Jornal de Negócios

Rede de segurança dos bancos centrais favorece aposta em dívida

A BlackRock alterou as suas perspetiva­s de investimen­to devido à pandemia da covid-19, privilegia­ndo a exposição às obrigações de empresas e à dívida da periferia, ativos em que identifica potencial de retornos.

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt

Apandemia da covid-19 forçou a BlackRock a rever a sua estratégia de investimen­to para 2020. maior gestora de ativos do mundo reforçou a aposta em obrigações de empresas, um segmento que deverá continuar a ser beneficiad­o pelos programas inéditos de estímulos monetários implementa­dos pelos principais bancos centrais mundiais.

À semelhança do que aconteceu na anterior crise financeira, a intervençã­o dos bancos centrais foi fulcral para travar os efeitos da crise da covid-19. Entidades como a Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu injetaram biliões de dólares no mercado. Em cima dos estímulos monetários, também os governos abriram os cordões à bolsa, com programas orçamentai­s robustos. “Houve uma revolução da política monetária e fiscal a nível global”, refere André Themudo, responsáve­l da BlackRock para Portugal, acrescenta­ndo que, no caso da Fed, o balanço do banco central passou de 4 para 11 biliões de dólares. Planos que, na opinião da gestora, suportam o investimen­to em títulos de dívida.

“As medidas dos bancos centrais funcionam como uma rede de segurança para os emitentes”, explica André Themudo, numa videoconfe­rência com jornalista­s na qual apresentou o “outlook” da BlackRock para o segundo semestre deste ano. O responsáve­l pelo negócio da BlackRock em Portugal destaca que, apesar de haver um maior risco de incumprime­n

tos, “o rendimento oferecido pela dívida de empresas mais que compensa o risco” do investimen­to, com estes ativos a garantirem uma melhor relação rentabilid­ade-risco.

Face à expectativ­a que se mantenha o apoio dos bancos centrais, a BlackRock considera que tanto há oportunida­des na dívida de empresas com boa qualidade de crédito, como nas companhias com pior “rating”. Já do lado da dívida soberana a visão diverge consoante os países. A BlackRock mantém uma perspetiva otimista para a periferia, antecipand­o que os juros dos países da periferia do euro, onde se inclui Portugal, continuem a ser sustentado­s pelas políticas do BCE. Mesmo sem apresentar perspetiva­s isoladas para a dívida nacional, André Themudo reconhece que “é certo que Portugal está muito presente em muitas das nossas carteiras”.

“Underweigh­t” dívida soberana

Ao contrário da dívida da periferia, para a qual a gestora americana tem uma recomendaç­ão de “overweight”, as obrigações soberanas de um modo geral são um ativo a evitar, na opinião da BlackRock. Assim, títulos como as “bunds” estão a ser preteridos pela gestora, devido à ausência de potencial de retorno – os juros estão em valores negativos.

Face à ausência de perspetiva­s de retornos, “vai ser muito questionáv­el o papel da dívida soberana enquanto ativo diversific­ador de uma carteira”, aponta o responsáve­l pelo negócio da BlackRock em Portugal. Assim, a convicção da gestora é que as obrigações de governos devem ter um peso menor nos portefólio­s dos investidor­es no futuro, ao passo que a exposição a títulos vinculados à inflação e investimen­tos alternativ­os, assim como investimen­tos sustentáve­is, deve aumentar.

“Os investidor­es devem ser mais flexíveis, mais rápidos e mais ágeis a tomar decisões”, realça André Themudo, acrescenta­ndo que a “alocação típica de investimen­to do passado vai deixar de existir”. Perante um ambiente caracteriz­ado por uma extrema incerteza, devido à pandemia, o mesmo especialis­ta alerta que os novos portefólio­s terão de refletir os novos padrões de comportame­nto acelerados pela covid-19.

“Houve uma revolução da política monetária e fiscal a nível global. O balanço da Reserva Federal dos Estados Unidos passou de quatro biliões de dólares para 11 biliões de dólares.

Há riscos de “default” mais altos, mas o rendimento oferecido pela dívida de empresas mais do que compensa o risco. ANDRÉ THEMUDO Responsáve­l pelo negócio da “BlackRock em Portugal

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O presidente da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powell, anunciou um

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