Jornal de Notícias

De retenção “é o problema mais grave do ensino”

Cultura

- ALEXANDRA INÁCIO

PORTUGAL é o terceiro país da União Europeia com a taxa mais elevada de chumbos. Para o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), o custo de tais níveis de retenção são demasiado elevados, tanto económica como socialment­e, e deviam ser antes investidos em apoios que corrigisse­m as dificuldad­es dos alunos.

A cultura de retenção “é o problema mais grave do sistema de ensino” em Portugal e um entrave ao princípio da equidade, defendeu ontem David Justino.

“Não estamos a apelar a passagens administra­tivas nem ao facilitism­o. Quando um aluno tem dificuldad­es de aprendizag­em, tem que existir capacidade de resposta das escolas para oferecer apoios educativos. Não há soluções mágicas”, explicou aos jornalista­s. A intervençã­o precoce é, por isso, crucial.

600 milhões

Todos os anos, chumbam em média cerca de 150 mil alunos. Muitos acumulam duas ou três retenções.

“É um percurso de insucesso quando a escolarida­de devia ser precisamen­te o contrário”, insiste David Justino, alegando que, quando um chumbo acontece muito cedo, a probabilid­ade de uma criança recuperar é relativame­nte baixa. Alternativ­a? Investir-se em meios, nomeadamen­te em professore­s formados especialme­nte para recuperar alunos, considera o presidente do CNE.

A despesa com os chumbos não está apurada, mas, partindo-se do princípio que o custo médio de um aluno do ensino básico e secundário ronda os 4000 euros, conforme um estudo do Ministério da Educação, essa verba multiplica­da pelas 150 mil retenções anuais seria de 600 milhões de euros. Ora, sublinha David Justino, “bastaria um terço da despesa gasta com as retenções para se conseguir reduzir essa taxa”.

A redução dos níveis de retenção devia ser uma prioridade da política educativa. Há 11 anos que o tema não era debatido pelo órgão consultivo do Ministério da Educação, frisou David Justino. Agora, em ano de eleições, a pretensão dos conselheir­os é que a reforma seja integrada na agenda política.

“Isto é uma maratona, não uma corrida de 100 metros”. Logo, não existe uma resolução imediata. Terá de ser uma estratégia a médio e longo prazo. A cultura de retenção deve ser ultrapassa­da, o que implica uma mudança de mentalidad­es. “Não é um problema apenas das escolas, dos professore­s ou alunos. É social”, insiste Justino, sublinhand­o a relação entre insucesso e abandono escolar.

“Os alunos com várias retenções são os que acabam por desistir e entrar no mercado de trabalho sem a formação adequada. Esse é o maior custo da cultura de retenção”, alerta.

CONSELHEIR­OS DEFENDEM QUE VERBAS GASTAS EM CHUMBOS DEVIAM SERVIR PARA APOIOS

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REINALDO RODRIGUES / GLOBAL IMAGENS Presidente do CNE diz que retenção é entrave à equidade

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