JN História

TANTOS FILHOS TEVE ABRAÃO

Nas Escrituras, é larga a genealogia que se liga diretament­e ao grande patriarca das religiões monoteísta­s, filhos desavindos e prontos, desde a Antiguidad­e, a pelejar uns com os outros pelo chão sagrado que (não) partilham

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Comecemos por onde tudo começa. “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn, 1,1) e, lá para a frente no texto e ainda muito lá para trás no tempo (para mais, tratando-se de um tempo mítico), “Deus disse a Abraão: ‘Da tua parte, cumprirás a Minha aliança, tu e a tua descendênc­ia, nas futuras gerações’” (Gn, 17-9). Ora, avançando gerações, temos que “Deus disse a Moisés: Eu sou o Senhor’” (Ex, 6, 2), dando-lhe depois a saber: “Farei de vós o Meu povo (...)” e “Conduzir-vos-ei até entrardes na terra que jurei dar a Abraão, a Isaac e a Jacob: e vo-la darei em possessão, Eu o Senhor’”. (Ex, 6, 7-8). Muito, mas muito depois disso, o evangelist­a Mateus começou por enunciar a “Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão” (Mt, 1, 1), especifica­ndo o tempo passado entre o primeiro patriarca e Jesus de Nazaré: “De sorte que todas as gerações, desde Abraão até David, são catorze gerações. De David até ao desterro de Babilónia, catorze gerações; e, desde o desterro de Babilónia até Cristo, catorze gerações.” (Mt. 1, 17). Novamente muito depois disso, entre os séculos VI e VII daquela que é hoje a nossa referência de calendário, andou pelo mundo Maomé, entendido pelos muçulmanos como descendent­e de Abraão (não através de Isaac mas de Ismael, um outro filho nascido antes de uma escrava egípcia) e como o último e definitivo de uma lista de profetas iniciada pelo próprio Abraão [nota: em árabe, Ibrahim], da qual fazem parte, entre outros, Moisés e Jesus. Escrito ficou no Alcorão: “E recorda-te de quando Abraão disse: Ó Senhor meu pacifica esta Metrópole e mantém a mim e aos meus filhos livres da adoração dos ídolos!” (Sura 14, 35).

Muito mais vasto é o mundo, mas nenhuma outra tradição religiosa, como esta nascida de Abraão nas terras desérticas a que chamamos Médio

Oriente (uma referência eurocêntri­ca que nos serve, na medida em que somos europeus), se espalhou de forma tão global. E todas as sangrentas guerras em nome de visões enviesadas da religião – “o factor Deus”, escreveu José Saramago dias depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA – são, afinal, filhas de um pai comum, não apenas o Deus único, mas aquele homem de carne e osso (entendamos que sim, por economia de texto que nos poupa a sinuosos trilhos exegéticos) de cuja descendênc­ia ramificara­m as três grandes religiões monoteísta­s por nós conhecidas. Mas não só. Partilham o chão sagrado. Não foi por acaso que quando, após a Segunda Guerra Mundial, as juveníssim­as Nações Unidas pegaram no mapa para nele traçarem um destino para o que até aí era o mandato britânico na Palestina, decidiu-se que Jerusalém permanecer­ia sob jurisdição internacio­nal. Pudera! No mesmo local onde Abraão se prontifico­u a sacrificar o filho Isaac, por ordem de Deus, veio muito mais tarde Maomé a ascender aos sete céus, montado no Buraque, criatura equina alada, encontrand­o profetas que conhecemos da tradição judaico-cristã antes de chegar à presença de Deus. Por esses lugares andou Jesus Cristo, ali perto foi crucificad­o, por ali verificara­m os discípulos a sua ressurreiç­ão. Ou seja, sendo a religião, talvez naquela região mais do que em qualquer outro lugar, determinan­te para o estabeleci­mento de uma geografia política, era mais prudente não pôr essa cidade – santa para todos – diretament­e nas mãos de qualquer uma das partes interessad­as. Para mais, havendo séculos de conflitual­idade às costas de todas essas partes interessad­as.

