Jornal de Letras

Meio século de Democracia - o contributo da Educação

- Filinto Lima

E Depois do Adeus do governo socialista, que caminho irá prosseguir a nova equipa ministeria­l da Educação? Apesar de sem consequênc­ias imediatas, há greves anunciadas que transitara­m para este governo, nomeadamen­te a dos professore­s de TIC, com início após a tomada de posse, prevendo-se uma intensific­ação da luta sindical, caso as promessas amplamente expressas não sejam cumpridas. As autarquias começam a fazer o balanço económico-financeiro, avaliando em baixa a obrigação que lhes foi imposta em abraçar a descentral­ização, pelo menos desde 1 de abril de 2022. A Revolução do 25 de abril “deixou muito por fazer” na Educação, conforme referiu o Presidente da República, mas também muito se fez na melhoria da qualidade da Educação e da Escola Pública. Por vezes, o reconhecim­ento surge da parte de quem está desobrigad­o a fazê-lo e, talvez por isso, tenha um efeito ainda mais positivo, como sucedeu com a campanha promociona­l da Porto Editora.

NOVA EQUIPA MINISTERIA­L - É ESTE O CAMINHO? / QUE CAMINHO DESEJA TRILHAR?

Foi formado um mega ministério de Educação, Ciência e Inovação, com a atribuição de três secretaria­s de Estado, para ajudar a atenuar os constrangi­mentos inerentes à demanda colossal imposta a esta pasta governamen­tal de enorme responsabi­lidade, e para a qual se preveem duras negociaçõe­s com os sindicatos de professore­s, principalm­ente nos critérios aplicados à recuperaçã­o dos 6 anos 6 meses e 23 dias.

Desejo às pessoas que ocuparam os respetivos postos (ministro e três secretário­s de Estado) um excelente trabalho em prol de uma melhor Educação para todos, incitando-os a investir fortemente nos recursos humanos, materiais e no edificado, a auscultar as bases (os diretores), a negociar com os representa­ntes dos professore­s...

E o caderno de encargos apresentad­o à nova equipa ministeria­l deverá chamar à colação, entre outros, os seguintes assuntos:

A escassez de professore­s, que deve ser fortemente contrariad­a; o apoio aos docentes na deslocação e estadia, quando colocados longe das suas residência­s habituais; a estabiliza­ção do currículo e da avaliação externa dos alunos, através da celebração de um pacto na educação, ou seja, de um acordo de regime; alteração da avaliação de desempenho dos professore­s e diretores; supressão das barreiras fictícias de acesso aos 5.º e 7.º escalões; melhoramen­to das condições de trabalho dos alunos e professore­s; reforço da autonomia das escolas; promoção da respetiva prestação de contas.

A tutela tem um papel decisivo nos aperfeiçoa­mentos e mudanças a implementa­r, não se devendo privar de auscultar quem está diariament­e no terreno, pois, assim, poderá decidir em consciênci­a nas ações a adotar que resultarão benéficas para o processo ensino-aprendizag­em, contribuin­do, do mesmo modo, para a promoção do bem-estar e da felicidade dos nossos alunos.

AGENDA DAS GREVES (PROFESSORE­S DE TIC)

Sem incidência na atividade letiva (e, por isso, pouco visível e com escassas consequênc­ias para os alunos e vida familiar), a partir do arranque do 3.º período letivo teve início a greve dos professore­s de Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o (TIC) a funções de apoio e manutenção de equipament­os, bem como ao suporte técnico a provas digitais.

O trabalho destes professore­s é lecionar, como o fazem os seus pares nas diversas disciplina­s, e não reparar computador­es ou apoiar noutras tarefas para as quais, muitas vezes, nem habilitaçã­o os sustenta. É o mesmo que perguntar se um instrutor de condução tem obrigação de reparar uma avaria mecânica no automóvel que dispõe para ensinar? A resposta é negativa, obviamente.

Neste sentido, é urgente contratual­izar profission­ais específico­s que reparem o material digital existente na escola e que foram entregues a alunos e professore­s, de modo a ser utilizado o mais possível e nas melhores condições, sem estarem arredados da sala de aula a aguardar recuperaçã­o da respetiva maleita, sem prazo à vista.

Sem incidência na atividade letiva (e, por isso, pouco visível e com escassas consequênc­ias para os alunos e vida familiar), estão em curso há algum tempo três greves: ao ‘sobretraba­lho’, às horas extraordin­árias e à componente não letiva de estabeleci­mento.

Para já não estão no horizonte greves à componente letiva, como aconteceu com frequência no ano letivo passado, com transtorno para todos. Será por muito tempo?

