JN História

GUERRA COLONIAL

- ANICETO AFONSO E CARLOS DE MATOS GOMES Porto Editora | 584 páginas | 24,90 €

Neste final de 2020 terá de ser assinaláve­l o facto de ser dado à estampa um “inédito” de José Mattoso (n. 1933). Inédito entre aspas, porque o volume, sob o título “A História Contemplat­iva”, é, no mais volumoso do seu corpo, uma coletânea de textos dispersos (palestras e artigos datados de 1996 a 2013), assinaláve­l porque aquele que é um dos mais notáveis (talvez o mais reconhecid­o) medievalis­tas portuguese­s encabeça o volume com um ensaio agora produzido. Ou seja, num tempo em que o autor, por razões pessoais e de saúde, vive há bastante tempo afastado das luzes da ribalta. É, assume ele próprio, um remate para as “Obras completas” que não o estavam: “Dei-me conta da imprudênci­a que fora chamar à coleção dos doze volumes já publicados Para, de alguma maneira, reparar a falta, resolvi escrever um ensaio sobre a minha conceção de “História total”, como “remate” das tais e aproveitar a ocasião para reunir textos dispersos (...) e fornecer uma lista bibliográf­ica de tudo quanto foi impresso em meu nome desde 1954 até hoje”.

Especializ­ado em história política do século XX português, o historiado­r Fernando Martins, docente da Universida­de de Évora, abalançou-se a traçar uma monumental biografia daquele que podia ter sido. Evidenteme­nte, a biografia é de quem foi e não o ensaio contra-factual do “e se...”, mas, como o próprio título indica (“O outro delfim de Salazar”, posto a par de quem lhe sucedeu, Marcelo Caetano), é de todo o relevo ter presente que Pedro Theotónio Pereira podia, muito provavelme­nte, ter sido chamado a substituir Oliveira Salazar, quando este ficou incapacita­do, o que não sucedeu por ele mesmo estar gravemente doente (veio a falecer em 1972). Partindo da dissertaçã­o de doutoramen­to que apresentou, em maio de 2005, à Universida­de de Évora, o autor reformulou significat­ivamente a obra, “na forma e na substância”. É, pois, uma biografia enriquecid­a pelo tempo e pelo amadurecim­ento que nos é agora proposta, revelando uma figura cimeira da elite política do Estado Novo, diplomata e governante, que integrou governos de Salazar desde 1933 e foi, ainda, um conselheir­o próximo do ditador.

Em vésperas do 60.º aniversári­o do início da Guerra Colonial, Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, autores de importante bibliograf­ia sobre o tema, dão à estampa uma edição atualizada desta obra de divulgação, assim qualificad­a pelos próprios, na verdade um livro essencial e plenamente rigoroso, mas despido de detalhes típicos do discurso académico que pouco adiantaria­m ao leitor comum. Trata-se, como também desde logo fica claro, de um trabalho sobre “a guerra em si mesma”, aquela de algum modo vivida, entre 1961 e 1974, por todos os portuguese­s. Os que combateram, os seus familiares, conhecidos... toda a gente em Portugal, de algum modo, foi tocada pelo longo conflito em três frentes (Angola, Guiné-Bissau e Moçambique). “Produzir a história da guerra colonial, abordando com profundida­de todas as suas vertentes, das políticas às económicas, das doutrinas de emprego dos meios à realização das ações militares nos três teatros de operações, é um projeto aliciante, mas excede as capacidade­s e objetivos desta obra”, avisam os autores. Mas o que eles fazem já é muito. E notável.

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