A morte de um intelectual multifacetado
Ensaísta, memorialista, cronista, crítico, professor, poeta, engenheiro especialista em petróleos, intelectual que desempenhou vários cargos, Eugénio Lisboa faleceu no passado dia 9, em Lisboa, com 93 anos. Nascido em Moçambique, Lourenço Marques, em 1930, em 47 veio para a metrópole estudar, licenciando-se em engenharia eletrotécnica no IST (Instituto Superior Técnico), e cumprindo depois o serviço militar em Portalegre. Aí conheceu José Régio, de cuja obra se tornaria principal especialista, estudioso e promotor ou divulgador.
Regressado a Moçambique, de par com a atividade profissional como gestor de uma petrolífera, esteve ligado a múltiplas iniciativas e a vários organismos culturais, colaborou na rádio e, com Rui Knopfli, codirigiu os suplementos literários de jornais como A Tribuna e A Voz de Moçambique – e uma coleção de Poetas de Moçambique.
Após a independência daquela ex-colónia viu-se forçado a deixá-la, em 1976, e foi, em França, diretor-geral da Compagnie Française des Pétroles. Mas também deu aulas de Literatura Portuguesa em várias universidades, designadamente em Estocolmo. Depois, entre 1978 e 1995, foi conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Londres, onde desenvolveu assinalável atividade, promoveu e organizou três antologias de literatura portuguesa. De regresso a Portugal presidiu à Comissão Nacional da UNESCO, até 1998, e foi prof. convidado da Un. de Aveiro, até 2000.
A sua bibliografia é muito vasta, sobretudo no domínio do ensaio. E também do memorialismo: seis volumes publicados entre 2012 e 2017, com o título Acta Est Fabula, e ainda, em 2017, um Diário de Viagens Fora da Minha Terra.
Os seus três últimos livros editados (pela Guerra & Paz), foram de poesia, o último deles, acabado de sair, Soneto – Modo de Usar. Distinguido com vários prémios literários, membro da Academia das Ciências de Lisboa, doutor honoris causa pelas Universidades de Nottingham e de Aveiro, Eugénio Lisboa tem também vasta colaboração na imprensa, em particular aqui no JL – em que designadamente foi autor, durante muitos anos, da crónica “Promemoria”.