Duas décadas de ideias enredadas
Escrever e publicar, num tempo em que a letargia cívica de uns alimenta a voracidade populista de outros, pode parecer frustrante, não pelo que se quer transmitir, mas por um ilogismo em crescimento: as pessoas buscam aquilo com que à partida concordam e rejeitam o que as interpela. Há semanas, assinalou-se o vigésimo aniversário do Facebook, relevante para estes assuntos porque adensou o problema: o negócio das redes sociais assenta na premissa de dar às pessoas aquilo com que se identificam, capturando-as em teias de contactos com interesses coincidentes ou parecidos. Assim, surgem bolhas tribais em que se agrupam pessoas não apenas pelos hábitos de consumo, mas também em função de causas – da esterilização de gatos à defesa de minorias –, prontas a lutar até às últimas consequências e a ver inimigos nas outras bolhas, sejam étnicas, clubísticas, nacionalistas, religiosas...
As redes sociais, com tudo o que têm de bom, são alfobres de teorias da conspiração, desinformação de toda a sorte e, claro, das estratégias sombrias de grupos antidemocráticos. Isso só se combate desenvolvendo o sentido crítico dos cidadãos em geral, o que não pode confundir-se com a fixação em realidades parciais, logo incompletas, ou com o desprezo acintoso pelas realidades alheias. Não querer saber do que é diferente é, mais do que convencimento ou sobranceria, desistência. Desistência da sede de conhecer e compreender que está por trás da nossa evolução enquanto espécie. É também contra isso que aqui lutamos.