Jornal de Notícias

Salgado acusado de arruinar banco clientes e investidor­es

Auditoria entregue no Parlamento revela suspeitas de desvios de dinheiro do BES Angola Portas e presidente do BPI perguntam como é que a troika não deu por nada

- Alexandra Figueira e Gina Pereira politica@jn.pt

Auditoria ao Espírito Santo e BES Angola mostrou um descontrol­o generaliza­do e revelou que os seus responsáve­is tiravam dinheiro da conta que o banco angolano tinha em Portugal. Há suspeita de atos danosos.

Agestão de Ricardo Salgado no Banco Espírito Santo (BES) é arrasada na auditoria forense à relação entre o banco e o BES Angola (BESA). Salgado deverá ser confrontad­o com as conclusões da Deloitte e da Rebelo de Sousa, amanhã, na comissão parlamenta­r.

A lista de incumprime­ntos estende-se ao longo de 46 pontos. O relatório de conclusões da Auditoria Especial atesta que entidades e pessoas “mencionada­s nos meios de comunicaçã­o como tendo ligações a responsáve­is do BES e/ou BESA” iam buscar dinheiro à conta que o banco angolano tinha no português. Entre os nomes noticiados, estão os de Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires (o administra­dor financeiro que Salgado propôs para liderar o BES) e Álvaro Sobrinho, presidente do BESA.

Para confirmar quem recebeu o dinheiro e através de que contas, ontem, o Bloco de Esquerda entregou um requerimen­to ao Parlamento pedindo que o BES, Deloitte e Banco de Portugal facultem as mensagens trocadas através da rede de comunicaçõ­es SWIFT, onde estas ordens são transmitid­as.

Depositant­es e acionistas

O relatório fala de um descontrol­o total no relacionam­ento financeiro entre os dois bancos. O BES dava crédito ao BESA sem limite, sem avaliar o risco nem confirmar o destino do dinheiro, como o caso de 1,5 mil milhões de dólares que, supostamen­te, seriam usados para comprar dívida do Estado angolano.

A falta de supervisão prolongou-se mesmo quando o banco angolano não pagava os juros devidos, nem cumpria as reservas de capital mínimas impostas pelo banco central de Angola.

O descontrol­o na exposição do BES ao banco angolano era tal, que os auditores admitem que, “caso sejam apurados factos adicionais”, poder-seá estar perante “a prática de atos dolosos de gestão ruinosa, em detrimento dos depositant­es, investidor­es e demais credores”, cometidos pelos administra­dores do BES com o pelouro do BESA. Não foram especifica­das responsabi­lidades criminais.

Salgado soube em 2012

Mas ficou claro que as operações com o BESA não eram controlada­s ou avaliadas por Portugal. Às inúmeras falhas e lacunas do sistema de auditoria interna do angolano, a Deloitte somou o facto de o português não tomar quaisquer medidas para o corrigir, nem quando estavam em causa controlos contra o branqueame­nto de capitais.

Em 2012, Salgado participou numa assembleia de acionistas do BESA onde foram discutidos problemas financeiro­s, mas a Deloitte não encontrou provas de que tenha levado o problema à comissão executiva ou à administra­ção do BES. Apesar disso, os administra­dores sabiam da evolução financeira, mas ouviam dos “administra­dores do BES com o pelouro do BESA” que “a situação estava controlada”. Alguns souberam, ainda em outubro de 2013, das negociaçõe­s com Angola para a concessão de uma garantia.

Em todo o caso, os indícios eram “suficiente­mente fortes” para levantar suspeitas de um “potencial impacto negativo relevante nos resultados do BES”.

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Ricardo Salgado volta amanhã a ser ouvido na comissão de inquérito
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VÍTOR RIOS / GLOBAL IMAGENS

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