PAULA CORREIA UMA DELEGADA IMPEDIDA DE ENTRAR NO CAMPO
O CAMPO PELADO está dividido a meio. De um lado, estão a treinar os juniores, do outro o treinador já prepara as marcações onde vai trabalhar a equipa sénior. Paula Correia conhece bem os cantos à casa. Vive perto do Campo do Outeiro, em Paranhos, no Porto, onde o Sporting Clube da Cruz resiste ao tempo e às dificuldades de quem está mergulhado na 2.ª Divisão Distrital da A. F. Porto. Mas Paula não é apenas uma simples adepta. É diretora do clube e delegada aos jogos há 11 anos. Senta-se no banco de suplentes, trata das substituições e ajuda a planificar a época.
“Não, não é difícil ser mulher no futebol distrital”. Mas, no início, quando era pouco conhecida no meio, viveu momentos caricatos: “Uma vez, as pessoas de um clube não me queriam deixar entrar no campo, porque não se acreditavam que uma mulher fosse para o banco. Pensavam que o meu cartão estava falsificado”. Não estava, era mesmo verdadeiro. Também no início sofreu para resistir aos apupos dos adeptos: “Nos jogos fora de casa sou mais insultada pelas mulheres do que pelos homens. Nessa altura, tudo o que ouvia fazia-me uma enorme confusão e cheguei a chorar no balneário”. E os árbitros? “Achavam estranho, mas nunca tive problemas”. E os jogadores? “Sempre fui respeitada”.
Paula Correia, 40 anos, assistente de consultório médico, começou por ser dirigente do Sporting Clube da Cruz por força das circunstâncias. O pai levava-a a ver os jogos, o gosto pelo futebol era muito, a paixão pelo clube enorme e o presidente convidou-a a ser delegada. Aceitou o desafio. “Ser dirigente é algo que me fascina”. Por isso, sacrifica domingos em prol de uma causa. “O Cruz faz parte da minha vida. Se um dia acabasse, uma parte de mim morreria”. E como na quinta-feira faz anos, a melhor prenda seria ver a Câmara do Porto a ajudar aquela coletividade quase centenária: “Precisamos muito de um campo com melhores condições”.