Jornal de Notícias

Repreende Finanças por não juntar processos

Tribunal

- LUÍS MOREIRA

O TRIBUNAL Administra­tivo e Fiscal do Porto ordenou ao Fisco que junte num processo as 37 multas por não pagamento de portagens que passou ao automobili­sta Francisco Magalhães e deu-lhe um “ralhete” ao lembrar o seu dever legal de apensação de processos.

“As entidades administra­tivas gozam dos mesmos direitos e estão submetidas aos mesmos deveres das entidades competente­s para o processo criminal”, afirma a juíza Liliana Maia, que arrasa os procedimen­tos do Serviço de Finanças do Porto.

A magistrada diz que entre as várias contraorde­nações “há uma conexão evidente” e diz que, segundo a lei, quando tal suceder, “organiza-se um só processo”, ou “procede-se à apensação de todos”.

Apreciando a queixa do advogado Ricardo Pinto, de Matosinhos, que anulou já dez dos 55 processos que intentou, a juíza acentua a crítica, ao dizer que as Finanças “estavam legalmente obrigadas a organizar um único processo, ou, pelo menos, a proceder à apensação”.

Num outro caso, em Mirandela, o juiz Ricardo Moreira anulou, por “nulidade insuprível”, as 20 coimas aplicadas a outro condutor, dizendo que “não há qualquer infração tributária”.

Em resposta à contestaçã­o do advogado e professor da Universida­de do Minho, Tiago Lopes de Azevedo, diz que se trata apenas de uma multa rodoviária.

Sobre o projeto-lei da área governamen­tal, que vai ser discutido no Parlamento, a advogada Sandra Azevedo diz que “é uma artimanha para seduzir os contribuin­tes a pagarem voluntaria­mente, não só as taxas de portagem como as coimas”.

“Há projetos que visam, somente, juros de mora e custas processuai­s e não as próprias coimas ou taxas de portagem, pelo que é insultuoso classifica­r uma mera dispensa ou redução como “perdão fiscal”.

Com efeito, “dúvidas não restam de que o Estado procura arrecadar o máximo de receitas, que não lhe são legalmente devidas”. E conclui que “o regime jurídico atual padece de inconstitu­cionalidad­e, sendo o projeto de lei da área governamen­tal uma forma de enganar o contribuin­te”.

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BRUNO MARTINS / GLOBAL IMAGENS Finanças do Porto arrasadas pelo tribunal

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