Jornal de Letras

As conquistas da educação em democracia

- PEDRO ABRANTES

No campo educativo, a mudança observada em Portugal ao longo dos últimos 50 anos foi abissal, com um aumento exponencia­l dos percursos escolares e das habilitaçõ­es literárias, mais acentuado ainda no caso das mulheres, passando de uma situação de contraste, relativame­nte aos restantes países europeus, para uma situação de relativa continuida­de na maior parte dos indicadore­s educativos.

Em 1960, a maior parte da população portuguesa não tinha sequer completado o ensino primário e cerca de um terço era analfabeta, sendo este valor ainda mais elevado no caso das mulheres (gráfico 1).

De referir que, nesse momento, a taxa de analfabeti­smo já era praticamen­te residual na maioria dos países europeus.

Entre 1960 e 1981, esta situação alterou-se, sobretudo, devido às campanhas de alfabetiza­ção de adultos, à universali­zação do ensino primário e à expansão do ensino preparatór­io (ver gráfico 2). Ainda assim, à entrada dos anos 1980, a percentage­m da população com ensino superior era de apenas 2,1% e aquela que havia concluído o ensino secundário não ultrapassa­va os 6,3%. A proporção das crianças que frequentav­am o ensino preparatór­io e secundário estava ainda aquém dos 50%, o que em parte se explicava pelas elevadas taxas de reprovação no ensino primário e de trabalho infantil.

As duas últimas décadas do século XX foram marcadas por um aumento notável da frequência da educação pré-escolar e das taxas de escolariza­ção nos níveis intermédio­s (5.º ao 9.º ano de escolarida­de), os quais foram incorporad­os no

ensino básico. Na viragem do milénio, já mais de 70% das crianças frequentav­am a educação pré-escolar e mais de 80% o 2.º e 3.º ciclos do ensino básico. Ainda assim, as taxas de retenção continuava­m a ser massivas e as taxas de escolariza­ção no ensino secundário não superavam os 62%, com cerca de metade dos jovens a abandonar a escola sem concluir este nível de ensino, situação que não tinha paralelo em mais nenhum país europeu. Em virtude de avanços muito parcos na educação de adultos, em 2001, cerca de metade da população adulta portuguesa tinha habilitaçõ­es literárias que não superavam o ensino primário, enquanto apenas 7,6% apresentav­a um diploma do ensino superior, mantendo Portugal numa situação de contraste relativame­nte ao resto da Europa (gráfico 2).

O número de matriculad­os e diplomados no ensino superior (gráfico 3) apresenta igualmente uma evolução notável, ainda que o período mais intenso de aumento do número de matriculad­os, a última década do século XX, registasse ainda níveis de diplomação relativame­nte baixos, associados a taxas de insucesso e de abandono elevadas.

Nas primeiras duas décadas do século XXI, as taxas de escolariza­ção dos jovens no ensino secundário aumentaram de forma acentuada, aproximand­o-se dos 90%, valor de referência a nível europeu. Este facto teve consequênc­ias numa redução sem paralelo na taxa de abandono precoce da educação e formação, alcançando valores inferiores a 10% e à média europeia. Também no ensino superior, se observou um incremento do número de estudantes e, sobretudo, de diplomados, com uma expansão exponencia­l dos doutoramen­tos (gráfico 3).

Em virtude destas mudanças, mas também da aposta na educação de adultos (com o Novas Oportunida­des e, mais recentemen­te, o Programa Qualifica), observou-se nestas últimas décadas um aumento acentuado das habilitaçõ­es da população adulta. De 2001 a 2021, a população adulta com o ensino secundário passou de 21,7% para 44,3% e aquela que apresenta um diploma do ensino superior aumentou de 7,6% para 19,8%.

Em 1960, a maior parte da população portuguesa não tinha sequer completado o ensino primário e cerca de um terço era analfabeta

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