Salgado acusado de arruinar banco clientes e investidores
Auditoria entregue no Parlamento revela suspeitas de desvios de dinheiro do BES Angola Portas e presidente do BPI perguntam como é que a troika não deu por nada
Auditoria ao Espírito Santo e BES Angola mostrou um descontrolo generalizado e revelou que os seus responsáveis tiravam dinheiro da conta que o banco angolano tinha em Portugal. Há suspeita de atos danosos.
Agestão de Ricardo Salgado no Banco Espírito Santo (BES) é arrasada na auditoria forense à relação entre o banco e o BES Angola (BESA). Salgado deverá ser confrontado com as conclusões da Deloitte e da Rebelo de Sousa, amanhã, na comissão parlamentar.
A lista de incumprimentos estende-se ao longo de 46 pontos. O relatório de conclusões da Auditoria Especial atesta que entidades e pessoas “mencionadas nos meios de comunicação como tendo ligações a responsáveis do BES e/ou BESA” iam buscar dinheiro à conta que o banco angolano tinha no português. Entre os nomes noticiados, estão os de Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires (o administrador financeiro que Salgado propôs para liderar o BES) e Álvaro Sobrinho, presidente do BESA.
Para confirmar quem recebeu o dinheiro e através de que contas, ontem, o Bloco de Esquerda entregou um requerimento ao Parlamento pedindo que o BES, Deloitte e Banco de Portugal facultem as mensagens trocadas através da rede de comunicações SWIFT, onde estas ordens são transmitidas.
Depositantes e acionistas
O relatório fala de um descontrolo total no relacionamento financeiro entre os dois bancos. O BES dava crédito ao BESA sem limite, sem avaliar o risco nem confirmar o destino do dinheiro, como o caso de 1,5 mil milhões de dólares que, supostamente, seriam usados para comprar dívida do Estado angolano.
A falta de supervisão prolongou-se mesmo quando o banco angolano não pagava os juros devidos, nem cumpria as reservas de capital mínimas impostas pelo banco central de Angola.
O descontrolo na exposição do BES ao banco angolano era tal, que os auditores admitem que, “caso sejam apurados factos adicionais”, poder-seá estar perante “a prática de atos dolosos de gestão ruinosa, em detrimento dos depositantes, investidores e demais credores”, cometidos pelos administradores do BES com o pelouro do BESA. Não foram especificadas responsabilidades criminais.
Salgado soube em 2012
Mas ficou claro que as operações com o BESA não eram controladas ou avaliadas por Portugal. Às inúmeras falhas e lacunas do sistema de auditoria interna do angolano, a Deloitte somou o facto de o português não tomar quaisquer medidas para o corrigir, nem quando estavam em causa controlos contra o branqueamento de capitais.
Em 2012, Salgado participou numa assembleia de acionistas do BESA onde foram discutidos problemas financeiros, mas a Deloitte não encontrou provas de que tenha levado o problema à comissão executiva ou à administração do BES. Apesar disso, os administradores sabiam da evolução financeira, mas ouviam dos “administradores do BES com o pelouro do BESA” que “a situação estava controlada”. Alguns souberam, ainda em outubro de 2013, das negociações com Angola para a concessão de uma garantia.
Em todo o caso, os indícios eram “suficientemente fortes” para levantar suspeitas de um “potencial impacto negativo relevante nos resultados do BES”.