Jornal de Negócios

Há tipos tão batoteiros que usam cartas marcadas quando jogam o solitário. Desmond Bagley

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O J O G O DAS S O M B RAS

Em geral, prefiro o realismo ao optimismo. O optimismo provoca miopia, encarar a realidade torna tudo mais límpido. As cerimónias do 10 de Junho deste ano foram sobre as diferenças de encarar o país, com o Presidente da República a defender o optimismo, o primeiro-ministro a evitar o tema e o Comissário das Comemoraçõ­es a traçar um retrato realista das coisas que deve ter deixado muitas individual­idades agitadas e incómodas na tribuna de honra. É certo que Portugal é mais que fragilidad­es e erros, como disse Marcelo Rebelo de Sousa; mas é igualmente certo que temos tendência a protelar a resolução das fragilidad­es e a empurrar os erros para debaixo do tapete. É este eterno adiar que tem de mudar. O Estado precisa de uma varridela profunda e ela deve começar no desenho de um novo sistema eleitoral que permita que novas formações partidária­s surjam e tenham representa­ção parlamenta­r, para que os cidadãos se sintam mais perto dos eleitos e que os eleitos, a todos os níveis, das juntas de freguesias aos mais altos cargos, sejam exemplos de ética e de responsabi­lidade – o que implica responsabi­lizar os partidos pelas escolhas que fazem. A prioridade não pode ser criar novos eleitos na regionaliz­ação que alguns pretendem, não pode ser manter o jogo da mentira que tem dominado a política, sobretudo nestes anos mais próximos. A prioridade deve ser criar um sistema mais justo e mais escrutináv­el, com uma Justiça mais rápida nos casos de corrupção política. O tempo é o de proporcion­ar um sistema eleitoral que traga para a causa pública gente que se interesse pela política sem ser para traficar interesses, de legislação que penalize quem engana e rouba os cidadãos escondido atrás do manto do poder, seja local ou nacional, de partidos que não se limitem a fazer promessas que nunca cumprem. Como disse João Miguel Tavares em Portalegre, “nós precisamos de sentir que contamos para alguma coisa (além de pagar imposto)”.

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