A Revolução nos palcos de Abril
Abril no Nosso Caminho é o espetáculo criado pelo encenador João Lourenço, a dramaturgista Vera San Payo de Lemos e o maestro João Paulo Santos para celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos, que se apresenta no próprio dia 25 de abril, às 19h, no Teatro Aberto, em Lisboa. O antigo Teatro Aberto foi, de resto, o primeiro teatro a ser inaugurado a seguir ao 25 de Abril, exatamente a 25 de maio de 1976, com a estreia de O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht, dramaturgo proibido em Portugal durante o Estado Novo. Cenas, imagens, músicas e momentos desse espetáculo, assim como de A Ópera de Três Vinténs, também de Brecht, ambos encenados por João Lourenço, e de outros que passaram pelos palcos da sala da Praça de Espanha vão ser evocados em Abril no Nosso Caminho, com os cantores Leila Moreso e Mário Redondo e uma orquestra de 14 músicos, dirigida por João Paulo Santos, a interpretar Paul Dessau, Kurt Weill e Hanns Eisler. E ainda a suite “Da Loucura, do Grotesco e da Morte em Peer Gynt”, de Eurico Carrapatoso, composta para Peer Gynt, de Henrik Ibsen, espetáculo inaugural do novo Teatro Aberto em fevereiro de 2002, de igual modo com a assinatura de João Lourenço. No final, haverá cravos e um brinde.
Também de muita música se faz Quis Saber Quem Sou, o concerto teatral criado por Pedro Penim, que assina o texto e a encenação, a partir de temas que fizeram a banda sonora da revolução, revisitando canções, palavras de ordem e histórias pessoais – espetáculo com que o Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII) comemora os 50 anos de Abril, com estreia já a 20, no Teatro Municipal São Luiz. A direção musical é de Filipe Sambado, a vocal de João Neves e a interpretação de Ana Pereira, Bárbara Branco, Manuel Coelho, Joana Bernardo,, entre outros jovens atores/cantores, treze, que compõem o elenco. Fica em cena no São Luiz até 28, fazendo depois uma digressão pelo país
O ciclo “Abril Abriu” propõe, entretanto, em vários espaços de Lisboa, uma série de espetáculos. É o caso de 25 de Abril de 1974, pela companhia Mala Voadora, que vai estar em cena a 26 e 27, no MAAT Central. Construído a partir de imagens do 25 de Abril, como se a revolução fosse uma “encenação de um artista”, explora os mecanismos ficcionais e de manipulação da realidade. Com o ator José Neves na narração, tem conceção, direção e texto de Jorge Andrade, cenários e figurinos de José Capela.
Para a celebração da revolução, A Barraca convoca a escrita de Natália Correia, autora que teve muitos dos seus textos censurados no Estado Novo. Maria do Céu Guerra e outros atores da companhia vão dar a ouvir Auto da Feiticeira Cotovia, uma metáfora do salazarismo escrita em 1959, a primeira obra da escritora proibida pela PIDE, em “Conversas de Abril”, a 24, às 21h, no Cinearte.
Ainda em Lisboa, no espaço da Boutique da Cultura, da rede municipal Um Teatro em Cada Bairro, apresenta-se Aurora, um espetáculo baseado na história de Aurora Rodrigues, uma resistente antifascista presa aos 21 anos e torturada pela PIDE durante três meses, na prisão de Caxias, em pleno marcelismo, uma mulher que lutou pelos seus direitos e pela liberdade. É uma criação de Juana Pereira da Silva, que interpreta com Rosa Leão. Até 27.
Revolution (título provisório), um espetáculo criado por quatro companhias – Teatrão, de Coimbra, Baal17, de Serpa, d’Orfeu AC, de Águeda, e ASTA - Teatro e Outras Artes, da Covilhã –, uma reflexão sobre o significado da revolução, os caminhos trilhados e por trilhar na história recente do país, terá apresentações a 21, na Casa da Criatividade, de São João da Madeira, e a 27, no Centro de Arte de Ovar, prosseguindo a sua digressão. Tiago Alves Costa é o autor dos textos, Gonçalo Guerreiro da dramaturgia e encenação, Artur Fernandes da composição musical. Em palco, 15 intérpretes das quatro estruturas.
A Peripécia Teatro faz a festa de Abril trazendo de novo à cena A Peça (Em 4 Turnos), de 2022, uma homenagem à liberdade e à criação, aos operários e artistas amadores, reposta a 24, no Centro Cultural e Recreativo de Benagouro, aldeia onde a companhia se fixou, em Vila Real, Trás-os-Montes. Encenação de Sérgio Agostinho, diretor artístico da companhia, e Noelia Domínguez.
Também numa homenagem a Abril, estreia a encenação de Ana Nave de A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca, a 24, no Salão das Carochas, em Almada, com Afonso Guerreiro, António Olaio, Elsa Viegas, Cecília Laranjeiro, Carlos Dias Antunes, Ana Saltão, entre outros.
Em estreia ainda A Revolução Que Me Ensinaram, de Joana Cotrim, a 28 e 29, no Auditório Municipal António Silva (AMAS), no Cacém. Partilhando o palco com Rita Morais, a atriz e encenadora retoma vivências e memórias, numa investigação e reflexão sobre o processo revolucionário a seguir a abril de 1974. E o Museu da Marioneta, em Lisboa, irá acolher, de 25 a 27, o teatro de marionetas de luva Maria Liberdade, com o marionetista Manuel Costa Dias e música original tocada ao vivo de Nuno do Ó, uma criação no âmbito do projeto Trulé.