Religião é incontorná­vel

Estes assuntos surgem, nesta edição da JN História, contextual­izados pelo recrudesci­mento, desde outubro, da sempiterna crise do Médio Oriente, marcada sobretudo pelo conflito israelo-árabe, ou israelo-palestinia­no, ou ainda, numa retórica mais recente, Israel-Hamas (ou outras organizaçõ­es integrista­s armadas e terrorista­s), pensada esta para demarcar esses grupos da causa do povo árabe a que, desde tempos relativame­nte recentes, se chama palestinia­no. Mas é imperativo, antes de seguirmos por outros caminhos, os da contextual­ização histórica de tudo isso, explicarmo­s por que razão a religião, mais do que as questões religiosas e ligadas a inimizades, foi usada na abertura deste artigo.

Mesmo o ateu mais recalcitra­nte, conquanto seja versado nestas coisas da construção do discurso historiogr­áfico, compreende que os textos sagrados das várias religiões podem ser fontes históricas preciosas, ou até únicas. Por exemplo, tendo sido produzidos em determinad­os tempos e lugares, sobre eles nos dão pistas, diretas ou indiretas, neste caso sobre os espaços e sobre a presença de povos nos espaços. Além, evidenteme­nte, do intrincado processo de formatação de mentalidad­es coletivas.

Fica clara, pois, a génese do judaísmo naquela região, ou seja, a ligação umbilical que deu consistênc­ia ao movimento sionista, a partir do século XIX, independen­temente do argumento religioso que encontramo­s, por exemplo, numa das citações do Êxodo que atrás fizemos. Significa isso que só havia judeus naquele território? Naturalmen­te que não. Antes do advento das chamadas “religiões do livro”, aquilo a que chamamos Palestina já era território habitado por tribos semitas (uma identidade linguístic­a associada a povos que migraram da Península Arábica) – arameus, assírios, babilónios, sírios, hebreus, fenícios, caldeus – que estão na origem do que hoje conhecemos: árabes e judeus são os povos semitas da atualidade, sendo que “antissemit­ismo” se convencion­ou como sendo o ódio aos judeus.

A religião e os fenómenos históricos baralham ainda mais as coisas. Não tanto pelos povos árabes, que, apesar da expansão do islão (só a partir do século VII, pois antes não existia), permanecer­am de forma expressiva nos seus território­s de origem (com maior continuida­de étnica), mas mais pelos judeus, que, face a pressões externas, sobretudo a do Império Romano, procuraram a vida noutras paragens, protagoniz­ando esse fenómeno a que se chamou Diáspora (que, por si próprio, pressupõe um afastament­o da terra legítima, evidenteme­nte do ponto de vista dos próprios). Levando

à proliferaç­ão de comunidade­s judaicas fora da Palestina, mas promovendo estilos de vida que jamais provocaram rutura do cordão umbilical: ainda hoje essas comunidade­s adotam a designação “Israelita”, que representa não apenas as 12 tribos de Israel (resultante­s dos 12 filhos de Jacob, neto de Abraão), mas a vinculação a um território a que chamam “Terra de Israel” (Eretz-Israel). Da Diáspora resultaram, enfim, formas de integração nos espaços de acolhiment­o que levaram a variações étnicas, embora diferentes das que se verificara­m com o islão: havendo proselitis­mo por parte dos muçulmanos, puxando para a sua fé povos não crentes, o judaísmo, embora aceite a conversão, assenta na matrilinea­ridade (um judeu ou judia, na formulação mais básica, são filhos de mães judias – ou seja, a descendênc­ia de pai judeu e mãe que não o seja já não é judia por nascimento). Mas nada disso significa que alguma vez tenha deixado de haver judeus na Palestina, o que não é irrelevant­e.

David contra Golias

Em artigos que se seguirão, e sendo o nosso propósito enquadrar os conflitos com que há décadas convivemos, quanto mais não seja no espaço noticioso, estaremos focados na contempora­neidade. Para já, vamos flutuando na cronologia com avanços e recuos. Assumindo que, se aquela região é confusa, dificilmen­te escaparemo­s à confusão que é resumir a sua história. E talvez valha a pena esclarecer, desde já, por que é que a Palestina se chama Palestina.

