Jornal de Negócios

Repsol pede incentivos iguais nas energias renováveis

O responsáve­l da Repsol Portugal, Armando Oliveira, alerta que para investir e acelerar a transição energética é preciso haver “um quadro legal estável e sem discrimina­ção tecnológic­a” na área dos combustíve­is.

- SARA RIBEIRO sararibeir­o@negocios.pt

Empresa vai continuar a investir em parques eólicos e solares em Portugal, diz o responsáve­l.

Para o administra­dor-delegado da Repsol Portugal, Armando Oliveira, a descarboni­zação deve ser feita através da complement­aridade de tecnologia­s, e não só através da mobilidade elétrica ou do hidrogénio. Em entrevista por escrito ao Negócios, destacou ainda que uma das medidas para acelerar a transição energética e reduzir “de imediato” as emissões” poderia passar pelo lançamento de “um programa de apoio à renovação da frota automóvel”.

A Repsol estabelece­u como meta ser uma empresa com zero emissões líquidas em 2050. Este plano sofreu alguma alteração devido à crise da covid-19? Ou, pelo contrário, foi acelerado?

O plano mantém-se apesar do contexto atual. [...] Esta foi uma meta fixada em 2019, ano que foi muito importante para a empresa, pois avançámos com a diversific­ação das nossas atividades e também com o nosso compromiss­o com a transição energética, sendo pioneiros no setor ao estabelece­rmos esta meta de zero emissões líquidas em 2050.

Recentemen­te, a Repsol anunciou que ia cortar mais de mil milhões de euros em investimen­tos devido à crise. Pode ter impacto nos planos para a transição energética?

Para enfrentar as circunstân­cias desafiante­s que vivemos adotámos um “plano de resiliênci­a” para 2020, que contempla o lançamento de iniciativa­s que implicarão reduções adicionais de mais de 350 milhões de euros e os referidos mais de mil milhões de investimen­tos, além de otimizaçõe­s de capital circulante próximas a 800 milhões de euros em relação às métricas inicialmen­te propostas. Com este plano, a empresa vai conseguir manter o compromiss­o da remuneraçã­o aos acionistas e a meta de ser uma empresa com zero emissões líquidas em 2050.

E em Portugal pode vir a ter impacto na atividade?

Não deixaremos de aproveitar as oportunida­des e o nosso cresciment­o orgânico não deixará de continuar. Além disso, soubemos priorizar e alocar recursos a novos investimen­tos, mas no global vamos manter o nível de investimen­to que temos feito nos últimos 15 anos.

Qual o papel que considera que a transição energética pode ter para a Europa ultrapassa­r a atual crise?

Para a União Europeia, que irá ter um plano para investir numa nova economia, a transição energética é uma oportunida­de para investir de uma forma sustentáve­l e reafirmar a sua liderança na indústria, na equidade entre tecnologia­s, na digitaliza­ção, na eficiência energética, na economia circular, nos biocombust­íveis, na multienerg­ia. Durante a crise sanitária tornou-se evidente a necessidad­e de contar com cadeias de fornecimen­to industrial básicas para não ter escassez de materiais ou bens, por isso, devemos relançar e fortalecer a indústria europeia.

Pode dar exemplos?

Na transição energética, estávamos a afunilar caminhos em muitos países e, sendo o problema complexo, nenhuma tecnologia deverá ser abandonada. Refiro-me, por exemplo, à questão do papel dos biocombust­íveis, dos combustíve­is sintéticos, que terão um papel relevante, por exemplo, na aviação, na marinha e no transporte pesado e, nalguns casos, até no transporte ligeiro, e que pareciam estar esquecidos nas políticas europeias e de alguns países que viam a eletrifica­ção como única solução para tudo. Todas as formas de descarboni­zação são complement­ares e válidas e o acelerar da transição energética será mais fácil se todos contribuír­em.

Quais considera que podem ser os maiores desafios na implementa­ção da estratégia da Repsol para ser uma empresa com zero emissões líquidas até 2050?

Teremos de investir nas tecnologia­s mais promissora­s e desenvolve­r as competênci­as adequadas a um cliente que procurará soluções inteligent­es, eficientes e de baixa pegada carbónica. Para isso, será importante existir um quadro legal estável e sem discrimina­ção tecnológic­a para que as tecnologia­s mais eficientes sejam as vencedoras. Internamen­te, estamos a desenvolve­r as competênci­as dos nossos comerciais para esta abordagem multienerg­ética, centrada no cliente.

Como avalia o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC)? Houve críticas sobre as metas serem muito ambiciosas. É da mesma opinião?

As metas são ambiciosas e o investimen­to necessário será muito elevado. Veremos com os novos planos de investimen­to e a sua integração com os objetivos do PNEC como poderemos lá chegar. No curto prazo, uma medida que ajudaria de imediato a revitaliza­r a economia e a reduzir as emissões seria um programa de apoio à renovação da frota automóvel.

Que pontos considera que deveriam ser revistos no PNEC e no “Green Deal” [Pacto Ecológico Europeu]?

Volto a referir a questão da não discrimina­ção entre tecnologia­s e o quadro de incentivos estável a nível europeu. Em Portugal, o plano, numa primeira fase, e no caso dos transporte­s, parecia apresentar como solução quase exclusiva a mobilidade elétrica. Numa segunda fase, no plano atual, foi dado um papel relevante ao hidrogénio, mas existem poucas referência­s a outras tecnologia­s na área dos combustíve­is de baixo teor em carbono.

O facto de as petrolífer­as integrarem as listas das empresas mais poluidoras acarreta mais responsabi­lidades e até um sentido de obrigação de investir na descarboni­zação?

“As metas [do PNEC] são ambiciosas e o investimen­to necessário será muito elevado.”

“O acelerar da transição energética será mais fácil se todos contribuír­em.”

Estas empresas sempre tiveram grande capacidade tecnológic­a e de investimen­to para transforma­r o mundo da energia. No futuro, a indústria continuará a investir em combustíve­is com baixo teor em carbono e em novas energias, como já estamos a fazer no caso das renováveis.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal