aviões que estes não podiam entregar, nos termos da neutralidade que haviam declarado no ano anterior, o que levou o presidente Franklin D. Roosevelt à conhecida (e de certo modo anedótica) ideia de voar com os aparelhos até junto da fronteira com o Canadá, país para onde os britânicos podiam puxá-los usando meios
não motorizados (cavalos, força humana...). Na verdade, isso não violaria os termos da neutralidade...
“Armai-vos e sede homens valorosos”
No terreno, os alemães continuavam a empurrar as tropas britânicas (e também francesas e belgas) para o mar, nas regiões do Artois e da Flandres. E assim vamos chegando aos acontecimentos que culminaram na evacuação de Dunquerque. O momento decisivo para esta situação e, passe a sugestão de história contra-factual, para o desfecho da própria guerra (pelo menos, para o desenvolvimento do conflito), foi uma hesitação, ou pausa, dos alemães (provocada, mas não forçosa). Encurralados quando os alemães chegaram à localidade de Le Crotoy, na foz do Somme, fechando completamente o cerco, os britânicos lançaram uma contraofensiva. Sob as ordens do general Giffard Le Quesne Martel (um militar britânico, apesar dos equívocos que o nome possa sugerir), 58 carros de combate da FEB atacaram a 7.ª Divisão Panzer (a que já aludimos, comandada por Rommel) na zona de Arras (perto de Lens e 90 quilómetros a sul de Dunquerque). Surpreendendo os alemães, causaram danos muito consideráveis, que só não foram maiores por a ação dos aviões germânicos entretanto chamados ter posto termo ao ataque. No final, Rommel e os seus tanques tinham sido obrigados a recuar uma dúzia de quilómetros.
Esta ofensiva, desencadeada em 21 de maio, era um fogacho. O general John Vereker (mais conhecido por Lord Gort, sendo o sexto visconde de Gort), comandante-em-chefe da Força Expedicionária Britânica desde o começo da guerra, já havia solicitado ao Gabinete de Guerra, três dias antes, luz verde para retirar para Dunquerque, propondo-se combater de costas para o mar enquanto aguardava a operação de resgate. Toda a campanha britânica, entre setembro de 1939 e junho de 1940, haveria de custar o comando da FEB a Gort, mas ainda hoje se dividem as opiniões entre os que o acusam de ter tido uma atitude derrotista e os que o louvam pela forma como reagiu à crise, conseguindo assegurar o resgate das tropas. Dar um passo atrás para depois poder dar dois em frente.
mesmo dia em que Gort anunciava a intenção de recuar para Dunquerque, Churchill fazia, aos microfones da BBC, a sua primeira alocução radiofónica na qualidade de primeiro-ministro: “Este é um dos mais assombrosos períodos na história de França e da Grã-Bretanha. E também, sem qualquer sombra de dúvida, o mais sublime. Lado a lado, sem outra ajuda que não a dos parentes e amigos dos grandes domínios e dos vastos impérios que descansam sob o seu escudo, lado a lado, povos britânicos e franceses apresentaram-se para salvar não apenas a Europa, mas a Humanidade, da mais vil e humilhante tirania que alguma vez enegreceu e manchou as páginas da história. Atrás deles, atrás de nós – atrás dos exércitos e frotas da Grã-Bretanha e da França –, reúne-se um grupo de estados destroçados e raças massacradas: os checos, os polacos, os noruegueses, os dinamarqueses, os holandeses, os belgas, sobre os quais se abaterá a longa noite da barbárie, nem sequer cortada por uma estrela de esperança, a menos que ousemos conquistar, como conquistar devemos, como conquistar faremos. Hoje é domingo da Trindade. Há séculos ficaram inscritas as palavras que servirão de chamada e ânimo aos servidores fiéis da Verdade e da Justiça: armai-vos, e sede homens valorosos, e preparai-vos para o conflito; pois é melhor morrermos na batalha do que vermos a desgraça da nossa nação e do nosso altar. Assim como é Vontade de Deus no Céu, ainda assim seja feita”.
