O que se sonhou e o que se conseguiu
Com estas páginas no JL comemoramos o 25 de Abril e a importante evolução da educação nos últimos 50 anos. Os artigos que se seguem retratam, embora de modo resumido, a situação em 1974 e a evolução posterior em matéria de educação pré-escolar, dos ensinos básico, secundário, superior, da educação de adultos e de educação para a cidadania. São abordadas igualmente áreas decisivas para o desenvolvimento educativo, como os edifícios escolares e a formação de professores.
A liberdade, tão festejada pela revolução, foi associada desde logo ao direito à educação, de que tantas e tantos portugueses haviam sido privados. Era urgente saldar a dívida da democracia para com as pessoas privadas de educação, sendo as mulheres as que mais sofreram. Trabalhou-se para que todas e todos pudessem frequentar a escola, independentemente da sua origem familiar e se pusesse termo à chaga que era o trabalho infantil.
Com estes txtos sobre a situação educativa em 1974 e a extraordinária evolução nestes 50 anos queremos prestar homenagem a Rui Grácio, Secretário de Estado da Orientação
Educativa dos II, III e IV governos provisórios, ilustre pedagogo a quem ficámos a dever políticas coerentes com o que de mais moderno se praticava no mundo. As reformas de 1974 e 1975 eram alicerçadas no conhecimento em matéria de psicologia e pedagogia, adotavam inovadoras propostas interdisciplinares, visavam a democratização da educação e o combate às desigualdades, preconizavam uma aprendizagem ativa, processos participados, bem como a intervenção na sociedade. É de destacar, designadamente:
- A organização do ensino primário em duas fases com a redução da retenção (problemática então tabu) e com um ritmo adequado a cada criança.
- O ensino secundário unificado visando designadamente permitir a construção de uma identidade vocacional através de formação técnica para todos e do contacto com o mundo do trabalho. Evitar-se-ia assim uma seleção condicionada pelo estatuto socioeconómico e cultural da família.
- aposta na dignificação dos professores e na sua formação. Rui Grácio soube estar atento às dinâmicas das escolas e da sociedade, à “libertação da palavra”, às ações populares e soube integrar nas reformas propostas emanadas desses movimentos.
Apesar de muitas das inovações de então terem sido suspensas, deixaram raízes e marcaram o futuro. Dez anos depois de Abril, Grácio alertava para a necessidade de “dar tempo ao tempo, e apoiar convenientemente as transformações e inovações operadas ou programadas”.
Neste tempo de festejar grandes conquistas, lembramos importantes projetos que seria importante cumprir. Destaque, designadamente, para o do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, para a educação dos 0 aos 3 anos, para as medidas visando a inclusão, a autonomia e a estabilidade dos professores e das escolas, o combate às desigualdades, a preparação para o futuro e para a defesa do planeta.
Dar tempo ao tempo das reformas, avaliá-las, apoiá-las e valorizar o esforço nelas investido, é porventura o maior desafio que temos para o nosso futuro. Inquietações Pedagógicas