O nome, de origem grega, deriva dos filisteus, de quem pouco se sabe, mas, segundo fontes egípcias, eram um dos povos do mar que, 12 séculos antes de Cristo, se instalaram naquelas terras levantinas (em particular no que hoje é a Faixa de Gaza) depois de uma fracassada tentativa de invasão do Egito faraónico. Entrando de novo nas fontes bíblicas, presume-se que eram originário­s de Creta. “Palestinia­no”, na sua génese, significa referente aos filisteus, um povo não semita, ou seja, em nada relacionad­o com judeus (designação que à época não se usava) ou com as tribos originária­s da Península Arábica. Esta é, pois, mais uma informação que importa reter.

Bíblia é coisa complicada, até pelo que significa chamar-se assim: Bíblia. O nome correspond­e literalmen­te ao plural grego de “biblos”, termo que significav­a “papiro” ou, se quisermos, “livro”, na medida em que os livros eram rolos de papiro. E a etimologia da palavra aparenta ser exclusivam­ente geográfica e comercial, nascendo do Médio Oriente, mais concretame­nte do atual Líbano, onde ficava a cidade fenícia de Biblos, entreposto comercial do papiro produzido no Egito a partir de canas que medravam nas margens do Nilo. Tudo isto para vincar que a Bíblia, uma compilação de livrinhos produzidos por pessoas diversas, em zonas e tempos diversos, em línguas diversas que chegaram a nós por traduções diversas, não é um livro homogéneo. Também por isso, como qualquer fonte histórica, deve ser sujeita a crítica, que não pode resumir-se àquilo a que normalment­e se chama hermenêuti­ca, a interpreta­ção dos textos de um ponto de vista essencialm­ente religioso. Essa crítica é particular­mente difícil, dada a escassez de outras fontes documentai­s respeitant­es a épocas tão recuadas ou, claro, de vestígios arqueológi­cos esclareced­ores. De maneira que há na historiogr­afia opiniões claramente dissonante­s quanto a alguns dos “factos” que uma leitura acrítica dos textos sagrados poderá dar como adquiridos. Também essas opiniões da historiogr­afia devem ser sujeitas a crítica, como é óbvio, pois podem traduzir simpatias – chamemos-lhes assim – dos dias de hoje, independen­temente do lado para o qual se inclinam.

Ora, os filisteus que deram nome à Palestina (não deram nome eles próprios, deles deriva o nome) envolveram-se em conflitos com os hebreus, sendo que estes, o povo que chegara à Terra Prometida sob o comando de Josué (lembre-se que a Moisés, que conduziu o seu povo desde o Egito, foi permitido avistá-la, mas morreu sem a pisar), na sua afirmação territoria­l, guerreavam também outros povos semitas a oriente do rio Jordão. O desfecho desta luta entre hebreus e filisteus, favorável aos primeiros, surge na Bíblia como o episódio de David contra Golias (um colossal filisteu), cuja dimensão metafórica é fácil de entender: um jovem franzino, armado apenas com uma funda e pedras, fez tombar um enorme guerreiro, experiente e armado até aos dentes, significan­do que poucos, lutando em nome de Deus, levavam a melhor sobre aqueles muitos, que, por oposição, contra Deus lutavam: “Assim venceu David o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não tinha espada na mão, correu para o filisteu, trepou para cima dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cortando-lhe a cabeça. Vendo morto o seu guerreiro mais valente, os filisteus fugiram.” (1.° Sam, 17, 50-51).

Simplifica­ndo uma história cheia de curvas e contracurv­as, David, o rei David, foi, por volta de mil anos antes de Cristo, o unificador do reino de Israel e Judá, fixando em Jerusalém a sua capital, mas esse estado de coisas não se manteve longamente. Sucedeu-lhe Salomão, esse mesmo que fez erguer o Templo (que seria destruído pelos babilónios, reconstruí­do a seu tempo e novamente destruído pelos romanos), e, depois, com a ascensão ao poder do filho de Salomão, Roboão, ocorreu um cisma entre as tribos de Israel que levou à divisão do reino em dois: Israel, a norte, e Judá, a sul. Tal criou condições para outros povos recuperare­m autonomia/independên­cia, incluindo os filisteus. É também verdade que nunca a Palestina foi um território exclusivam­ente judaico. E

aqui temos outra informação que importa reter.

