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E o sprint continua

Após um percurso feito de rampas promissora­s e declives acentuados, a bicicleta está de pedra e cal. Tudo começou no século XVIII, sem guiador nem pedais.

- POR Ana Tulha

Contar a história dos primórdios da bicicleta pode ser um exercício quase tão arriscado como conduzir um velocípede sem rodas de apoio pela primeira vez. Ainda assim, e apesar da diversidad­e de teorias existentes, as versões mais comuns apontam para que tenha sido o francês Conde de Sivrac a engendrar o primeiro esboço de bicicleta, em 1780. Esboço, leia-se. É que, no fundo, era apenas uma estrutura em madeira, com duas rodas interligad­as por uma viga e uma barra fixa que, não servindo para conduzir coisa nenhuma (que fartote de tombos...), sempre permitia apoiar as mãos.

Já o título de inventor da bicicleta é com frequência atribuído ao alemão Karl von Drais, que, em 1817, acrescento­u ao celerífero um sistema de direção que permitia fazer curvas. Nascia então a “draisiana”, já capaz de garantir o equilíbrio em movimento. Outras novidades foram surgindo. Primeiro, o ferro; depois, os sistemas de suspensão; mais tarde, os pedais (1839), entre outros melhoramen­tos. Por essa altura, surgiam também as competiçõe­s de ciclismo. Garante a página brasileira “Escola de Bicicleta” que a primeira aconteceu em 1829, envolvendo 26 draisianas e uma distância de 4,5 quilómetro­s.

Entretanto, chegava a Revolução Industrial, com os veículos movidos a propulsão humana a ganharem espaço entre um “boom” de transporte­s para todos os gostos. Fechada a fórmula “standard” da bicicleta, foram aparecendo, ao longo do tempo, umas quantas variações. Em 1868, por exemplo, surgiu a “bone shakers”, uma bicicleta com uma enorme roda dianteira (onde estavam os pedais

e o selim) e apenas uma pequena roda traseira. Mais tarde, aparecem os “sociáveis”, veículos mais direcionad­os para a família, que podiam ter de uma a quatro rodas e que eram movidos pela força de pernas ou braços. Só que a massificaç­ão e a multiplica­ção dos vários tipos de bicicleta trouxeram também o aumento do número de quedas e acidentes.

Daí que tenha surgido a necessidad­e de regressar à fórmula original e de lançar a “bicicleta de segurança”, que, no fundo, nada mais é do que a bicicleta que hoje temos: as rodas voltam a possuir o mesmo tamanho e os pneus passam a ter câmara de ar, o que permitiu reforçar não só a segurança como o conforto.

O resto tem sido uma sucessão de altos e baixos. Se com a redução de custos e a pobreza que a Europa viveu durante as duas grandes guerras, a bicicleta ganhou espaço ao automóvel, a tendência inverteu-se quando os Estados Unidos patrocinar­am a recuperaçã­o do Velho Continente, com os carros e os veículos motorizado­s a imporem-se em força. Enquanto isso, países como a China e o Japão iam-se assumindo como grandes produtores de bicicletas.

O novo crescendo de velocípede­s na Europa surgiria já nas décadas mais recentes, à boleia das preocupaçõ­es ambientais e da primazia de um modo de vida mais saudável. Se em 1976 se venderam na Europa 2,3 milhões de bicicletas, em 1990 foram já 4,5 milhões. Em 2016, o número superou os 19 milhões. E a moda segue.

Ao sprint.

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O título de inventor da bicicleta é atribuído ao alemão Karl von Drais, que, em 1817, acrescento­u ao celerífero um sistema de direção que permitia fazer curvas

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