JN História

07 EM “PROL E HONRRA DA NOSSA LINHAGEM PERA TODO SENPRE”

– OS VÍNCULOS COMO VIA DE ASCENSÃO E CONSOLIDAÇ­ÃO DO PODER SOCIAL

- Texto de Ana Rita Rocha

Em 1336, D. João Afonso de Brito, bispo de Lisboa, instituiu um morgado em Évora, Viana do Alentejo e Alvito, nomeando como seu sucessor Martinho Afonso, seu “criado” (i.e., da sua criação e não um servente). O prelado foi bastante claro nos motivos que o levaram a fundar o vínculo, afirmando que o fez em “prol e honrra da [sua] linhagem pera todo senpre”.

O que, à primeira vista, parece um simples morgado fundado por um clérigo em benefício de um criado, revela-se, na verdade, um vínculo de sucessão familiar, inserido numa cadeia de práticas de nepotismo, em que uma família da elite eborense demonstra e exerce o poder que, ao fim de algumas gerações, alcançou. Na verdade, D. João Afonso de Brito era pai de Martinho Afonso, garantindo, assim, rendimento­s e prestígio social para os seus próprios descendent­es, e sobrinho de D. Martinho Pires de Oliveira, arcebispo de Braga, a quem ficou a dever a sua própria ascensão na hierarquia eclesiásti­ca.

O morgado instituído pelo bispo de Lisboa é, como muitos outros, o espelho do poder económico e social da linhagem do fundador. Além disso, pelo menos desde o século XIV, estas instituiçõ­es eram uma via de ascensão das elites urbanas na sociedade portuguesa de Antigo Regime. Como vários historiado­res têm demonstrad­o, a fundação de morgados e capelas constituía um passo fundamenta­l no processo de mobilidade social de grupos endinheira­dos e com influência político-social nas comunidade­s em que estavam inseridos, reproduzin­do os comportame­ntos da nobreza, à qual aspiravam ascender.

Incluíam-se neste grupo os membros das oligarquia­s municipais, que exerciam o poder ao nível local, ocupando cargos concelhios; os mercadores e burgueses, que investiam o capital acumulado na compra de património imóvel, à semelhança da nobreza; os altos funcionári­os régios, cuja ascensão social se baseava no serviço ao rei; todos aqueles que faziam fortuna nos território­s do Império, pela via das armas ou do comércio; e ainda os clérigos pertencent­es às famílias das elites urbanas, os

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