Invenção artística e cultural
A Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de abril dirigiu um convite às companhias de teatro “com atividade no período da Revolução, e que nasceram ou se consolidaram nesse período: Companhia de Teatro de Almada, A Barraca, O Bando, Centro Dramático de Évora, Comuna -Teatro de Pesquisa, Novo Grupo de Teatro - Teatro Aberto, Seiva Trupe - Teatro Vivo, Teatro de Animação de Setúbal, Teatro Experimental de Cascais e Teatro Experimental do Porto”, para apresentarem propostas abordando os temas da liberdade, da censura e da história da democracia portuguesa. Cada espetáculo deverá ser apresentado em, pelo menos, três equipamentos afetos à Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses.
O protocolo que formaliza o convite às dez “companhias de teatro históricas” foi assinado no passado 27 de março, Dia Mundial do Teatro, no Museu Nacional do Teatro e da Dança, numa cerimónia presidida pelo ainda ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. Foi, de facto, com essas companhias, de grande longevidade artística, a que se adicionaria a Casa da Comédia, a Cornucópia e o Teatro Estúdio de Lisboa, se ainda estivessem ativas, que o teatro português se forjou, no dealbar da revolução de abril de 1974.
De facto, como se sabe, durante o período do Estado Novo, todos os projetos teatrais estavam sujeitos à censura ideológica, com repercussão imediata na escolha de repertório, uma vez que o texto era central na construção do espetáculo, e consequente subjugação às práticas censórias das comissões presentes nos ensaios-gerais, para avaliação do seu nível de transgressão e à fiscalização dos espetáculos durante a sua carreira, que incluía o controlo sobre a encenação e a direção dos atores.
Porém, algumas companhias de teatro que se formaram no Estado Novo, com pequenos subsídios do Fundo de Teatro e da Fundação Gulbenkian, procuraram uma nova via, que não a estatal ou comercial, baseada na ideia de modernidade teatral, prevalecentes na Europa desde as primeiras décadas do século XX, relacionadas com a experimentação teatral e as revoluções estéticas ocorridas. Não obstante os constrangimentos políticos e financeiros, essas companhias iniciaram um trabalho de pesquisa estética, que incidia tanto na seleção crítica de outro repertório, como na constituição de novas práticas cénicas experimentais, independentes da via estatal e da do teatro ligeiro e comercial.
Com a revolução do 25 de abril de 1974, no contexto político e social democrático e de liberdade de expressão, a par da criação de subsídios estatais, estabelecia-se uma nova conjuntura que possibilitava o nascimento do teatro independente, com a consolidação das companhias existentes, o surgimento de grande número de novas companhias teatrais e o consequente aumento de produção de espetáculos. Com a liberdade artística adquirida, as