PAULO FEZ-SE À ESTRADA A PÉ E SÓ PÁRA QUANDO CONSEGUIR TRABALHO
Lisboa Caminha até Santiago de Compostela com as três cadelas que não quis abandonar Desemprego atirou-o para precariedade e levou-o para a estrada
Sem emprego há mais de um ano, não queria continuar a dar despesas aos pais e decidiu fazer-se à estrada, a pé, com três cadelas, desde Lisboa até Santiago de Compostela. Paulo só irá parar quando conseguir trabalho.
Enquanto não obtiver notícias do Instituto de Emprego e Formação Profissional de Lisboa, Paulo Teixeira, 43 anos, conhecido como o “amigo Paulo”, promete continuar a caminhada, que o levou a sair de Sacavém, a 11 de janeiro, para a Corunha, com as três amigas Jacky, Enya e Heidi. Com um pequeno veí- culo de fabrico próprio a que chama “Golden Heart” (Coração Dourado), já caminhou por várias cidades (ver mapa) até chegar, anteontem, a Amarante, onde, tal como em muitos outros locais, beneficiou da hospitalidade espontânea dos habitantes, comovidos pela história, coragem e humildade do “amigo Paulo”.
Com simplicidade, o antigo empregado de hotelaria diz às pessoas que o desemprego levou-o para a precariedade. Não suportava ver os pais pagarem as suas despesas e, sobretudo, as despesas das suas três cadelas e fiéis amigas, que nunca abandonaria por nada.
“Não podia deixá-las a ninguém. Estou no desemprego há mais de um ano e decidi caminhar até Santiago de Compostela. Mas é muito provável que vá mais longe. Se não tiver notícias do Centro de Emprego, irei continuar até Lourdes. As pessoas que vivem nas terras onde passo são generosas. Dão-me dinheiro ou alimentos, tanto para mim como para as minhas cadelas, e arranjam locais onde posso colocar a minha tenda”, explicou Paulo, que anteontem pernoitou,
50 euros em 400 km
O sonho de percorrer o país nasceu há 23 anos. E não é apenas caminhar até Santiago de Compostela. “A ideia era ir sozinho até à Lapónia, a terra do Pai Natal. Também quero com esta caminhada lançar uma mensagem. Mostrar que, apesar de tudo, é possível manter os animais em qualquer circunstância. Não há motivos para os abandonar”, explica Paulo.
Até agora, a viagem custou-lhe apenas 50 euros. Sempre que pode atualiza a sua página de Facebook, onde coloca fotografia das paisagens pelas quais passou. Não sabe ao certo os quilómetros que já caminhou, mas acredita que andarão pelos 400.