A maior renda de bilros do Mundo está a ser feita aqui
Vila do Conde Desafio envolve até agosto centenas de rendilheiras Ambição é inscrever o projeto no livro de recordes do Guinness
A artista plástica Joana Vasconcelos é madrinha do projeto: uma renda de bilros gigante com mil quadrados executados por centenas de rendilheiras. A peça vai depois cobrir o casco de uma nau quinhentista.
Há três meses que Maria da Guia não tem mãos a medir. Vive entre desenhos mais ou menos antigos e, da cabeça, entre um risco e outro, não lhe sai a “renda gigante”. Transpira entusiasmo. Na Casa do Vinhal, no único museu de rendas de bilros do país, a maior renda do Mundo começa a ganhar forma. Estará pronta a 2 de agosto e tem como madrinha a artista plástica Joana Vasconcelos. Nascerá da junção de mais de mil quadrados e pode ir para o livro dos recordes do Guinness.
“Será sobretudo uma peça que vai unir gerações”, asse- gura a rendilheira, enquanto vai mostrando, ao JN, os mais de 30 desenhos diferentes que, em quadrados de cartão, vão ganhando a forma de “piques” com pequenos furos, que guiam o minucioso trabalho da rendilheira. Desde o início do ano que há um corrupio de gente, quase diariamente, no Museu das Rendas de Bilros de Vila do Conde.
Dos 8 aos 82 anos
“Tem aparecido muita gente para buscar piques. Acho que as pessoas estão todas muito entusiasmadas”, conta Maria da Guia Monteiro. 63 anos de vida, quase 60 de rendilheira, apaixonada pela secular arte de dedilhar os bilros, não esconde a alegria por fazer parte do “gigante” desafio lançado pela Câmara às rendilheiprojeto ras da cidade.
Será um trabalho feito com centenas de mãos, dos 8 aos 80 anos – ou melhor, pelo menos 82, que Maria Pinto Lapa, uma das rendilheiras mais antigas da terra, ainda fará “com toda a certeza” o seu quadrado.
Todas as rendilheiras, “mesmo as que possam estar espalhadas pelo Mundo” , foram desafiadas a fazer um quadrado de 30 centímetros em renda de bilros. A única “imposição” é utilizar linha 20 e entregar a peça até maio. A artista plástica Joana Vasconcelos – conhecida pelos “muitos projetos gigantes” – aceitou ser madrinha do e, em estudo, está agora a sua candidatura ao recorde do Guinness.
Maria da Guia finaliza
No fim, é das mãos de Maria da Guia, há 28 anos na Associação para a Defesa do Património e Artesanato de Vila do Conde e há 25 como rendilheira principal do Museu de Rendas de Bilros da cidade, que sairá a peça “gigante”.
A ela cabe “desencontrar as cores” e unir todos os quadrados numa enorme “toalha” que deverá cobrir o casco lateral da nau quinhentista, que, no rio, no lugar outrora ocupado pelos estaleiros navais, presta também ela homenagem a uma arte que, ontem como hoje, continua a levar longe o nome de Vila do Conde.