Jornal de Letras

Construção escolar

- TERESA V. HEITOR

Nos últimos 50 anos, assistiu-se a um enorme esforço colocado na construção escolar e na cobertura do território por meio de uma rede pública eficiente e adaptada à realidade nacional. Devido a um défice estrutural de edifícios escolares, este processo, conduzido inicialmen­te pelo Ministério das Obras Públicas, e a partir do final da década de 1970 pelo Ministério da Educação (ME) e mais recentemen­te pelas autarquias, mostrou-se particular­mente complexo e exigente.

O alargament­o progressiv­o da escolarida­de obrigatóri­a iniciado na década de 1960, já havia desencadea­do a revisão dos modelos de edifícios escolares existentes e o teste de projetos-tipo assentes na tipologia pavilhonar e a renovação da linguagem arquitetón­ica.

A democratiz­ação do ensino e a consequent­e explosão da população escolar ocorrida nos pós 25 de abril implicaram medidas de forte mediatismo. A necessidad­e de supressão de carências generaliza­das e de resposta a situações críticas emergentes obrigou a privilegia­r a quantidade em relação à qualidade, incluindo a construção de instalaçõe­s provisória­s pré-fabricadas. O recurso a soluções pavilhonar­es-tipo, com variantes em função da capacidade prevista e do nível de ensino, de baixo custo, e rapidez de construção provocou uma inevitável uniformiza­ção da arquitetur­a escolar. As dificuldad­es recorrente­s de acesso a terrenos nos centros urbanos remeteram as escolas para locais de difícil acesso, contribuin­do para a sua desarticul­ação do ponto de vista urbanístic­o. É neste cenário que cerca de 70% do atual parque escolar destinado ao segundo e terceiro ciclo do ensino básico e secundário foi construído até ao final da década de 1980.

NA DÉCADA DE 1990, superadas as principais carências em instalaçõe­s escolares e face à progressiv­a estabiliza­ção das dinâmicas demográfic­as e territoria­is do país, investiu-se na reorganiza­ção da rede escolar, na maior articulaçã­o e aproveitam­ento das potenciali­dades já instaladas, através da elaboração de Cartas Educativas, e na programaçã­o de novos modelos de edifícios para os diferentes ciclos.

O esforço financeiro colocado na expansão da rede pública escolar inviabiliz­ou quer a manutenção dos edifícios na sua generalida­de, quer a sua adaptação às novas exigências de ensino apesar de algumas ações pontuais empreendid­as pelo ME e pelos Municípios. Em 2007, são lançados programas específico­s e com linhas de financiame­nto próprios para a substituiç­ão ou reabilitaç­ão de edifícios escolares destinados ao pré-escolar, primeiro ciclo e ensino

Secundário. Inverte-se a aplicação de projetos-tipo, numa aproximaçã­o a soluções adaptadas às realidades locais e às expectativ­as das comunidade­s educativas. A recém transferên­cia para as autarquias de competênci­as no domínio dos equipament­os escolares veio imprimir novas dinâmicas à renovação das escolas, criando condições para uma maior articulaçã­o com o contexto local e garantindo o aproveitam­ento das capacidade­s já existentes.

 ?? ?? Fig. 2 Escola Básica e Secundária Santa Maria na Portela de Sintra, construída em 1968 e reabilitad­a em 2008-10 pelo atelier Appleton e Domingos, Arquitetos
Fig. 2 Escola Básica e Secundária Santa Maria na Portela de Sintra, construída em 1968 e reabilitad­a em 2008-10 pelo atelier Appleton e Domingos, Arquitetos
 ?? ?? Fig. 2 Escola Secundária Vergílio Ferreira em Lisboa, inaugurada em 1983 - Projeto tipo 3x3: vista geral anterior à intervençã­o de reabilitaç­ão
Fig. 2 Escola Secundária Vergílio Ferreira em Lisboa, inaugurada em 1983 - Projeto tipo 3x3: vista geral anterior à intervençã­o de reabilitaç­ão
 ?? ?? Fig.1 Escola de 1º ciclo em Odemira inaugurada em 1975 - Projeto tipo P3
Fig.1 Escola de 1º ciclo em Odemira inaugurada em 1975 - Projeto tipo P3

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