A retórica de Churchill, aqui com inspiração bíblica, teve junto da população o efeito mobilizador desejado. Os cidadãos britânicos pressentiam ao leme o único homem capaz de os conduzir em tempo de guerra, algo que jamais encontrariam em Chamberlain ou Halifax. E produzir esse convencimento era, efetivamente, um ingrediente fundamental dessa capacidade (essencial, por exemplo, para levar o povo britânico a manter alguma normalidade sob a chuva de bombas que pautou a Batalha de Inglaterra). E, ao criar esse espírito coletivo, Churchill reforçava, também, a energia de que ele próprio precisava para vencer a profunda crise desses dias.
Como atrás já sugerimos, a ofensiva de Martel sobre Rommel teve efeitos que ninguém do comando britânico poderia sonhar. Tampouco do lado alemão perceberam o que estava em causa, ou teriam agido de outro modo. O recuo a que se viu obrigada a 7.ª Divisão Panzer foi, efetivamente, uma das razões que levaram os alemães a fazer uma pausa na ofensiva, mesmo não tendo sido a única nem a principal.
Por um lado, insistimos, Paris era um objetivo prioritário para Hitler, até porque a conquista de França reforçaria o poder da Alemanha numa possível negociação com os ingleses (para reconstruir o império alemão em África, por exemplo). Por outro lado, os alemães não tinham perfeita noção da dimensão do contingente aliado que haviam conseguido encurralar. Presumiam que estavam em causa alguns cem mil homens, não os 400 mil que na verdade ali estavam e que teriam, provavelmente, suscitado a continuidade da ação esmagadora da Wehrmacht, pois haveria consciência de que a guerra poderia ser ali ganha em definitivo. Mas o principal motivo da dita pausa, que veio a facilitar a evacuação de Dunquerque, foi a ordem de parar os ataques dada pelo general Gerd von Rundstedt. Pelas razões que já aduzimos, e que levaram os alemães a considerar os exércitos a norte como um alvo secundário, preocupando-se mais com os obstáculos que julgavam ir encontrar a caminho de Paris. Também por uma preocupação de, por opNesse
ção estratégica, considerar que o ataque final à FEB só poderia ser feito depois de um reagrupamento das forças germânicas, ou seja, mandou parar as colunas de blindados até serem realcançadas pelas tropas de infantaria. Mas também, segundo veio a admitir depois da guerra Von Rundstedt (que em julho de 1940 ainda foi promovido a marechal-de-campo), pela decisão política do próprio Hitler, que considerava ser mais fácil negociar com os ingleses se se deixasse escapar parte da FEB (esta última ideia poderá significar apenas que Von Rundstedt quis ilibar-se do que, afinal, foi um tremendo erro estratégico; na verdade, Hitler escreveu, em 24 de maio: “O próximo objetivo das nossas operações é aniquilar as forças francesas, inglesas e belgas que estão cercadas no Artois e na Flandres, mediante uma ofensiva concêntrica do nosso flanco norte e uma rápida ocupação deste setor da costa do Canal da Mancha”).
A talhe de foice, há também quem assinale que, eventualmente, as condições de Hitler para uma negociação de paz com o Reino Unido poderiam não ser tão desfavoráveis para os interesses estritamente britânicos. Sendo o extermínio dos judeus da Europa, o esmagamento do comunismo e a aniquilação dos povos eslavos as suas principais “motivações”, o ditador alemão estaria interessado em resolver depressa as questões a ocidente, com o intuito de ter uma única frente de guerra no Leste, a fim de estabelecer o Lebensraum (o espaço vital alemão, teorizado pelo geógrafo e etnólogo Friedrich Ratzel, em 1901, e adaptado pelos nazis à sua política expansionista).
“Havemos de lutar nas praias” Voltando aos acontecimentos de maio de 1940, saliente-se que, em Bletchley, Alan Turing e a sua equipa (ver JN História N.º 11). já haviam conseguido quebrar o código das máquinas Enigma, mas isso ainda não representava, naquele momento, uma vantagem decisiva: a quantidade de informação era avassaladora e não havia pessoal suficiente para a tratar, e a maior parte das mensagens, mesmo que desencriptadas, permaneciam em boa parte ininteligíveis, pois muito elementos, designadamente geográficos, eram expressos por termos em código, era usado muito jargão militar alemão, as referências cartográficas não correspondiam aos mapas de que o pessoal de Bletchley dispunha, etc. No terreno, as tropas aliadas não beneficiavam ainda dessa informação e, enquanto os alemães faziam a dita pausa, esperavam ansiosamente a contraofensiva vinda de sul, planeada pelo general francês Maxime Weygand, que acabou por nunca ocorrer.
