“Alemanha devia falar das vantagens que retira da Europa”
“O TRATADO de Lisboa não foi tão ‘porreiro pá!’”, ironizou ontem Francisco Seixas da Costa na conferência “Grécia? E Agora?”, que decorreu na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
O embaixador e ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus (1995-2001) referia-se à frase dita por José Sócrates a Durão Barroso no final da conferência de imprensa em que anunciaram o acordo alcançado sobre o novo tratado europeu, na Cimeira de Lisboa de outubro de 2007. Seixas da Costa recorreu a essa citação para explicar o seu ponto de vista: na União Europeia há “uma espécie de ‘centrão’” caracterizado por “um certo totalitarismo” que decorre desse Tratado e que enfraqueceu o papel moderador da Comissão Europeia.
No fim de um debate muito marcado por referências ao poder da Alemanha, e em resposta à intervenção do diplo- mata alemão, Matthias Fischer, que sublinhou a importante contribuição alemã para os fundos de resgate e para o investimento nos países mais afetados pela crise, Seixas da Costa salientou a necessidade de Berlim “falar também de todas as vantagens que retira da Europa”.
“A Alemanha não faz uma pedagogia mínima do que retira da Europa”, preferindo “insistir nas transferências”, o que “é errado, porque os fundos não vão todos para os países mais pobres”, disse.
Mesmo o economista britânico Stuart Holland apontou o dedo à hegemonia alemã. “Merkel não tem as referências da Europa Ocidental e não aceita conceitos como a solidariedade”, criticou. E estendeu a crítica a Passos Coelho: “Está a fazer o jogo de Berlim”, disse.
Já o economista grego Elias Soukiazis concentrou o seu juízo na troika. “Não resolveu nada, só agravou”.