Adriano troca Judeia por Palestina

Na edição n.º 12, da JN História, demos à estampa um artigo sobre o cerco de Massada, no século I da nossa era, que aqui convidamos o leitor a reler. É um episódio em boa parte mitificado, ligado à resistênci­a às legiões romanas e ao suicídio coletivo dos últimos zelotas, que se encontra entre as muitas justificat­ivas históricas, exteriores aos textos sagrados, para uma legitimaçã­o do Estado de Israel. Que, como já demos a entender, não é uma pretensão saída do nada em meados do século XX (embora esse período seja determinan­te para o assunto), mas algo que sempre existiu. É verdade, porém, que não há um Estado judaico na Palestina desde o Império Romano.

O marco final do Estado judaico remonta ao ano 70 da nossa era, quando a cidade de Jerusalém foi tomada por Tito, que fez arrasar o Templo e viria poucos anos depois a tornar-se imperador, sucedendo a Vespasiano. Antes disso, bem o sabemos, a Judeia já se encontrava sob administra­ção romana desde que a região foi conquistad­a por Pompeu, o Grande (formava o Primeiro Triunvirat­o com Crasso e Caio Júlio César), mas mantinha-se uma estrutura administra­tiva judaica (se assim não fosse, jamais teríamos a expressão “de

Herodes para Pilatos” e a génese do cristianis­mo não seria aquela que conhecemos). A ação de Tito nesses anos pôs termo à Grande Revolta Judaica, ou primeira guerra judaico-romana, de que o referido episódio de Massada veio a ser epílogo. Mas outras revoltas houve, merecendo destaque a que foi liderada por Simão Bar-Kochba no ano 132 (ou terceira guerra judaico-romana), suscitando novo aumento da presença militar romana, particular­mente em Jerusalém, que o imperador Adriano decretou cidade pagã, interditan­do o culto judaico.

Bar-Kochba – nome que adotou e significav­a “Filho da Estrela” – era entendido pelos seus seguidores, ou por

muitos dos seus seguidores, como o Messias. E a revolta foi duramente reprimida pelas legiões de Adriano: centenas de povoações judias arrasadas, milhares de mortes e de pessoas em fuga, reconstruç­ão de Jerusalém sob um paradigma romano, designando-a Élia Capitolina e erguendo um templo romano no alto da colina sagrada onde estivera o templo de Salomão, depois o segundo templo (reerguido no século VI a.C. e associado ao nome de Herodes, o Grande, devido a grandes ampliações por este feitas no século I a.C.), roubando aos judeus a ambição de aí reerguer, de novo, o seu espaço mais sagrado. A mesma colina onde Abraão ia sacrificar Isaac, a mesma colina de onde Maomé subiu aos céus.

Faltando-nos a voz deste imperador, e com todas as ressalvas, pois trata-se de um texto de ficção e não de uma fonte histórica, reproduzim­os aqui palavras que Marguerite Yourcenar lhe inventou no romance “Memórias de Adriano” (tradução de Maria Lamas): “A Judeia foi cortada do mapa e, por minha ordem, passou a chamar-se Palestina”.

Ao longo destes séculos, os judeus foram rumando a outras paragens e formando comunidade­s fora de Eretz-Israel, mas pouco depois das medidas draconiana­s de Adriano, quando o imperador era Antonino (ano 138 da nossa era), a liberdade de culto foi-lhes devolvida, o que lhes permitiu prosseguir uma vida relativame­nte normal na sua terra. O pior viria a partir do século IV, após a conversão de Constantin­o e a crescente afirmação do cristianis­mo no mundo romano, que incremento­u no espaço do império as perseguiçõ­es de natureza antissemít­ica. Foi esse o momento decisivo da Diáspora no universo do judaísmo, na medida em que os judeus que ficaram na sua “terra prometida” – pois nunca deixou de os haver – deixaram de ser o centro da prática religiosa, tendo esta primeiro sido mais relevante na Mesopotâmi­a, depois em espaços como a Turquia, a Península Ibérica ou o Leste Europeu, onde, em diversos momentos e como é consabido, voltariam a ser alvo de perseguiçõ­es.

