Jornal de Letras

Ensino Superior

- PEDRO LOURTIE

A evolução do ensino superior desde o 25 de abril de 1974 é geralmente apontada como uma história de sucesso. Há aspetos a melhorar, mas podemos orgulhar-nos do percurso feito.

Em abril de 1974 funcionava­m em Portugal quatro universida­des, em Coimbra, Lisboa (duas) e Porto, existiam universida­des nas colónias de Angola e Moçambique e tinha sido aprovada, há menos de um ano, uma reforma do ensino superior, tendo sido nomeadas comissões instalador­as de novas universida­des. A reforma acompanhav­a os desenvolvi­mentos iniciados em países europeus na década de 1960, em particular no Reino Unido, prevendo instituiçõ­es universitá­rias e politécnic­as.

O NÚMERO DE ALUNOS CRESCEU de forma rápida após o 25 de abril. Entre 1973 e 2003 aumentou mais de 7 vezes, mais do dobro do cresciment­o mundial. Nos 20 anos seguintes, o número manteve-se estável, embora tenha crescido um pouco nos últimos 5 anos, enquanto o grupo etário dos 20 aos 24 anos diminuía cerca de 25%. Se em 1973 apenas 7% deste grupo etário chegava ao ensino superior, atualmente frequentam-no mais de 50% e os diplomados entre os 30 a 34 anos ultrapassa­ram os 40%, semelhante à média da União Europeia. Se o alargament­o do acesso contribuiu para a democratiz­ação do ensino superior, as oportunida­des não são iguais para todos, dado que a composição social do corpo estudantil ainda não correspond­e à da sociedade em geral.

A explosão da procura do ensino superior, gerada pelo 25 de abril, levou à introdução de numeri clausi em 1977. A procura não satisfeita criou uma fortíssima pressão social sobre o poder político e as instituiçõ­es de ensino superior, e levou à criação de mais instituiçõ­es púbicas, reformulan­do a rede entre 1976 e 1980, e ao incentivo, na década de 1980, à criação de instituiçõ­es privadas.

O CRESCIMENT­O DO SISTEMA tornou necessária a existência de mecanismos de regulação, como os estatutos de carreira docente, as leis de autonomia ou o estatuto das instituiçõ­es privadas. Mas também, em resposta a preocupaçõ­es sobre a qualidade da oferta, durante os anos de 1990 foi criado um sistema de garantia da qualidade, alterado em 2007.

No século XXI, a aposta na investigaç­ão e desenvolvi­mento, já iniciada anteriorme­nte, conduziu a um aumento muito significat­ivo da capacidade de produção de conhecimen­to, da formação de doutores e da qualificaç­ão do corpo docente do ensino superior. Os politécnic­os, criados a partir de 1980, reforçaram as suas condi

ções de funcioname­nto e, através de alterações à Lei de Bases, foram tendo acesso à outorga de graus de licenciado e de mestre e, já em 2023, de doutor.

Com o Processo de Bolonha, iniciado em 1999, o sistema de graus português foi alterado a partir de 2006 e tem sido fomentada a adoção, lenta, mas progressiv­a, de abordagens para a redução do abandono escolar e a promoção da formação centrada em competênci­as.

Apesar das restrições financeira­s vividas pelas instituiçõ­es, mais nuns períodos do que noutros, o ensino superior português ombreia hoje com os melhores da Europa.

* Pedro Lourtie é prof. aposentado do ISTécnico Lisboa, presidente do Conselho Geral do Politécnic­o de Leiria, e foi secretário de Estado do Ensino Superior

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