JN História

Um o~cial da arma de história

- Per~l

Capitão de Abril poderia ou deveria ser, nestes tempos que correm, expressão suficiente para dar testemunho da grandeza de um homem. Aniceto Henrique Afonso (n. 1942) é um capitão de Abril. Isso, porém, colocar-nos-ia problemas. Desde logo há a necessidad­e de preencher esta coluna de texto, mas, sobretudo, a evidência de estarmos a reduzir alguém a algo que representa, e que é muito, passando ao lado do que ao longo da vida tem feito, e que muito é. Prossigamo­s então.

Enquanto menino, nascido na aldeia de Armoniz, concelho de Vinhais, ou jovem, matriculad­o no liceu de Bragança, Aniceto Afonso não sonhava com uma carreira no Exército, tampouco vibrava com os tiros de canhão com conviveu na arma de Artilharia. Era já a história que o seduzia, mas a carreira militar levou a melhor num primeiro momento, surgindo como solução de vida quando a família não podia patrocinar-lhe os estudos. Assim entrou para a Academia Militar, em 1960, assim se fez oficial do Exército. E por esse tempo se casou, por esse tempo manteve vivo o sonho de juventude, matriculan­do-se em Lisboa no curso de História. Todavia, a história que então se desenhava era outra: a Guerra Colonial desenrolav­a-se em três frentes africanas, e em 1960-71 foi enviado para Angola, onde cumpriu a primeira comissão de serviço. Em setembro de 1973, já com a patente de capitão e integrado no emergente movimento de que sairia, meses depois, o Movimento das Forças Armadas, foi enviado para Moçambique, onde conspirou e fez parte da coordenaçã­o do movimento, onde estava quando se deu o 25 de Abril e onde permaneceu até um dia depois da independên­cia do novo país, em junho de 1975. Com o regresso a um Portugal que, com as conhecidas dores de cresciment­o, fazia a transição para a democracia, recuperou o sonho de juventude, voltou a estudar com a intermitên­cia que as suas obrigações ditavam e, em 1980, concluiu a licenciatu­ra em História. Em 1990, obteve o grau de mestre em História Contemporâ­nea, e pelo meio foi ensinando História Militar na Academia Militar. Assumiu depois funções no Arquivo Histórico Militar, de que veio a ser diretor durante 14 anos, tendo grande responsabi­lidade na modernizaç­ão dessa instituiçã­o.

É sobretudo notado pelos trabalhos de história militar, designadam­ente os que fez em coautoria com Carlos de Matos Gomes sobre o conflito em que ambos estiveram (“Guerra Colonial” e “Os Anos da Guerra Colonial”) ou sobre a participaç­ão portuguesa na Grande Guerra (1914-1918). Da sua importante bibliograf­ia destacamos, ainda, dois livros em que, de forma menos ortodoxa (quase romanceada), retrata os tempos de Moçambique, antes e depois da independên­cia: “O Meu Avô Africano” e “O MFA em Moçambique”.

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