09 OS VÍNCULOS NO ATLÂNTICO PORTUGUÊS (SÉCULOS XV A XVII)
No século XV, os morgadios e a as capelas já estavam bem consolidados e difundidos como instituições jurídicas na Península Ibérica. Faziam parte de um repertório de referenciais de organização patrimonial, familiar e linhagística que foi replicado na conquista e na colonização do mundo atlântico, entre os séculos XV e XVII. De que formas se adaptaram às novas configurações territoriais? Que impacto tiveram na expansão atlântica? As respostas a esses questionamentos não são simples e, para alcançá-las, o projeto VINCULUM vem reunindo uma das mais sólidas amostras documentais já reunidas sobre a vinculação na Madeira, nos Açores, em Cabo Verde, em São Tomé e no Brasil. Exploramos um pouco dessa amostra neste texto e ressaltamos algumas especificidades da vinculação atlântica.
Continuidades medievais
No mundo atlântico, os portugueses procuraram adotar e replicar modelos de comportamento social e familiar da nobreza e elites do Reino, e a fundação de vínculos possibilitou a estes homens consolidarem não só as suas riquezas, adquiridas nas novas terras, mas igualmente para produzir e exteriorizar identidades familiares, valorizando a memória de um instituidor e de seus feitos. É o que vemos, por exemplo, com Pero Eanes do Canto, que, ao instituir um morgadio na Ilha Terceira, em 1543, declara fazê-lo “por favor de minha memória e linhagem”, mandando construir um “monumento”, na sua capela de Nossa Senhora de Nazaré, que listasse todas as grandes batalhas em que participou na expansão portuguesa no Norte de África, na Pérsia e na Índia. Na Madeira, os instituidores vinculares mais abonados distinguiram-se pela edificação de capelas tais como a dos Reis Magos, no Estreito da Calheta (1529), a do Santo Espírito, na Ponta do Sol (1536) ou a de