Não há futuro despido de passado
O futuro só pode ser interpretado no momento em que se tornar passado. A máxima, que me saiu por estes dias a propósito de outros assuntos, sintetiza como os historiadores leem o mundo. Enquanto cidadãos, em função dos nossos conhecimentos, instintos ou simpatias, podemos conjeturar futuros, indo ao ponto de visualizar e descrever coisas por acontecer. Sabemos, porém, ser muito provável que esses futuros antecipados não aconteçam, pelo menos com o rigor com que os havíamos previsto, pois à divindade está reservada a interpretação contínua de todos os fatores que convergem num qualquer efeito. De um modo ou de outro, somos ultrapassados pelos acontecimentos, e estar na vida é uma permanente luta para minimizar efeitos indesejáveis e, se possível, torná-los residuais ou até desprezáveis.
Só à história caberá, encerrados que estejam os processos passados, propor explicações mais ou menos definitivas. É improvável que tenhamos uma compreensão integral da conflitualidade no Médio Oriente no nosso tempo de vida, por não ter fim à vista, fundada que está em atritos mais velhos do que a memória. E não falta quem, apelando à urgência de agir, menospreze o conhecimento do passado em que tudo assenta, entendendo-o como uma bizarria lúdica. Não é esse o papel da JN História. Como nas lutas do nosso quotidiano, em que o conhecimento da natureza humana, das pessoas ou dos factos nos ajuda a tomar decisões ou a discernir comportamentos, nenhuma ação humana é inteligível se descartarmos o seu lastro de passado.