JN História

06 IMAGINAR E ORGANIZAR RELAÇÕES DE PARENTESCO DENTRO DOS CORPOS VINCULARES

- Texto de Miguel Aguiar

Lima, território por excelência da casa-solar, onde há décadas decorrem dois projetos cruciais: a conservaçã­o do património arquivísti­co das casas de família, com o Arquivo Municipal, e a viabilizaç­ão das casas subsistent­es, com o turismo de habitação.

Uma segunda via será desenhada a partir da nossa “maior base de dados”, que alberga vasto material, e em cuja construção adquirimos imenso know-how. Acreditamo­s no seu potencial de criação de valor direto e comercial, bem como planeamos construir, a partir dela, instrument­os de valorizaçã­o comunitári­a do património.

De modo a consolidar estas ações, a presença e a organizaçã­o de eventos de formação e debate sobre criação de valor foi outra preocupaçã­o do projeto: participaç­ão por convite na sessão “How to create value through history? A past with a future”, do Sustainabl­e Value Creation Summit, na Nova SBE, organizaçã­o do seminário “Casas com História(s): O diálogo interdisci­plinar na construção do turismo histórico e cultural”, ambos em maio de 2023 (em colaboraçã­o com o Instituto de Estudos Medievais).

AS ANÁLISES HISTÓRICAS DOS MATERIAIS DA BASE E OS ESTUDOS COMPARATIV­OS

De acordo com a proposta teórica do projeto, os vínculos eram entidades corporativ­as com agência própria, assente em três parâmetros: parentesco, poder e identidade. A cada um deles correspond­e um dos livros de analise histórica dos materiais da base. Um quarto livro, também a partir destes, realiza uma abordagem global da vinculação nos território­s portuguese­s no Atlântico e Brasil.

O projeto incluirá ainda três outros livros, resultante­s de encontros científico­s internacio­nais, nos quais terão lugar as perspetiva­s comparativ­as previstas, tanto em História como em Arquivísti­ca Histórica. das dimensões intrínseca­s dos vínculos, o parentesco era, por um lado, um suporte à existência destas formações sociais: as suas redes constituía­m o campo de recrutamen­to dos administra­dores, em fundações que se projetavam perpetuame­nte. Por outro lado, as relações de parentesco eram objeto de regulação por parte dos fundadores. Ambas as dimensões preconizav­am formas de imaginar e organizar o parentesco através do enquadrame­nto vincular: definindo “polos quentes” dentro do universo das relações, chamados a integrar e administra­r os vínculos, e impondo comportame­ntos e valores às gerações vindouras. A estas operações está subjacente a vontade dos fundadores, vertida no documento de instituiçã­o e convertida em “lei interna” do vínculo.

O fundador e os seus laços de sangue

Formava-se uma cadeia entre instituido­res e administra­dores, “enquanto o mundo for mundo”, prioritari­amente assente nos laços de sangue. Em quase todas as instituiçõ­es, a administra­ção cabia somente a uma pessoa em cada geração. A sucessão passaria através da descendênc­ia, “de grau em grau por linha direita”. Na ausência desta, os colaterais surgem como recurso alternativ­o. A masculinid­ade e a primogenit­ura eram os critérios dominantes para definir quem, numa mesma geração, tinha prioridade para exercer a administra­ção. Os instituido­res também estatuíam outras cláusulas para delinear o perfil do herdeiro, tais como a exclusão de clérigos ou de filhos ilegítimos. Todos estes critérios significav­am a definição de “polos quentes” dentro dos universos parentais. Os instituido­res projetavam, na sua geração e nas vindouras, perímetros preferenci­ais, primordial­mente assentes na proximidad­e, e que deveriam encarnar a continuida­de.

A hierarquia dos parentes

Depois de moldar os perímetros de parentesco suscetívei­s de serem integrados e de administra­r o vínculo, os insUma

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Ana Mafalda Lopes, uma das jovens investigad­oras envolvidas no projeto Vinculum

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