Em Londres, a prioridade era a evacuação. Mas Churchill tinha ainda pela frente a oposição de Halifax, que insistia em defender uma saída pela via negocial, com a Itália (que ainda não entrara oficialmente na guerra) a fazer o papel de intermediária. Tal como fizera antes de toda a gente em relação a Hitler, o primeiro-ministro também não acreditava por um segundo na mediação de Benito Mussolini: “Se ele viesse como moderador, aproveitava para nos levar a sua fatia”. Foi ainda em maio que, numa sessão da Câmara dos Comuns, Chamberlain e os dois membros do Partido Trabalhista presentes no executivo se puseram ao lado de Churchill e contra a possibilidade de negociar com Hitler, anulando de vez os esforços de Halifax. Desculpar-se-á o regresso ao filme “Darkest
Hour”, mas quem o visionar será levado a pensar que o assentimento de Chamberlain ocorreu no final de um dos mais notáveis discursos de toda a carreira de Churchill, a que aludiremos mais adiante, mas isso deve-se apenas a uma liberdade de adaptação dos factos com que a narrativa cinematográfica, sem dúvida, saiu a ganhar.
Ora, no dia 26 de maio, aviões de reconhecimento alemães avistaram, no porto de Dunquerque, 13 navios de guerra e nove de transporte de tropas britânicos. Foi essa informação que fez Hitler perceber que nunca deveria ter permitido a pausa na ofensiva. Aparentemente, até então, não estava convencido de que os Aliados iriam lançar uma operação de resgate das tropas. Nesse mesmo dia, o Führer ordenou um ataque da cavalaria e infantaria em direção a Dunquerque, a partir de oeste. E também nesse dia o vice-almirante Bertram Ramsay recebia ordens para lançar a Operação Dínamo.
Desde 24 de maio que Dunquerque era a única escapatória possível para os Aliados. Os alemães haviam tomado o porto de Boulogne e mantinham um cerco agressivo a Calais, levando à rápida rendição das tropas aliadas (27 de maio). E a Operação Dínamo não tinha, nem de perto, a ambição de conseguir o que veio a ser conseguido. Esperava-se algo como o resgate de 45 mil soldados, pois previa-se que só fosse possível manter a operação durante dois dias. Afinal de contas, durou sete dias resultou no embarque de quase 340 mil homens rumo a Inglaterra. Planeada por Ramsey, a operação tinha por objetivo salvar o maior número possível de soldados (era o que desse...), tendo sido posteriormente descrita por Churchill como um “tapete mágico” entendido sobre a Mancha, entre França e Inglaterra. Esse tapete era formado por navios. Tanto quantos foi possível arranjar, militares e civis. Há contagens diversas, pelo que apresentar um número preciso com base na bibliografia é arriscado. Seriam entre 900 e mil embarcações. Um cruzador, 39 contratorpedeiros, corvetas, canhoneiras, navios draga-minas e outros pequenos navios militares, iates, arrastões, traineiras e outras embarcações de pesca, rebocadores, largas dezenas de barcos de recreio das mais variadas tipologias. Os barcos mais pequenos tornaram-se vitais para recolher as tropas na praia, pois a destruição do porto de Dunquerque pela aviação alemã tornou inviável a acostagem de grandes navios.
A evacuação decorreu de forma razoavelmente contínua ao longo daqueles dias, mas sempre sob fogo constante, tanto sobre as linhas aliadas que resguardavam o perímetro de Dunquerque como no mar ou no ar, onde se travava uma outra batalha entre a Royal Air Force e a Luftwaffe. Milhares e milhares de soldados faziam filas na praia, à espera de embarcar, estando sujeitos ao fogo da aviação alemã. Mesmo quando embarcavam, nada estava garantido. Ao longo da operação, perto de 240 embarcações foram afundadas pelos alemães, o que ia transformando a Mancha num extenso cemitério subaquático. Em 30 de maio, Lord Gort recebia instruções para, a partir do momento em que a defesa da cidade deixasse de ser “uma resistência organizada”, ele (ou o seu sucessor, pois Gort deixou Dunquerque antes do fim da operação), “capitular formalmente e evitar uma chacina desnecessária”.
