De retenção “é o problema mais grave do ensino”
Cultura
PORTUGAL é o terceiro país da União Europeia com a taxa mais elevada de chumbos. Para o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), o custo de tais níveis de retenção são demasiado elevados, tanto económica como socialmente, e deviam ser antes investidos em apoios que corrigissem as dificuldades dos alunos.
A cultura de retenção “é o problema mais grave do sistema de ensino” em Portugal e um entrave ao princípio da equidade, defendeu ontem David Justino.
“Não estamos a apelar a passagens administrativas nem ao facilitismo. Quando um aluno tem dificuldades de aprendizagem, tem que existir capacidade de resposta das escolas para oferecer apoios educativos. Não há soluções mágicas”, explicou aos jornalistas. A intervenção precoce é, por isso, crucial.
600 milhões
Todos os anos, chumbam em média cerca de 150 mil alunos. Muitos acumulam duas ou três retenções.
“É um percurso de insucesso quando a escolaridade devia ser precisamente o contrário”, insiste David Justino, alegando que, quando um chumbo acontece muito cedo, a probabilidade de uma criança recuperar é relativamente baixa. Alternativa? Investir-se em meios, nomeadamente em professores formados especialmente para recuperar alunos, considera o presidente do CNE.
A despesa com os chumbos não está apurada, mas, partindo-se do princípio que o custo médio de um aluno do ensino básico e secundário ronda os 4000 euros, conforme um estudo do Ministério da Educação, essa verba multiplicada pelas 150 mil retenções anuais seria de 600 milhões de euros. Ora, sublinha David Justino, “bastaria um terço da despesa gasta com as retenções para se conseguir reduzir essa taxa”.
A redução dos níveis de retenção devia ser uma prioridade da política educativa. Há 11 anos que o tema não era debatido pelo órgão consultivo do Ministério da Educação, frisou David Justino. Agora, em ano de eleições, a pretensão dos conselheiros é que a reforma seja integrada na agenda política.
“Isto é uma maratona, não uma corrida de 100 metros”. Logo, não existe uma resolução imediata. Terá de ser uma estratégia a médio e longo prazo. A cultura de retenção deve ser ultrapassada, o que implica uma mudança de mentalidades. “Não é um problema apenas das escolas, dos professores ou alunos. É social”, insiste Justino, sublinhando a relação entre insucesso e abandono escolar.
“Os alunos com várias retenções são os que acabam por desistir e entrar no mercado de trabalho sem a formação adequada. Esse é o maior custo da cultura de retenção”, alerta.
CONSELHEIROS DEFENDEM QUE VERBAS GASTAS EM CHUMBOS DEVIAM SERVIR PARA APOIOS