100 DIAS Da euforia à contenção
Costa apostou em Lisboa como reduto estratégico contra Governo, mas plano começa a falhar Incógnita quanto à permanência na Autarquia
Costa comparou a sua gestão financeira na capital com a do país, para demonstrar a incapacidade do Governo. Mas, há 100 dias na liderança do PS, são já vários os casos que penalizam a imagem que cultivou.
Escolher entre permanecer na Câmara de Lisboa, o único palco mediático com que conta perante a ausência parlamentar e televisiva, ou focar-se em apresentar medidas alternativas ao Executivo de Passos Coelho, é na primeira que António Costa aposta, desde que chegou à liderança do PS.
Foi o socialista quem estabeleceu como trunfo a sua gestão financeira da Autarquia, em contraponto com o aumento da dívida nacional pelo Governo PSD/CDS – que até pagou à Câmara pelos terrenos do aeroporto 300 milhões de euros.
Só que a concertada oposição municipal e, acima de tudo, a realidade, ensombrada por casos mal percecionados pela opinião pública – como um perdão de taxas ao Benfica –, têm provocado sucessivos reveses em tal estratégia.
Considera o politólogo José Fontes, que a Câmara de Lisboa, “apesar de até nem ser o único espaço de ação de Cos- ta”, “é o único em que exerce Governo e pelo qual pretende ser criticado positivamente”. “Todavia, no último tempo, em nada o favorece”, aponta.
Dos primeiros dias pós-primárias, em que muita água correu nas ruas de Lisboa, até ao encontro polémico com empresários chineses, onde como autarca se referiu às melhorias num país saído de um resgate, o político “estagnou”, descreve Fontes.
Tabu sobre saída
O socialista já avisou que o seu mandato na capital vai até 2017, mas continua sem especificar quando tenciona passar o testemunho a Fernando Medina, o seu número dois.
Aliás, foi este último que, há um mês, refreou algumas perspetivas que davam conta que isso poderia acontecer em meados de maio, ao dizer numa entrevista ao jornal “Económico” que Costa só “deixará de ser presidente da Câmara Municipal quando for nomeado primeiro-ministro”.
Quanto tempo mais aguentará Costa ser escrutinado simultaneamente por episódios tóxicos relacionados com a capital, como aqueles com que tem sido confrontado, e pela falta de propostas alternativas ao Governo, é uma questão a que uma dirigente próxima do socialista respondeu, ao JN, com “até junho haverá novidades”.