Churchill diria, por esses dias, que “as guerras não se ganham com evacuações”, mas não era propriamente verdade. Martin Gilbert chega mesmo a dizer que “o sucesso desta operação foi um episódio de guerra não menos decisivo do que uma vitória naval”. E foi mesmo, em termos de preservação de vidas e da força militar, evidentemente, mas também para levantar o ânimo da população britânica para as provações bem piores que se avizinhavam. Foi também importante para demonstrar que a aviação do Reino Unido era capaz de repelir a alemã (na batalha de Dunquerque, a Luftwaffe perdeu 394 aviões e os seus pilotos, contra 114 da Royal Air Force), condição que seria a chave do sucesso para a longa Batalha de Inglaterra que já se adivinhava no horizonte. Mas foi também uma colossal, e de difícil compensação, perda de material bélico, vital para uma
guerra que se sabia ter muito para durar: destruídos pelos próprios britânicos ou abandonados, ficaram em Dunquerque 60 mil viaturas, dois mil canhões móveis, 90 mil espingardas, 600 mil toneladas de combustível, quase 450 carros de combate, 400 baterias antiaéreas (isto, claro, além de todas as embarcações perdidas ao longo da operação, militares e civis, sobretudo britânicas, mas também em bom número francesas e holandesas). E quando os alemães finalmente tomaram Dunquerque, com a rendição da força defensiva que não embarcou, perto de 40 mil militares britânicos e outros tantos franceses (sobretudo fora do perímetro defensivo de Dunquerque) foram feitos prisioneiros de guerra. Muitos destes foram sumariamente executados, os restantes foram tratados ao arrepio de todas as normas de proteção ditadas pela Convenção de Genebra.
Entretanto, a máquina de propaganda alemã, em casa, celebrava a maior de todas as vitórias militares, mentindo ao dizer que o exército britânico havia ficado reduzido a 40 mil homens. Em paralelo, as tropas do Reich prosseguiram a marcha sobre Paris e levaram à rápida queda de França. A rendição dos franceses haveria de ser assinada, por calculado espírito vingativo de Hitler, na mesma carruagem de comboio onde, em 1919, havia sido assinado o Tratado de Versalhes, suprema humilhação que os alemães não admitiam esquecer. Mas a queda de França é outra história, e não muito complexa. A Batalha de Inglaterra, a que já aludimos algumas vezes, viria a ser a verdadeira “ópera” em que Dunquerque funcionara como prelúdio. E foi com essa perspetiva em mente que Winston Churchill foi, no dia 4 de junho de 1940, prestar contas à Câmara dos Comuns a propósito da Operação Dínamo. Mas não só.
O discurso que o primeiro-ministro britânico proferiu nesse dia um dos mais brilhantes e reproduzidos de sempre, era um grito de guerra, não tão diretamente mobilizador da população como possa pensar-se, pois as sessões da Câmara dos Comuns não eram gravadas nem difundidas pela rádio, mas capaz de unir todas as fações políticas no desígnio verdadeiramente unitário da defesa nacional. E foi, também, um apelo aos Estados Unidos, que, no entanto, mantiveram a neutralidade (Franklin D. Roosevelt tinha a reeleição no horizonte e não queria arriscar) até que o Japão os atacou em Pearl Harbor, no dia 7 de dezembro de 1941. Quase um ano e meio depois de Dunquerque. É com as palavras finais de Churchill, nesse afamado discurso, que fechamos esta breve panorâmica:
“Havemos de ir até ao fim, havemos de lutar em França. Havemos de lutar nos mares e oceanos, havemos de lutar com crescente confiança e crescente força nos céus. Havemos de defender a nossa ilha, seja a que custo for. Havemos de lutar nas praias, havemos de lutar nos locais de desembarque, havemos de lutar nos campos e nas ruas, havemos de lutar nas montanhas. Havemos de nunca nos render. E ainda que – coisa em que nem por um momento acredito – esta ilha ou larga porção dela estivesse subjugada e à fome, então o nosso império de além-mares, armado e guardado pela Frota Britânica, continuaria a lutar, até que, sendo vontade de Deus, o Novo Mundo, com todo o seu poderio e fortaleza, se apresente a resgatar e libertar o Antigo”.