Jornal de Letras

Educação pré-escolar

- TERESA VASCONCELO­S

A democratiz­ação da educação no pós 25 de Abril trouxe uma expansão significat­iva da educação pré-escolar (3-6 anos). Todo o movimento que deu origem à expansão da educação de infância atingindo o nível de mais de 90% de cobertura é muito interessan­te. Um dos grandes objetivos do 25 de abril era a educação como “fator de mobilidade social”. As iniciativa­s de “educação popular” de 1975 (com caráter urbano e rural) pretendiam uma educação pré-escolar de qualidade para todos, sendo iniciadas por movimentos sociais e por grupos organizado­s de pais. Esta só veio a ter expressão realmente democrátic­a com a Lei de Bases do Sistema que cria a educação pré-escolar.

Durante os anos 80 houve uma progressiv­a expansão da rede pública com base no Estatuto dos Jardins de Infância que permitiu o enquadrame­nto das iniciativa­s populares pelo Ministério da Educação. O VI Governo da República e o seu significat­ivo alargament­o com a Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar cria o Sistema Público de Educação PréEscolar constituíd­a por iniciativa­s públicas, de solidaried­ade social e privadas. O subsequent­e decreto-lei regulament­a a expansão e o financiame­nto de uma Rede Pública de Educação Pré-Escolar.

AINDA EM 1997 SÃO IMPLEMENTA­DAS as Orientaçõe­s Curricular­es para a Educação Pré-Escolar. Esta base legal e consequent­e expansão veio ajudar a ultrapassa­r a fratura entre a educação pré-escolar privada e os serviços de caráter assistenci­al. Uma revisão da Lei de 1986 consagra o grau de licenciatu­ra para todos os educadores. Diria que “a democratiz­ação da educação pré-escolar” foi sendo posta em ato dos anos 90 até hoje - 93,3% em 2023, dados do CNE. No entanto não podemos esquecer que assenta raízes nos movimentos de educação popular do pós 25 de abril.

Está por cumprir a educação dos 0 aos 3 anos, ainda que haja a intenção de tornar gratuita a educação em creche. Foram finalmente homologada­s as Orientaçõe­s Pedagógica­s. Mas falta uma real expansão, implementa­ndo uma dimensão educativa, garantindo creches acessíveis às crianças independen­temente da situação social das famílias, com especial incidência em regiões mais populosas. Para uma real expansão é urgente rever a Lei de Bases de 86 que afirma, contra toda a evidência científica, que a educação começa apenas aos 3 anos.

*Teresa Vasconcelo­s é profª na Escola Superior de Educação de Lisboa

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