Jornal de Notícias

Mil portuguese­s fizeram testamento vital em sete meses

Diretiva antecipa que cuidados de saúde se pretende receber em caso de incapacida­de Familiares de doentes com demência e testemunha­s de Jeová entre os grandes interessad­os

- Helena Norte helena@jn.pt

Em sete meses, cerca de mil declararam que cuidados de saúde querem ou não receber, se ficarem privados da capacidade de decidir. Familiares de doentes com alzheimer e testemunha­s de Jeová revelam grande interesse.

Desde 1 de julho até 31 de janeiro, o Registo Nacional do Testamento Vital (Rentev) recebeu 1009 diretivas antecipada­s de vontade, documentos em que o cidadão declara quais os tratamento­s e cuidados a que deseja ou não ser submetido, caso fique incapaz de expressar a sua vontade. Nomear um procurador de cuidados de saúde, que passa a representa­r o doente quando não tiver nessa situação, é também possível.

O testamento vital tem mobilizado principalm­ente as pessoas com mais de 65 anos, do sexo feminino (60%) e da região de Lisboa e Vale do Tejo, apurou o JN junto dos Serviços Partilhado­s do Ministério da Saúde.

A tendência para adiar este tipo de decisão, embora natural, pode revelar-se contraprod­ucente, principalm­ente nos casos de demência, já que o testamento vital pressupõe que a pessoa esteja em condições mentais para antecipar a tomada de decisões sobre a sua saúde.

A Associação Alzheimer Portugal tem recebido numerosos pedidos de informação sobre este assunto, principalv­ulgação. mente de familiares, confirmou ao JN Maria do Rosário Zincke dos Reis. “Uma das questões que os familiares colocam é se podem fazer pelo doente, e não é possível. Por isso, tem de ser o próprio, antes ou numa fase inicial da doença, a fazer o testamento

“Nos EUA, o presidente Obama fez testamento vital no primeiro mandato. Em Portugal, era muito importante que figuras públicas fizessem o mesmo” Conselho de Ética para as Ciências da Vida

vital ou nomear o procurador de cuidados de saúde”, acrescenta a jurista e dirigente da associação.

Não é possível saber a opção religiosa dos que registaram testamento­s vitais, mas é certo o interesse das testemunha­s de Jeová na antecipaçã­o de decisões de saúde.

“Inicialmen­te, fazíamos em relação à terapia transfusio­nal, mas nos últimos 11 anos alargamos o âmbito das diretivas antecipada­s”, especifica Pedro Candeias. O porta-voz da Associação Testemunha­s de Jeová está convicto de que, a breve prazo, “vai disparar o número de testemunha­s de Jeová” a formalizar o registo.

Para o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, é fundamenta­l uma campanha de di- A começar pelos profission­ais de saúde, que deviam explicar aos utentes as implicaçõe­s das diretivas antecipada­s de vontade. Miguel Oliveira da Silva defende a importânci­a de figuras públicas assumirem a decisão de fazer testamento vital.

Embora a lei que criou o testamento vital seja de 2012, só no ano passado foi criado o Rentev, que veio simplifica­r os procedimen­tos, uma vez que dispensa a autenticaç­ão do documento no notário e os respetivos custos. Existe um formulário que pode ser descarrega­do no Portal do Utente e que, depois de preenchido, deve ser assinado presencial­mente num centro de saúde com balcão Rentev (geralmente, há um por cada agrupament­o de centros de saúde).

Miguel Oliveira da Silva

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Mais de metade dos testamento­s vitais foram feitos por maiores de 65 anos

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