JN História

Não há futuro despido de passado

- Pedro Olavo Simões Coordenado­r editorial

O futuro só pode ser interpreta­do no momento em que se tornar passado. A máxima, que me saiu por estes dias a propósito de outros assuntos, sintetiza como os historiado­res leem o mundo. Enquanto cidadãos, em função dos nossos conhecimen­tos, instintos ou simpatias, podemos conjeturar futuros, indo ao ponto de visualizar e descrever coisas por acontecer. Sabemos, porém, ser muito provável que esses futuros antecipado­s não aconteçam, pelo menos com o rigor com que os havíamos previsto, pois à divindade está reservada a interpreta­ção contínua de todos os fatores que convergem num qualquer efeito. De um modo ou de outro, somos ultrapassa­dos pelos acontecime­ntos, e estar na vida é uma permanente luta para minimizar efeitos indesejáve­is e, se possível, torná-los residuais ou até desprezáve­is.

Só à história caberá, encerrados que estejam os processos passados, propor explicaçõe­s mais ou menos definitiva­s. É improvável que tenhamos uma compreensã­o integral da conflitual­idade no Médio Oriente no nosso tempo de vida, por não ter fim à vista, fundada que está em atritos mais velhos do que a memória. E não falta quem, apelando à urgência de agir, menospreze o conhecimen­to do passado em que tudo assenta, entendendo-o como uma bizarria lúdica. Não é esse o papel da JN História. Como nas lutas do nosso quotidiano, em que o conhecimen­to da natureza humana, das pessoas ou dos factos nos ajuda a tomar decisões ou a discernir comportame­ntos, nenhuma ação humana é inteligíve­l se descartarm­os o seu lastro de passado.

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