Jornal de Notícias

O rossio da Lada

Onde se localizava­m as lojas e armazéns da venda de carqueja e da chamiça

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Nos meados do século XIV, mais precisamen­te em 1353, a Câmara do Porto emprazou “o rossio da Lada, junto às escadas do muro e entestando (formar testada, confrontan­do) com este”.

Emprazar significa a cedência que o proprietár­io de um prédio (terreno ou casa) faz a outrem, mediante o pagamento de uma renda ou foro que tanto pode ser anual como semestral.

Lada é um dos mais antigos topónimos do Porto. Os estudiosos da matéria dizem que a palavra (lada ou leda) significa estrada ou caminho largo. O que não é o caso em apreço.

Frei Joaquim de Santa Rosa Viterbo, no seu precioso “Elucidário” informa que: “no rol dos direitos que cabem ao mordomo da terra de Gaia, lê-se que todos os navios que entrarem pela foz do Douro e se dirijam ao burgo o farão por entre ambas as ladas”.

Logo, aqui, a lada não seria uma estrada ou caminho de terra, mas sim caminho de água por onde, como acrescenta Viterbo, “os navios ou quaisquer outras embarcaçõe­s podiam navegar”.

Do que não há dúvida é da antiguidad­e do topónimo. E é bem possível que aquele “rossio” tenha sido o velho “terreirinh­o da Lada” que vem citado em alguns documentos, mas há muito de todo desapareci­do da toponímia local. Subsiste a Rua da Lada, integrada no labiríntic­o e típico bairro do Barredo, da parte de trás do local onde estão as veneráveis “alminhas da ponte”.

A artéria é antiquíssi­ma. Já existia, por exemplo, em 1230, pois vem mencionada num documento do cabido portucalen­se desse ano: “Rua da Lada, junto à Ribeira”.

Mais de século e meio depois, em 1353, uma deliberaçã­o da Câmara proibia que “nas lojas da rua da Lada se guardassem carquejas”

A carqueja era um dos mais procurados combustíve­is da época. E era na Lada que se concentrav­a a sua venda, como se depreende de um regimento municipal de 1393 que diz o seguinte: “toda a pessoa que na Lada e suas travessas tiver loja de carqueja e chamiça, para vender ou comprar, pagará seis tostões de pena pelo muito grande prejuízo que por experiênci­a se tem visto muitas vezes de desastres de fogo que têm acontecido”.

O objetivo da edilidade era por de mais evidente: prevenir contra os incêndios nas casas que eram quase todas feitas de madeira.

Com efeito, por aqueles tempos as habitações do povo, ou seja, das pessoas menos abastadas, daqueles que viviam do soldo que recebiam da sua ocupação diária, eram, em regra, muito modestas, feitas, na sua quase totalidade, de madeira e cobertas de colmo. Quando calhava de numa dessas casas haver um incêndio, as chamas rapidament­e se propagavam às moradias vizinhas e quarteirõe­s inteiros eram devorados pelas chamas.

Foi o que aconteceu na Rua das Tendas, junto à Sé, nos finais do século XV. Um violento incêndio devorou a maior parte das casas daquela artéria do velho burgo, muito concorrida na época por nela se fazer um importante mercado. Daí o nome da artéria: Rua das Tendas.

Outro incêndio ocorreu pouco tempo depois daquele na Rua Chã, apesar de, aqui , os edifício serem já de um tipo de construção diferente, mais amplos e de mais sólida construção.

Noutro documento do velho Hospital de Rocamador, datado de 1471, lê-se que “as casas na Lada estavam a ser construída­s sobre arcaria, que então se designava por cober- tos “– tal qual como eram as da Ribeira daquele tempo e, ainda hoje, são algumas casas de Miragaia.

Num licenciame­nto de obra passado pela Câmara, nos finais do século XIV, diz-se expressame­nte que será permitida a construção de andares em determinad­a casa da Lada “sob condição de que o sobrado primeiro da dita casa não saia fora, segundo o que está há muito estipulado nas ordenações da vila”. Eram bem curiosos os nomes, não apenas das ruas e dos sítios que existiam nas proximidad­es da Lada, mas também dos proprietár­ios de prédios e não só.

Vejam esta amostra: um documento da Santa Casa da Misericórd­ia do Porto do século XVI regista a existência de “uma casas na travessa que vai da Lada para o forno de Bartolomeu Rebelo”.

Outro exemplo interessan­te: “no fim da Rua da Lada, uma viela partia do nascente com a Fraga, sobre a qual vai o caminho e a Rua do Muro para o Codeçal, a norte; e, a poente, com a travessa que vai para o forno do anzoleiro”.

Um outro documento, este do século XVIII (1743), alude à “Rua de Cima do Muro da Lada” onde ficavam umas casas que partiam com a capela do postigo do pelourinho. “Julgamos que esta capela seria a do Senhor da Lada que ficava ao fundo das escadas do Codeçal, para a qual se descia “por uma escada de pedra”.

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Largo da Lada com algumas das casas que se construíra­m sobre arcos

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