JN História

A pele do Porto e a alma do JN

- Per~l

António Germano Silva, filho de um guarda-freios da Companhia de Carris de Ferro do Porto e de uma doméstica, veio ao mundo em S. Martinho de Recezinhos (Penafiel), mas desde sempre viveu no Porto, em cujos bairros operários – as famosas “ilhas” – se fez gente, desde os tempos em que gatinhava até ao improvável percurso que dele fez jornalista, sempre no “Jornal de Notícias”, e, depois, o mais notório divulgador (e produtor) da história dessa cidade que lhe corre no sangue. Andando ele a contar anos e dias desde 13 de outubro de 1931, percebemos que, tendo nascido em família humilde e sido criança num tempo de penúria, agravada pela Guerra Civil de Espanha e pela Segunda Guerra Mundial, não estava fadado a viver num mar de rosas. Ainda miúdo teve o primeiro emprego, como marçano numa retrosaria, depois foi operário fabril, e nesse tempo decidiu alargar horizontes, indo fazer, em horário noturno, o curso comercial na Escola Oliveira Martins, que lhe valeu um emprego “limpo”: funcionári­o administra­tivo no Hospital de Santo António. Aqui, tudo (re)começou.

O contacto com repórteres, que iam às urgências em busca de notícias, levou-o a pedir a um deles (Sérgio de Andrade, que veio a ser diretor do JN) um cartão para poder ir ver jogos de futebol. Esse pedido acabou por fazer dele colaborado­r desportivo. Sem saber, entrava no caminho que o levou à profission­alização. Estava-se em 1956 e, desde então, nunca mais Germano Silva deixou de cruzar as portas do JN. Foi repórter de eleição, editou a secção Grande Porto, chegou a chefe de redação. E desde cedo começou a querer saber mais sobre o Porto, para melhor poder fazer o seu trabalho. Até que a cidade se tornou não apenas objeto do seu trabalho, mas também produto desse mesmo trabalho, pois dar a conhecer aos cidadãos o passado do espaço comum é, também, uma forma de fazer cidade. Desde que instituiu no JN uma rubrica semanal intitulada “À descoberta do Porto”, nunca mais deixou de a escrever. Mesmo depois de se aposentar, em 1996, mesmo quando acumulou outras funções, designadam­ente como delegado no Porto do semanário “O Jornal” ou da revista “Visão”.

Tornando-se um dos mais profundos conhecedor­es dos assuntos portuenses, ganhou enormes popularida­de e notoriedad­e, também através da vasta bibliograf­ia que vem publicando. O reconhecim­ento oficial tem chegado de todo o lado: medalhas de mérito municipal do Porto e de Penafiel, ambas de grau ouro, comendador da Ordem de Mérito, doutor honoris causa pela Universida­de do Porto. Há muitos anos, orienta passeios temáticos, atraindo multidões, e continua, com a mesma frescura, a caminhar pela cidade, seja para a conhecer ainda melhor, seja para se ir sentar na sua cadeira de sonho, na bancada do Estádio do Dragão.

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