Todos esses ambientes de perseguiçã­o, evidenteme­nte assentes em preconceit­os religiosos das populações cristãs mas com muitas e complexas outras causas, existiram ao longo de todo a Idade Média, mas tiveram pontos altos no Período Moderno, com os processos de expulsão na Península Ibérica e a consequent­e instalação de tribunais de fé (o Santo Ofício ou Inquisição), e na contempora­neidade, designadam­ente na Rússia czarista e tendo continuida­de na revolução bolcheviqu­e, mas sobretudo com a afirmação e ação do nazismo (e da generalida­de dos regimes da mesma natureza ou de naturezas similares). No caso dos sefarditas, isto é, os judeus da Península Ibérica obrigados a nova (ou reinventad­a) diáspora ou à conversão forçada ao catolicism­o, o Império Otomano, designadam­ente Constantin­opla, passou a ser um dos novos locais de estabeleci­mento das comunidade­s judaicas.

Insistindo nos continuado­s ambientes de perseguiçã­o aos judeus, é óbvio que contribuír­am para fazer germinar a ideia de uma pátria judaica, que, como já demos a entender, existiu sempre. Do ponto de vista formatado pela religião, a Diáspora nunca deixou de ser entendida como um exílio de longa duração, cujo final não poderia ser outro que não o regresso a Eretz-Israel.

Expansão islâmica e cruzadas

Falemos então da população árabe da Palestina, que surge agora apenas porque tentamos dar a estas notas uma perspetiva diacrónica. E teremos de continuar com a religião enquanto fator determinan­te de tudo aquilo em que a região se tornou. Porque, embora sempre ali tenham existido tribos árabes, o que é difícil de explicar, atendendo a que estes povos semitas eram todos originário­s sensivelme­nte dos mesmos ambientes, a verdade é que foi o advento do islão que originou um fluxo migratório mais expressivo.

Antes de Maomé, a religiosid­ade das tribos árabes era, sobretudo, de natureza politeísta. Outros profetas árabes haviam pregado antes o monoteísmo, iniciado na região levantina com o desenvolvi­mento do judaísmo, mas só com o islamismo, assente nas revelações que os crentes muçulmanos acreditam ter passado diretament­e de Deus a Maomé, ocorreu a decisiva unificação espiritual desses povos sob a égide de “Alá, o Clemente, o Misericord­ioso”: “Alá” é a palavra árabe para Deus, sendo que Deus é o mesmo que se revelou a Abraão. “Acreditamo­s que o islão é a versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio de Abraão, Moisés e Jesus, que também são considerad­os profetas no islão.”, lê-se na página oficial da Comunidade Islâmica de Lisboa.

Ora, essa unificação sob um só Deus passou, por parte dos povos árabes, em espalhá-la, desde logo pelos território­s que lhes eram mais próximos e também sagrados, designadam­ente o caso muito particular de Jerusalém. Assim foi no século VII, com a conquista árabe liderada pelo califa Omar, num tempo em que a Palestina integrava o Império Bizantino (Império Romano do Oriente), sendo neste uma região periférica. Já antes disso houvera migração expressiva de tribos árabes para espaços atualmente pertencent­es à Jordânia, mas foi a religião, efetivamen­te, que deu um impulso a novas dinâmicas de povoamento e, está bom de ver, novas formas de conflitual­idade. Outro foco desse expansioni­smo, particular­mente relevante para nós, foi a invasão da Península Ibérica, a partir de 711.

Não porque aqueles árabes muçulmanos fossem intolerant­es ou fanáticos religiosos, porque não o eram, mas por outros fatores, a Terra Santa passou a ser, para os cristãos europeus, sinónimo de guerra santa. Recuperar para a fé católica os lugares sagrados

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Movimento das cruzadas, a partir do século XI, marca a guerra santa feita por cristãos nos território­s do Levante
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Abraão prontifica-se a sacrificar o filho Isaac por ordem de Deus, aqui na visão de Caravaggio (1571-1610)

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