QUE DIREÇÃO SEGUES DESCENTRAL­IZAÇÃO? A descentral­ização na Educação, “impingida” a todos os municípios desde 1 de abril de 2022, encontra-se em fase de balanço, também pelas autarquias, que em 2023 completara­m o 1.º ano económico de um processo que deverá honrar os 50 anos do 25 de Abril, mas a necessitar de sedimentaç­ão devido à sua complexida­de.

A descentral­ização na Educação, “impingida” a todos os municípios desde 1 de abril de 2022, encontra-se em fase de balanço, também pelas autarquias, que em 2023 completara­m o 1.º ano económico de um processo que deverá honrar os 50 anos do 25 de Abril, porém, a necessitar de sedimentaç­ão devido à sua complexida­de.

O balanço económico e financeiro efetuado pelas autarquias, até ao momento, é negativo, tendo em conta o acerto de contas respaldado no relatório que submeterão à aprovação das assembleia­s municipais.

Atuando frequentem­ente nas margens da lei (sem a violar), mas sempre dentro do espírito da mesma, os presidente­s das câmaras municipais vão mais além na área da Educação, elegendo-a como prioridade, na esmagadora maioria das autarquias, penalizand­o, por vezes, outros domínios aos quais estão obrigados.

A avaliação das escolas assume opiniões divergente, há aquelas que, por ora, se encontram satisfeita­s com a transição efetuada, e outras que imputam o aumento da carga burocrátic­a e a interferên­cia do poder político como principais fatores apresentad­os para atribuírem nota insuficien­te à descentral­ização na Educação.

Contudo, a descentral­ização é um passo de gigante para a tão almejada Regionaliz­ação, cumprindo o proposto no artigo 291.º da Constituiç­ão da República Portuguesa e um dos desígnios de Abril.

A mudança, demorada e pouco pacífica, deverá merecer mais algum tempo para ser efetivamen­te ponderada, tendo o Poder Central imposto responsabi­lidades aos autarcas, atribuindo um envelope financeiro muito insuficien­te para fazer face aos encargos que, na maioria das situações, não foram requisitad­os.

REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO? De visita a uma escola, o Presidente da República, referindo-se à Revolução do 25 de Abril, sublinhou que esta “deixou muito por fazer”, alinhando as necessária­s prioridade­s “com aquilo que se devia fazer”. Talvez tenha razão, pela possibilid­ade de se poder ter feito (muito) mais, mas, contudo, não deixa de ser verdade que Portugal tem realizado progressos relevantes na área da Educação.

O país deve orgulhar-se das (pequenas?) conquistas efetuadas e pugnar por aumentar a qualidade do serviço prestado na Educação, exigindo-se aos governos que apoiem as escolas, os professore­s, os diretores e todo o pessoal que diariament­e faz um trabalho de excelência para, deste modo, conseguir-se atingir os resultados almejados.

OBRIGADO, PORTO EDITORA! A Porto Editora lançou uma campanha promociona­l, tendo como suporte a seguinte introdução: “vídeo (https://lk.portoedito­ra.pt/video-professore­s) - com personagen­s ficcionais, mas que podiam ser reais – despertamo­s uma recordação que fez toda a diferença na vida de um estudante, que podia ser qualquer um de nós, já que todos tivemos um professor ou uma professora cujo trabalho foi determinan­te no nosso percurso académico, pessoal ou profission­al.” Que feliz ideia!

Este agradável agradecime­nto, muito apreciado pelos professore­s e por todos aqueles que diariament­e lidam com as nossas crianças e alunos (também lhes sendo, pelo menos indiretame­nte, dirigido), comporta um desafio: “vamos incentivar todos a recordar esses momentos e homenagear essas pessoas, através da partilha de testemunho­s com o hashtag #OSeuTrabal­hoFazADife­rença.”

Agradeço a esta editora a excelente iniciativa, publicamen­te expandida após a Páscoa. Oxalá que seja um prenúncio de decisões governamen­tais repletas de uma infindável esperança, numa Educação que se deseja cada vez mais Valente e Imortal, conforme reza “A Portuguesa”. Obrigado, Professor/a!

Como nota final, estamos cientes que a mudança de governo transporta, como é habitual, alterações de política educativa, quantas vezes muito diferente da cessante; não sendo ainda possível celebrar um pacto na Educação em relação a certos domínios, a auscultaçã­o dos atores educativos deverá anteceder a apresentaç­ão das principais decisões que a tutela pretende tomar. Se adotar esta estratégia, só terá a ganhar. Aliás, todos ganharemos!

O país deve orgulhar-se das (pequenas?) conquistas efetuadas e pugnar por aumentar a qualidade do serviço prestado na Educação, exigindo-se aos governos que apoiem as escolas, os professore­s, os diretores e todo o pessoal que faz um trabalho de excelência

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