06 IMAGINAR E ORGANIZAR RELAÇÕES DE PARENTESCO DENTRO DOS CORPOS VINCULARES
Lima, território por excelência da casa-solar, onde há décadas decorrem dois projetos cruciais: a conservação do património arquivístico das casas de família, com o Arquivo Municipal, e a viabilização das casas subsistentes, com o turismo de habitação.
Uma segunda via será desenhada a partir da nossa “maior base de dados”, que alberga vasto material, e em cuja construção adquirimos imenso know-how. Acreditamos no seu potencial de criação de valor direto e comercial, bem como planeamos construir, a partir dela, instrumentos de valorização comunitária do património.
De modo a consolidar estas ações, a presença e a organização de eventos de formação e debate sobre criação de valor foi outra preocupação do projeto: participação por convite na sessão “How to create value through history? A past with a future”, do Sustainable Value Creation Summit, na Nova SBE, organização do seminário “Casas com História(s): O diálogo interdisciplinar na construção do turismo histórico e cultural”, ambos em maio de 2023 (em colaboração com o Instituto de Estudos Medievais).
AS ANÁLISES HISTÓRICAS DOS MATERIAIS DA BASE E OS ESTUDOS COMPARATIVOS
De acordo com a proposta teórica do projeto, os vínculos eram entidades corporativas com agência própria, assente em três parâmetros: parentesco, poder e identidade. A cada um deles corresponde um dos livros de analise histórica dos materiais da base. Um quarto livro, também a partir destes, realiza uma abordagem global da vinculação nos territórios portugueses no Atlântico e Brasil.
O projeto incluirá ainda três outros livros, resultantes de encontros científicos internacionais, nos quais terão lugar as perspetivas comparativas previstas, tanto em História como em Arquivística Histórica. das dimensões intrínsecas dos vínculos, o parentesco era, por um lado, um suporte à existência destas formações sociais: as suas redes constituíam o campo de recrutamento dos administradores, em fundações que se projetavam perpetuamente. Por outro lado, as relações de parentesco eram objeto de regulação por parte dos fundadores. Ambas as dimensões preconizavam formas de imaginar e organizar o parentesco através do enquadramento vincular: definindo “polos quentes” dentro do universo das relações, chamados a integrar e administrar os vínculos, e impondo comportamentos e valores às gerações vindouras. A estas operações está subjacente a vontade dos fundadores, vertida no documento de instituição e convertida em “lei interna” do vínculo.
O fundador e os seus laços de sangue
Formava-se uma cadeia entre instituidores e administradores, “enquanto o mundo for mundo”, prioritariamente assente nos laços de sangue. Em quase todas as instituições, a administração cabia somente a uma pessoa em cada geração. A sucessão passaria através da descendência, “de grau em grau por linha direita”. Na ausência desta, os colaterais surgem como recurso alternativo. A masculinidade e a primogenitura eram os critérios dominantes para definir quem, numa mesma geração, tinha prioridade para exercer a administração. Os instituidores também estatuíam outras cláusulas para delinear o perfil do herdeiro, tais como a exclusão de clérigos ou de filhos ilegítimos. Todos estes critérios significavam a definição de “polos quentes” dentro dos universos parentais. Os instituidores projetavam, na sua geração e nas vindouras, perímetros preferenciais, primordialmente assentes na proximidade, e que deveriam encarnar a continuidade.
A hierarquia dos parentes
Depois de moldar os perímetros de parentesco suscetíveis de serem integrados e de administrar o vínculo, os insUma