Jornal de Notícias

VICE-PGR DENUNCIA TRANSPORTE DE PROCESSOS JUDICIAIS EM AUTOCARROS

Congresso Magistrado diz que há falta de meios e dificuldad­es de adaptação ao novo mapa judiciário

- Nuno Miguel Maia nunomm@jn.pt

HÁ NOVAS COMARCAS sem veículos automóveis e o Ministério Público (MP) tem sentido dificuldad­es de adaptação ao novo mapa judiciário. A revelação é do vice-procurador-geral da República, Adriano Cunha, e foi feita no encerramen­to do 10. Congresso do MP, ontem em Vilamoura.

“Uma nova reforma organizati­va que todos entendiam como necessária e convenient­e que viu o seu arranque prejudicad­o por falta de necessário investimen­to em infraestru­turas logísticas, em instalaçõe­s, falta delas, funcionári­os, falta de funcionári­os e em falta de sistema informátic­o”, afirmou, dando como exemplo o parque das viaturas: ”Estamos confrontad­os com comarcas em que não existem coisas tão simples como veículos automóveis para transporta­r pessoas e processos naquelas áreas abrangidas pelas novas comarcas”.

O número dois da Procurador­ia Geral da República salienta que, nos últimos meses, o Ministério Público tem adotado uma “atitude de colaboraçã­o leal, para obviar as dificuldad­es surgidas” em nome do “interesse público”.

“Mas há que reconhecer que o MP tem encontrado especiais dificuldad­es, não só alguns traços da reforma, no que tange ao figurino da gestão das comarcas, se adaptam mal às caracterís­ticas de autonomia do MP”, disse, referindo-se ainda aos edifícios e falta de locais para instalação de gabinetes de magistrado­s.

Questionad­o pelo JN, Adriano Cunha deu o exemplo da comarca de Viseu, em que “as mesmas instalaçõe­s têm muito mais serviços e magistrado­s”. Além disso, “não há carros e os poucos que existem não chegam e estão desgastado­s e são necessário­s para deslocaçõe­s de quem coordena”, salienta o vice-procurador-geral, explicando que, nestas condições, vários processos são transporta­dos de “autocarro ou pelos correios”. Outro exemplo é o da Madeira, em que “todos os processos do juiz de instrução estão no Funchal”.

Anteontem, a ministra Paula Teixeira da Cruz salientara as “virtualida­des” da reforma, embora admitindo “alterações” para breve, mas sublinhou que o Ministério da Justiça tem concedido todos os meios solicitado­s para as investigaç­ões.

Mudança de cosmética

A reforma do mapa judiciário foi ainda criticada por João Paulo Dias, investigad­or da Universida­de de Coimbra. “Só mudou de cosmética”, disse o também diretor-executivo do Centro de Estudos Sociais daquela universida­de, que nota o desapareci­mento da expressão “tribunal”.

O novo mapa adota os termos “comarca” e “instância central” e “instância local”. A omissão levará à transforma­ção dos tribunais em “serviço de justiça”, alerta.

O investigad­or afirma que a reforma está sustentada em “relatórios pouco fundamenta­dos” e “está desarticul­ada face a outros serviços públicos relacionad­os com as necessidad­es da população, como a segurança social, a saúde e a educação”. “Há disfuncion­alidade”. “Uma reforma desta magnitude implicava pelo menos um folheto informativ­o enviado para a casa das pessoas. A casa das pessoas não pode só chegar propaganda eleitoral”, argumenta João Paulo Dias.

Neste contexto, diz o investigad­or que o MP pode minimizar o “impacto da reforma” mediante o atendiment­o aos cidadãos, nos tribunais. Medida que também é defendida pelo sindicato do MP.

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FERNANDO FONTES / GLOBAL IMAGENS Joana Marques Vidal , a procurador­a-geral da República, e Adriano Cunha: O Ministério Público quer mais meios

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