Rede de segurança dos bancos centrais favorece aposta em dívida
A BlackRock alterou as suas perspetivas de investimento devido à pandemia da covid-19, privilegiando a exposição às obrigações de empresas e à dívida da periferia, ativos em que identifica potencial de retornos.
Apandemia da covid-19 forçou a BlackRock a rever a sua estratégia de investimento para 2020. maior gestora de ativos do mundo reforçou a aposta em obrigações de empresas, um segmento que deverá continuar a ser beneficiado pelos programas inéditos de estímulos monetários implementados pelos principais bancos centrais mundiais.
À semelhança do que aconteceu na anterior crise financeira, a intervenção dos bancos centrais foi fulcral para travar os efeitos da crise da covid-19. Entidades como a Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu injetaram biliões de dólares no mercado. Em cima dos estímulos monetários, também os governos abriram os cordões à bolsa, com programas orçamentais robustos. “Houve uma revolução da política monetária e fiscal a nível global”, refere André Themudo, responsável da BlackRock para Portugal, acrescentando que, no caso da Fed, o balanço do banco central passou de 4 para 11 biliões de dólares. Planos que, na opinião da gestora, suportam o investimento em títulos de dívida.
“As medidas dos bancos centrais funcionam como uma rede de segurança para os emitentes”, explica André Themudo, numa videoconferência com jornalistas na qual apresentou o “outlook” da BlackRock para o segundo semestre deste ano. O responsável pelo negócio da BlackRock em Portugal destaca que, apesar de haver um maior risco de incumprimen
tos, “o rendimento oferecido pela dívida de empresas mais que compensa o risco” do investimento, com estes ativos a garantirem uma melhor relação rentabilidade-risco.
Face à expectativa que se mantenha o apoio dos bancos centrais, a BlackRock considera que tanto há oportunidades na dívida de empresas com boa qualidade de crédito, como nas companhias com pior “rating”. Já do lado da dívida soberana a visão diverge consoante os países. A BlackRock mantém uma perspetiva otimista para a periferia, antecipando que os juros dos países da periferia do euro, onde se inclui Portugal, continuem a ser sustentados pelas políticas do BCE. Mesmo sem apresentar perspetivas isoladas para a dívida nacional, André Themudo reconhece que “é certo que Portugal está muito presente em muitas das nossas carteiras”.
“Underweight” dívida soberana
Ao contrário da dívida da periferia, para a qual a gestora americana tem uma recomendação de “overweight”, as obrigações soberanas de um modo geral são um ativo a evitar, na opinião da BlackRock. Assim, títulos como as “bunds” estão a ser preteridos pela gestora, devido à ausência de potencial de retorno – os juros estão em valores negativos.
Face à ausência de perspetivas de retornos, “vai ser muito questionável o papel da dívida soberana enquanto ativo diversificador de uma carteira”, aponta o responsável pelo negócio da BlackRock em Portugal. Assim, a convicção da gestora é que as obrigações de governos devem ter um peso menor nos portefólios dos investidores no futuro, ao passo que a exposição a títulos vinculados à inflação e investimentos alternativos, assim como investimentos sustentáveis, deve aumentar.
“Os investidores devem ser mais flexíveis, mais rápidos e mais ágeis a tomar decisões”, realça André Themudo, acrescentando que a “alocação típica de investimento do passado vai deixar de existir”. Perante um ambiente caracterizado por uma extrema incerteza, devido à pandemia, o mesmo especialista alerta que os novos portefólios terão de refletir os novos padrões de comportamento acelerados pela covid-19.
“Houve uma revolução da política monetária e fiscal a nível global. O balanço da Reserva Federal dos Estados Unidos passou de quatro biliões de dólares para 11 biliões de dólares.
Há riscos de “default” mais altos, mas o rendimento oferecido pela dívida de empresas mais do que compensa o risco. ANDRÉ THEMUDO Responsável pelo negócio da “BlackRock em Portugal