Pedófilos aliciam crianças de 8 anos através de telemóvel
Smartphones dão acesso a aplicações cada vez mais usadas por abusadores Menores fogem de redes frequentadas pelos pais e ficam expostos ao perigo
Há crianças com oito anos vítimas de chantagem sexual na Internet, diz a PJ. Os smartphones dão-lhes acesso a aplicações perigosas e até as PlayStation têm riscos. Julga que sabe o que o seu filho/a faz na Internet? Se calhar não sabe.
Em menos de uma semana, a Polícia Judiciária (PJ) deteve três pedófilos que criavam falsos perfis na Internet, fazendo-se passar por menores para levar as crianças a fotografarem-se nuas, usando depois as imagens para as chantagear. A vítima mais nova tem dez anos, mas a PJ admite que há casos de crianças ainda mais novas, pelo que situa o grupo de risco entre os oito e os 15 anos.
Não há dúvidas, para os especialistas, de que cada vez mais cedo as crianças são atacadas, pois é também cada vez mais cedo que recebem dos pais smartphones com capacidade para aplicações muito sofisticadas e que oferecem garantias de anonimato aos pedófilos. Novos programas surgem com tanta frequência que é praticamente impossível aos pais conhecerem tudo o que existe nos smartphones ou tablets dos filhos.
Em Portugal, não há estudos rigorosos sobre este fenómeno porque os investigadores académicos deparam-se precisamente com a vergonha das crianças e as polícias ainda não distinguem, nas suas estatísticas, as agressões sexuais online.
No entanto, segundo a avaliação da PJ, é entre os oito e os 15 anos que os menores mais tempo passam na Internet em Portugal, para contactar e conhecer pessoas e isso está a ser aproveitado por predadores, que já fizeram numerosas vítimas neste escalão etário. Em vez de pesquisarem pornografia infantil na Internet, procuram agora obter essa pornografia em encontros online.
“É relativamente fácil instrumentalizar uma criança. Todos os miúdos têm Internet no bolso, através dos telemóveis. Mas os pedófilos também usam outros meios, como as consolas de jogos – PlayStation ou Nintendo –, para estabelecer contactos com os menores”. Fazem-no com identidades falsas nos jogos em rede, explica o inspetor chefe Camilo Oliveira, especialista da PJ na investigação de abuso sexual de menores através da Internet.
Por outro lado, acrescenta o especialista, “existem redes sociais, especialmente dedicadas às crianças, como o Habbo, onde os predadores vão para estabelecer os primeiros contactos”. “Depois passam para mensagens privadas, onde começam a ter conversas de cariz sexual. Procuram as crianças onde elas estão e um show ao vivo é o que estimula mais um predador”, refere o especialista.
“As novas tecnologias vieram aumentar o números de casos de abusos sexuais. Aliás, é impossível quantificar quantas crianças são abusadas sexualmente através da Internet. A distância não é um problema. Houve um caso de um indivíduo dos Açores que durante dois anos abusou de uma criança de 12 anos, sempre à distância. Só precisou de a convencer uma vez. Dizia que não ia chatear mais. Com vergonha ou medo a criança continuou”, exemplifica.