Arco Têxteis atira de vez 288 para o desemprego
Santo Tirso Fábrica histórica da Região Norte foi declarada insolvente Dos seis bancos credores, só um aceitava perdão de 40% da dívida
Sem hipótese de viabilização, a Arco Têxteis vai fechar as portas, pondo quase 300 pessoas no desemprego. A insolvência foi decretada ontem e, com ela, Santo Tirso perde uma das maiores fábricas do setor.
Havia quem mal desviasse os olhos do chão, a meio da tarde de ontem, enquanto ouvia a notícia pela voz de Palmira Peixoto, do Sindicato Têxtil do Porto, que anunciava a “liquidação” da têxtil. E houve quem escutasse tudo de braços cruzados, com o desalento vincado no rosto. Ou com a resignação de quem sabe que já nada pode fazer.
Eram mais de uma centena, dos 288 trabalhadores da quase centenária empresa, e concentraram-se à porta empunhando uma tarja negra, a exigir “soluções urgentes”, quando, de repente, perceberam que a luta acabara de terminar ali, com o fim da fábrica fundada em 1923, perto do centro da cidade. A mesma que chegou a ser uma das mais modernas têxteis da região e a empregar mais de mil pessoas.
Depois de o Processo Especial de Revitalização (PER) ter sido chumbado pela banca, à qual a firma deve 25 milhões de euros, o Tribunal de Santo Tirso decretou agora a insolvência da Arco Têxteis, já que a própria Administração reconheceu não ter condições para apresentar qualquer outro plano de recuperação diferente do que havia proposto em setembro do ano passado, em que pedia aos seis bancos envolvidos o perdão de 40% da sua dívida.
“A partir da altura em que o PER foi derrotado pelos credores, inevitavelmente, a solução tinha de ser esta”, lamentou Palmira Peixoto, sublinhando que “a empresa tem uma situação de falência técnica completa, porque deve quase tanto quanto tem”. Ou seja, tem um passivo a rondar os 32 milhões de euros, enquanto o ativo é de 33 milhões.
Aos funcionários, deve, além das indemnizações, os salários dos meses de janeiro e fevereiro, alguns dias deste mês e ainda 50% do subsídio de férias do ano passado a alguns deles.
Hoje, os trabalhadores – alguns com quase meio século de trabalho na Arco – vão começar a receber os documentos necessários para acederem ao subsídio de desemprego. Segue-se o processo de reconhecimento dos respetivos créditos e ativação do Fundo de Garantia Salarial.
“Nunca pensei que íamos chegar a esta situação”, desabafou Balbina Silva, que conta 41 anos na fábrica, dos 55 que leva de vida e que a deixam longe da idade da reforma e de um novo emprego.
“Foi o meu primeiro emprego e o último. Foi sempre aqui, nunca trabalhei noutro lado” Balbina Silva Funcionária da Arco “Era uma fábrica de boa qualidade, e isso perdeu-se. Não havia interesse dos patrões” Camila Freitas Funcionária da Arco