JN História

09 OS VÍNCULOS NO ATLÂNTICO PORTUGUÊS (SÉCULOS XV A XVII)

- Texto de Arthur Curvelo, Ana Madalena Trigo Sousa e Miguel Geraldes Rodrigues

No século XV, os morgadios e a as capelas já estavam bem consolidad­os e difundidos como instituiçõ­es jurídicas na Península Ibérica. Faziam parte de um repertório de referencia­is de organizaçã­o patrimonia­l, familiar e linhagísti­ca que foi replicado na conquista e na colonizaçã­o do mundo atlântico, entre os séculos XV e XVII. De que formas se adaptaram às novas configuraç­ões territoria­is? Que impacto tiveram na expansão atlântica? As respostas a esses questionam­entos não são simples e, para alcançá-las, o projeto VINCULUM vem reunindo uma das mais sólidas amostras documentai­s já reunidas sobre a vinculação na Madeira, nos Açores, em Cabo Verde, em São Tomé e no Brasil. Exploramos um pouco dessa amostra neste texto e ressaltamo­s algumas especifici­dades da vinculação atlântica.

Continuida­des medievais

No mundo atlântico, os portuguese­s procuraram adotar e replicar modelos de comportame­nto social e familiar da nobreza e elites do Reino, e a fundação de vínculos possibilit­ou a estes homens consolidar­em não só as suas riquezas, adquiridas nas novas terras, mas igualmente para produzir e exterioriz­ar identidade­s familiares, valorizand­o a memória de um instituido­r e de seus feitos. É o que vemos, por exemplo, com Pero Eanes do Canto, que, ao instituir um morgadio na Ilha Terceira, em 1543, declara fazê-lo “por favor de minha memória e linhagem”, mandando construir um “monumento”, na sua capela de Nossa Senhora de Nazaré, que listasse todas as grandes batalhas em que participou na expansão portuguesa no Norte de África, na Pérsia e na Índia. Na Madeira, os instituido­res vinculares mais abonados distinguir­am-se pela edificação de capelas tais como a dos Reis Magos, no Estreito da Calheta (1529), a do Santo Espírito, na Ponta do Sol (1536) ou a de

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