Dirigentes falsificavam certidões para empresas
Quadros superiores recebiam dinheiro para passar atestados falsos sobre dívidas à Segurança Social Pelo menos trinta empresas na mira da Polícia Judiciária
Jurista servia de elo de ligação entre funcionários do Estado e empresários que queriam, de forma fraudulenta, ter acesso a concursos públicos e fundos. PJ fez cinco detenções e realizou setenta buscas.
Um advogado foi detido, ontem, pela Polícia Judiciária (PJ), na sequência de uma operação contra corrupção no Estado, em que dois quadros superiores da Segurança Social acabaram também detidos. O mesmo aconteceu a dois técnicos oficiais de contas. Vários empresários foram igualmente constituídos arguidos e há pelo menos 30 empresas na mira da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC).
O esquema passava pela negociação e venda de declarações falsas, em que os serviços de Segurança Social asseguravam que as empresas nada ali deviam, condição obrigatória para que os empresários pudessem ter sucesso no acesso a concursos públicos e a fundos.
Por detrás da burla ao Estado estava um diretor do Centro Distrital de Segurança Social de Lisboa, com sede no Areeiro, daí o nome da ação policial: “Operação Areeiro”. O quadro superior foi um dos detidos, bem como um chefe de serviço. No entanto, segundo fontes dentro do processo adiantaram ao JN, na quase totalidade dos casos, nem um nem outro conheciam pessoalmente os empresários a quem eram vendidos os certificados falsos.
Esse papel caberia ao advogado, que funcionaria junto de empresários, dados os conhecimentos no mercado, a quem fazia as propostas para conseguir o certificado falso. Depois, o causídico contactava com os quadros da Segurança Social, dando conta da encomenda e tratando do processo da venda dos certificados, a par dos técnicos oficiais de contas.
Mais de 70 buscas
Ao fim da tarde de ontem, no entanto, a operação ainda decorria, com os inspetores da UNCC e de outros departamentos da PJ a realizarem mais de 70 buscas. Os principais suspeitos, o advogado, os técnicos de contas e os dois funcionários da Segurança Social, foram os principais alvos, sendo detidos logo no início da operação, mas as buscas prolongaram-se pela tarde, desta feita já junto das empresas suspeitas de terem conseguido certificados falsos, através de subornos.
Os crimes em causa são corrupção passiva e ativa e falsificação de documentos.
Ao início da noite, a UNCC estava a começar a avaliar as dezenas de documentos apreendidos. Contudo, a real extensão da burla ao Estado ainda não é conhecida e desconhece-se se as conclusões da investigação poderão ter consequências nos resultados em concursos e nos processos fraudulentos de acesso a fundos. Os detidos deverão ser hoje presentes a tribunal.
OPERAÇÃO TEVE POR ALVO A SEDE DISTRITAL DA SEGURANÇA SOCIAL DE LISBOA