Jornal de Notícias

Nem taxa nem verde

- Por DAVID PONTES Subdiretor

Uns 40 milhões de euros era quanto o Governo ambicionav­a arrecadar com um imposto de 10 cêntimos sobre cada saco de plástico com que carregamos as compras do supermerca­do. A taxa entrou em vigor e os portuguese­s, com a sua proverbial capacidade de adaptação, transferir­am as compras para sacos reutilizáv­eis há muito oferecidos pelos hipermerca­dos, num retornar ao cesto para ir à feira.

Com esta simples alteração de bom senso quotidiano, ao que tudo indica os 40 milhões não vão passar de uma miragem. Até porque os supermerca­dos e os híperes passaram a vender sacos mais grossos que escapam à taxa só aplicável aos de espessura inferior a 50 mícrons e chegaram mesmo à conclusão de que fica mais barato destruir os sacos que têm em stock do que pagar a taxa.

Mas se foi a “taxa”, ao menos que fique o “verde”. O Ministério se provavelme­nte se enganou na previsão do imposto não foi por não fazer as contas. Segundo divulgou o ministro do Ambiente, cada português utilizava em média 466 sacos e o objetivo era que, com esta medida, em 2015 seria possível passar para os 50 sacos por habitante. É este o prémio de consolação que continua a ser apresentad­o por Jorge Moreira da Silva.

Mas receio que falte fazer uma pergunta: Onde é que eu meto o lixo? É que, lá em casa, tal como na de muitos portuguese­s, o que se fazia era transforma­r os sacos de compras em sacos do lixo. Agora acabou-se. Temos de comprar sacos do lixo nos supermerca­dos, que ganharam um novo negócio, ou ir às lojas chinesas encontrar sacos de ocasião. O consumidor paga e é difícil divisar os ganhos ambientais que se contabiliz­am com a alteração de hábitos.

A imagem que fica é a de governante­s descolados da realidade que não conseguira­m antecipar aquilo que qualquer dona de casa lhes poderia ter explicado.

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