Uma semana depois Cavaco justifica polémica com eleições
Presidente diz que já lhe cheira a campanha para as legislativas, mas a Oposição atacou as declarações
CAVACO SILVA apoiou-se ontem na sua “muita experiência” política para classificar de “jogadas político-partidárias”, que “já cheiram a campanha eleitoral”, a polémica em torno da dívida de Passos Coelho à Segurança Social e o facto de permanecerem dúvidas em torno do seu relacionamento com o Fisco e a Segurança Social.
O caso foi divulgado pelo “Público” há uma semana, mas só ontem, à margem da celebração dos 125 anos da Unicer, Cavaco Silva se pronunciou sobre o assunto, para o desvalorizar e apelidar de “lutas político-partidárias”, nas quais “um presidente da República de bom senso não deve entrar”, tanto que o próprio Passos Coelho deu-lhe “as explicações que entendia dever dar”.
O chefe de Estado pôs, assim, de parte qualquer altera- ção ao normal funcionamento das instituições, aventada pelo PCP, que ontem voltou à carga: Cavaco Silva demonstrou o seu total apoio ao Governo, “tal como tem feito ao longo dos últimos três anos”. Além disso, não só desdramatizou a questão, como deu “um ralhete àqueles que levantaram o problema, designadamente por via da Comunicação Social que, de uma forma fundamentada e séria, colocou o problema”, disse Jerónimo de Sousa.
Também António Costa, à “SIC”, classificou de “infelizes” as declarações de Cavaco, que “não só justificou” a atuação de Passos Coelho como “culpou os outros” pela existência das dívidas, ao “desviar para a Oposição as responsabilidades exclusivas” do primeiro-ministro. Costa não chegou, contudo, a pedir a demissão de Passos, dizendo que a questão “está nas mãos dos portugueses”. Ontem, Passos continuou debaixo de fogo. Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, exigiu que mostre o registo de contribuições para a Segurança Social e Fisco antes do debate quinzenal de quarta-feira. Arménio Carlos, da CGTP, disse que Passos “faz da mentira a sua dama de companhia” e não tem “condições políticas, éticas e morais para governar”.
PSD reage
A demissão de Passos foi totalmente afastada pelo presidente do grupo parlamentar do PSD, Luís Montenegro. “Era o que faltava” que “um cidadão que não deve nada à administração, que cumpriu as suas obrigações (...) deixasse de cumprir um mandato claro e inequívoco que o povo lhe atribuiu”, afirmou. Já Matos Correia, vice-presidente do partido, admitiu que o primeiro-ministro dê explicações no Parlamento.
“ERA O QUE FALTAVA”, QUE PASSOS COELHO SE DEMITISSE, DISSE LUÍS MONTENEGRO