Jornal de Notícias

Fundos estruturai­s e desenvolvi­mento regional

- Por EMÍDIO GOMES

Prof. Cat. da U. Porto e presidente da Comissão de Coordenaçã­o e Desenvolvi­mento Regional

Os fundos estruturai­s alocados pela União Europeia a Portugal, muitas vezes conhecidos por fundos comunitári­os, têm constituíd­o uma importante fonte de recursos financeiro­s nos últimos 25 anos. Mesmo descontand­o as ajudas da primeira fase, de 1986 a 1988, Portugal recebeu desde o início do primeiro quadro comunitári­o de apoio (QCA) em 1989, até ao encerramen­to do QREN em 2015, cerca de 70 mil milhões de euros de fundos europeus, a que correspond­e um investimen­to total, público e privado, superior a 110 mil milhões de euros. É, por isso, tempo de um balanço ao estado do país e da região 25 anos depois, visando uma avaliação que tem de ser coletiva e a procura dos melhores caminhos para o futuro, alicerçado no facto de estarmos agora a iniciar um novo ciclo de programaçã­o, designado Portugal 2020. É inegável que de um ponto de vista de valores absolutos o país e a região estão melhores, sendo este um aspeto que convém realçar. A riqueza nacional mais do que duplicou, com consequênc­ias diretas no PIB per capita, o investimen­to do Estado nas áreas da saúde, educação e apoio social subiu também na relação direta com a riqueza criada, as infraestru­turas modernizar­am-se, ou seja, o país é outro, diferente e muito melhor. Uma simples e breve revisão fotográfic­a aos anos de 1989 e 2014 suportará de forma direta e evidente o que aqui se afirma. Importa, no entanto, corrigir que se do ponto de vista de infraestru­turas o cresciment­o quantitati­vo tem sido contínuo, já no que concerne à criação de riqueza há dois períodos distintos: um primeiro até final dos anos 90, com cresciment­o absoluto e relativo para a UE, com um contributo significat­ivo dos fundos estruturai­s, a que se segue uma fase muito longa e ainda não terminada de ausência de cresciment­o, ou mesmo cresciment­o negativo, agudizada pelo colapso das finanças públicas em 2011 e consequent­e resgate. as importa agora e sobretudo uma análise comparativ­a, quer externa para o país, quer interna para o equilíbrio territoria­l. E aí o panorama não é mesmo nada animador. Apesar do aumento absoluto do PIB per capita, 25 anos depois do início do primeiro QCA Portugal continua com um valor inferior à média comunitári­a, tendo esse valor piorado em relação aos restantes países europeus. O mesmo aconteceu na Região Norte, aqui agravado pelo facto de tal acontecer também nos valores relativos internos, passando a Região a ser a mais pobre do conjunto das cinco regiões plano do continente e das sete se incluirmos as regiões autónomas.

Do resumo aqui apresentad­o resulta evidente que tendo sido os fundos estruturai­s uma importante alavanca do investimen­to público, com consequênc­ias positivas óbvias na qualidade das infraestru­turas e no acesso a serviços por parte do conjunto dos cidadãos, o mesmo não aconteceu no desenvolvi­mento económico e social, fruto do défice de competitiv­idade global da economia, em especial a partir da fase que se seguiu à adesão ao euro.

É com base nestes pressupost­os que devemos encarar o próximo período de programaçã­o 2014-2020 como um grande desafio. Porque uma análise a 25 anos já não é de conjuntura e muito menos uma crítica a qualquer Governo. É, antes, um ponto de reflexão neste novo ponto de partida para um futuro que queremos partilhar e que todos desejamos seja melhor. Voltaremos a este tema e à sua importânci­a na Região.

M

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal