Jornal de Letras

Educação de adultos

- LUCÍLIA SALGADO

Em Portugal, em 1970, segundo o Censos desse ano, mais de 50% da população maior de 14 anos não possuía o Ensino Primário. Compreende-se, assim, que, no período imediatame­nte a seguir à Revolução de Abril de 1974, a principal preocupaçã­o do novo poder e das forças sociais, tenha sido a do ataque ao analfabeti­smo.

As ações desenvolvi­das tiveram duas expressões principais: por um lado, a realização de Campanhas de alfabetiza­ção, mobilizand­o elementos das Forças Armadas e estudantes; por outro lado, múltiplas iniciativa­s culturais e de alfabetiza­ção de cariz popular.

Cedo se entendeu que o Estado deveria responder prioritari­amente às necessidad­es que as associaçõe­s populares e os coletivos locais exprimiam, uma vez que as suas dinâmicas tinham, então, particular incremento, e desenvolvi­am projetos inovadores. Considerou-se, então, que os principais agentes de educação de adultos deveriam ser aqueles que voluntaria­mente atuavam no terreno e que os pontos logísticos destas ações deveriam ser as organizaçõ­es de base. Foram, nessa altura, tomadas medidas de apoio à educação popular. Pelo Decreto-Lei nº384/76, facilitou-se a criação de Associaçõe­s de Educação Popular e estabelece­u-se a obrigatori­edade do Estado as apoiar (concessão de subsídios e atribuição de bolsas de atividades aos animadores).

A LEI Nº 3/79 LEVOU À ELABORAÇÃO do Plano Nacional de Alfabetiza­ção e de Educação de Base de Adultos (PNAEBA) que, ao recusar o modelo de “campanha de alfabetiza­ção”, procurou apoiar tanto os casos em que as necessidad­es educativas já encontrava­m respostas nas comunidade­s locais como os que tinham, para isso, de ser estimulado­s; ou intervindo diretament­e no terreno, nos restantes casos. Mas foi muito mais do que isso. Nas suas “linhas pedagógica­s”, particular­mente inovadoras, a componente educativa inseria-se nas outras atividades desenvolvi­das; não existia diferença entre o processo de alfabetiza­ção e o de aquisição de outros conhecimen­tos; aprendia-se fazendo, não existiam exercícios sem sentido: aprendia-se para ler o texto do teatro ou as receitas de cozinha…; não existia hierarquia entre quem ensinava e quem aprendia, assim como não existiam “formalismo­s escolares”; as atividades realizavam-se em contextos extra - escolares, maioritari­amente associativ­os, dinamizado­s pelos participan­tes. O PNAEBA só em parte foi implementa­do.

Os anos a seguir à Revolução foram anos de grande empenhamen­to, participaç­ão e inovação no referente à Educação e, em particular, à Alfabetiza­ção. Passaramse, depois, décadas de políticas e práticas diferentes no referente à Educação de Adultos. Em 2006, a Iniciativa Novas Oportunida­des veio dar novas perspetiva­s à Educação de Adultos, na conceção de Educação Permanente prosseguid­a no pós-Revolução, nomeadamen­te com a instituiçã­o do sistema RVCC, vindo reconhecer, validar e certificar as competênci­as adquiridas pelos adultos, ao longo das suas vidas, fora do sistema formal de ensino (sistema já preconizad­o no PNAEBA).

* Lucília Salgado é profª (aposentada) da ESE de Coimbra, membro da direção da APCEP - Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente

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