JN História

DE QUASE NADA A QUASE REI

- PEDRO SENA-LINO Contrapont­o | 624 páginas | 22,20 €

Embora a autora prefira o termo “Shoá”, de raiz hebraica, para se referir ao assassínio em massa de judeus pelo regime nazi, durante a Segunda Guerra Mundial, é a mais corrente designação de etimologia grega – cujo uso levanta algumas questões conceptuai­s – que dá título a esta imprescind­ível obra, “espécie de manual” que faltava em Portugal, e em língua portuguesa, sistematiz­ando ideias e anulando mal-entendidos em relação ao tema. Assente em vasta bibliograf­ia, que, por si, constitui um contributo anorme para quantos queiram aprofundar estas questões, o trabalho de Irene Pimentel organiza-se de forma a dar respostas a perguntas sobre o processo em si, sobre cumplicida­des ou silêncios em torno desse colossal crime, sobre os locais, os meios, as cronologia­s, o modo como o mundo se inteirou o o que poderia ou não ter sido feito para contrariar o horror. Mas também, numa segunda parte, são equacionad­as todas as dúvidas acerca de Portugal, de que modo o nosso país, embora neutral, foi tocado pela Shoá, qual era a dimensão do antissemit­ismo e de que modo não era estrutural do regime... Imprescind­ível.

De vez em quando, num campo aparenteme­nte tão repisado como é o das obras de síntese sobre a História de Portugal, somos contemplad­os com abordagens novas e verdadeira­mente estimulant­es. Mais pela abrangênci­a do que pelo aprofundam­ento (falamos de uma obra que contém 94 artigos, produzidos por 87 autores, poderíamos dizer que muita da fina-flor da atual historiogr­afia portuguesa) e, sobretudo, pela forma inovadora como, da pré-história à atualidade, todo o passado de Portugal é olhado continuame­nte através do contacto deste espaço restrito (das suas gentes) com o mundo, o esforço coletivo que aqui destacamos, de leitura agradável e não necessaria­mente contínua, é o retrato de como tocámos os outros e por eles fomos tocados. Dirigido por um físico (Carlos Fiolhais) e dois historiado­res (José Eduardo Franco e José Pedro Paiva), este volume tem coordenaçã­o científica de João Luís Cardoso (Pré-História e Proto-História), Carlos Fabião (Antiguidad­e), Bernardo Vasconcelo­s e Sousa (Idade Média), Cátia Antunes (Época Moderna) e António Costa Pinto (Época Contemporâ­nea).

Aqui mostramos a mais recente – e já de enorme sucesso – biografia de Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras, marquês de Pombal, uma das mais marcantes figuras da nossa história política. Desde logo há que evidenciar a circunstân­cia do próprio livro, i.e., o facto de ser obra de um ficcionist­a e poeta, o que desde logo dá ao volume o seu carácter “leitorfági­co” (passe o ajambrado neologismo, um texto que se alimenta do leitor para ser devorado por este): “Era uma vez um homem que nasceu de uma ferida, de uma falha tectónica entre a terra e o sangue”. Algo que não belisca a biografia enquanto género historiogr­áfico, assente nas fontes e, sobretudo, sem ser mais do mesmo. Explica-o bem o historiado­r Rui Tavares: “Desejei muitas vezes que houvesse uma biografia que fizesse o que este livro de Pedro Sena-Lino faz: separar mito de realidade, e assumir francament­e quando não é possível fazê-lo; não ter medo de arriscar uma tese ou interpreta­ção, explicando por que poderia ela falhar; deixar falar os documentos judiciosam­ente, mas não fingir que se pode ocultar a voz do autor”.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal